Todos os anos, o dia internacional da mulher marca um momento de reflexão para a sociedade, uma forma de analisar até que ponto a participação da mulher nos mais amplos espaços da humanidade está sendo efetivamente realizada, ou o quão distante estamos de uma efetiva igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Cabe lembrar que a origem desta data se deu no campo do trabalho, fruto de movimentos de mulheres em Nova York, em 1908, repercutindo em alguns países europeus, poucos anos depois. A data passou a ser oficializada pela ONU apenas em 1975. Este artigo, publicado em 2022 pela BBC Brasil, traz uma interessante reflexão sobre a importância desta data. Dentre os elementos apresentados, o que mais nos chama a atenção é a previsão de que, segundo órgão do Fórum Econômico Mundial, “o tempo necessário para acabar com a disparidade global de gênero aumentou em uma geração, de 99,5 anos para 135,6 anos”. Portanto, isto deixa claro que existe ainda uma grande trajetória a percorrer. Evidentemente, sendo uma previsão em nível mundial haverá discrepâncias entre as realidades dos diferentes países.
Esta pesquisa realizada pela ONU revela que menos de 1% da população feminina vive em países com alto índice de empoderamento feminino e alta performance em paridade de gênero. O estudo aponta ainda que apenas cerca de 8% das mulheres e meninas vivem em países com ambiente favorável à equidade, mas ainda assim não gozam de amplo poder e liberdade de escolha. Além de reformas necessárias, o estudo também recomenda maior equidade no acesso à educação e mais investimentos para empoderar mulheres e meninas na era digital. A equidade de salários, os arranjos flexíveis de trabalho para mães e pais e acesso a creches também são considerados essenciais.
Iniciativas de Empresas
Com a intensificação dos programas de ESG, as empresas estão cada vez mais ativas para promover a participação da mulher, sobretudo em seus quadros de liderança. Como exemplos a mencionar, citamos a Petrobrás. Este relatório publicado pela FUP/DIEESE, intitulado “A presença feminina na Petrobrás e no setor de petróleo e gás natural brasileiro”, indica que apesar do número total de mulheres na empresa ter permanecido praticamente estagnado em uma década (2012-2022), já a presença nos cargos de chefia ocupados por mulheres aumentou, atingindo 19,4%.
Já a EMBRAER pretende aumentar a participação de mulheres nas posições de liderança para 20% até 2025. Apesar de alguns considerarem ainda baixa esta meta, é importante mencionar que este setor ainda tem maior participação masculina no geral.
Outro setor do ramo industrial de grande impacto, a Mineração, tem realizado ações para ampliar a participação da mulher. A VALE anuncia, na sua ação Mineração Por Elas iniciada na pandemia, a meta de dobrar a representatividade de mulheres até 2030.
Politica Governamental
No Brasil, o ano de 2023 marcou a publicação da LEI 14.611 visando a “A igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens”. Entre as diferentes medidas, a Lei estabelece a obrigatoriedade da publicação semestral de relatórios de transparência salarial e de critérios remuneratórios pelas pessoas jurídicas de direito privado com 100 (cem) ou mais empregados.
Quais medidas adotar
Do