Cannes Lions | Entrevista com Sergio Mugnaini, CCO Ogilvy Brasil
31 de Maio de 2023

Cannes Lions | Entrevista com Sergio Mugnaini, CCO Ogilvy Brasil

O prêmio é a única forma de elevar a barra de qualidade da indústria publicitária.

O AcontecendoAqui está publicando uma série de entrevistas com os brasileiros selecionados para o corpo de jurados do 70º Festival Internacional de Criatividade que será realizado de 19 a 23 de junho de 2023, na cidade de Cannes, França.

Os 26 jurados foram convidados para esta série. Publicaremos entrevistas individuais com eles. A programação prevê a conclusão na série às vésperas do início do Festival.

 

Conheça os jurados brasileiros que já compartilharam suas expectativas com a Comunidade AcontecendoAqui

Rodrigo Almeida, diretor Executivo de Criação da AlmapBBDO, que julgará a Categoria Lions Innovation

Gabriela Rodrigues, head de Cultura e Impacto na Soko, que vai julgar a Categoria Creative Strategy

Gian Rocchiccioli, sócio da Pande Design, será jurado na Categoria Designs Lions

Heloísa Santana, presidente da AMPRO – Marketing Promotional Association

Lucas Sfair, diretor da Produtora de Áudio Canja, será jurado de Radio e Audio Lions

Anna Brockes, diretora de Criação na Accenture Song

 

Hoje, nossa conversa é com Sérgio Mugnaini, CCO Ogilvy Brasil.

Formado em Comunicação no Brasil,  Sérgio completou seus estudos na School of Visual Arts de Nova York e mestrado na Berlin School of Creative Leadership na Alemanha. Ele tem passagens em agências no Brasil e nos EUA. Em sua carreira, ele conquistou 25 Leões em Cannes, além de uma série de prêmios nacionais e internacionais. Tem uma presença constante nos júris mais relevantes de comunicação e faz parte da IADAS, International Academy of Digital Arts and Sciences.

 

 

Qual é a sensação em fazer parte da equipe de jurados brasileiros do Cannes Lions 2023?

A sensação que estou é, como pode-se imaginar, de reconhecimento de um trabalho feito ao longo de vários anos de profissão. De entender que, vale a pena trabalhar em algo que adora, e ser selecionado em 2023 para julgar um prêmio tão especial em uma categoria de Digital Craft é excelente. Principalmente, em um ano onde o mundo se transformou novamente do ponto de vista de tecnologia, e também com a chegada forte da inteligência artificial em diferentes esferas. A sensação também é de frio na barriga, e de estar curioso para ver e conhecer o que eu ainda nem imagino. E claro, também de; escutar, aprender, e a honra fazer parte desse juri tão especial.

 

Qual é o aprendizado ou troca de experiências que você imagina ter lá comriativos de diversos cantos do mundo?

Eu espero ver algo mais do que o novo, algo que me ajude a transformar o que eu faço para as marcas em algo tecnologicamente surpreendente, atemporal e marcante. A troca com o outro é fundamental para sairmos das nossas bolhas, cultura, vivência e aprendizado não pede individualidade. Todos temos algo para compartilhar e aprender. E por isso, as trocas com os criativos de diferentes cantos do mundo, é necessária.

 

O Festival passou por grandes reformulações em tempos recentes, assim como todo o ecossistema da Comunicação. Na sua opinião, qual a relevância do Cannes Lions – como festival – e como articulador maior da comunidade criativa global?

Nos últimos anos, algumas marcas e serviços endereçaram muito propósito aos trabalhos tentando aumentar mais ainda a relevância das suas ações. Mais do que produtos, pessoas se relacionam com marcas que se identificam, e, faz muito sentido que as empresas abracem temas diversos para manter uma conversa plural e não singular. E isso não é diferente no Cannes Lions. As peças premiadas celebram a relevância para o mundo atual.

 

O que você espera ver em termos de campanhas inscritas em todo o Festival e, especialmente, na Categoria que você vai julgar?

As expectativas para o juri de Digital Craft este ano estão muito altas, principalmente pelo fato que recentemente, o mundo se transformou tecnologicamente em uma velocidade muito acelerada. Inteligência Artificial passou a ser um assunto frequente nos tabloides, ChatGPT passou a ser questionado em alguns países e novas profissões inventadas em segundos pelo mundo afora devido à automação da IAs, colocando em cheque alguns profissionais e profissões. E todas essas mudanças de atitude das pessoas influenciaram o jeito com que as pessoas se comunicavam e se relacionam com marcas no campo da comunicação. Espero ver o novo para poder entender o amanhã, não deixando de julgar como nós já chegamos até aqui.

 

Pensando além da criatividade, o que você espera ver em termos de conteúdo?

Espero ver o novo para poder entender o amanhã, não deixando de julgar como nós já chegamos até aqui em termos de criatividade. O mundo está sempre em constante evolução, e em paralelo às novas tecnologias e o comportamento das pessoas em relação às marcas acompanham essa mudança.
Nos últimos anos as pessoas exigiram mais mensagens com cunho soci al, algo além do produto, algo que entregasse propósito, eu espero agora ver como esse conteúdo se adaptou junto a tecnologias e de que forma podemos continuar entregando para as pessoas propósito, evolução tecnológica e mensagem simultaneamente.

 

Como o Brasil deve se posicionar como hub criativo? Na sua opinião, o que é feito aqui tem relevância mundial?

O Brasil sempre se posiciona como uma potência criativa muito pelo jeito de trabalhar e de pensar nas soluções. Paralelo ao jeito que os brasileiros trabalham, existem insights culturais brasileiros que se tornam tendências no mundo moderno, sendo na música, comportamento, arte, empreendedorismo.

Definitivamente o Brasil tem um lugar de destaque e acredito que os brasileiros deveriam continuar pensar como brasileiros. Valorizando o que de melhor acontece no Brasil para o mundo.

 

Cite um grande trabalho da sua agência que vai concorrer Cannes neste ano.

Acredito que um trabalho que orgulha o time todo da Ogilvy Brasil é o projeto da LEA (link com mais detalhes sobre o projeto. Assista ao filme:

O projeto feito para Kotex, Intimus e conta a história de uma das primeiras árbitra do mundo – banida do futebol devido à menstruação.
O futebol ainda é visto por muita gente como um esporte exclusivamente masculino, onde a desigualdade de gênero e o preconceito persistem dentro e fora dos campos. Mas em 2022, um marco aconteceu: 6 mulheres arbitraram partidas no Mundial masculino pela primeira vez na história. Uma longa jornada que começou há 55 anos com uma brasileira: Lea Campos – que foi proibida de arbitrar por estar menstruada. Durante o evento mais importante do futebol, quando as atenções do mundo todo estavam voltadas para os homens em campo, a Kotex conquistou o público com a história de Lea Campos, lançando um curta-metragem baseado em sua luta real contra o preconceito no futebol.

 

O que é mais importante em Cannes? Ganhar um leão, palestras, conhecer pessoas?

Creio que ganhar um leão. Conquistar um troféu em Cannes é realmente algo difícil, mas isso não deve desestimular ninguém. O prêmio é a única forma de elevar a barra de qualidade da indústria publicitária. Quanto mais difícil a conquista, mais alto é o valor. As estatísticas provam que ser premiado com um troféu no maior festival de criatividade do mundo é, de fato, uma conquista para poucos: apenas 0,07% do total de peças inscritas conseguem o feito de ganhar um Grand Prix.

E não é apenas o Grand Prix que está distante dos sonhos da maioria dos que se inscrevem no Festival. As estatísticas dos Leões de Ouro, Prata e Bronze também mostram que a seletividade do júri segue alta, em relação à quantidade total de inscrições em Cannes, o percentual de trabalhos que serão contemplados com Leões é sempre pouco superior a 1%.

Não há uma fórmula para ganhar Leões, mas uma boa indicação é não criar peças pensando nesta premiação, mas sim pensar em um conteúdo que tenha uma proposta para a marca, para a agência e para sociedade que consome aquele conteúdo no final. Se existir essa proposta, o primeiro passo para o sonho da premiação já é dado.

 

O que não falta na sua bagagem para Cannes?

Outra mala dentro da mala e um chapéu. A mala para trazer tudo que se aprende e vê. Para trazer as descobertas. E o chapéu? Para proteger do Sol na Boulevard de la Croisette.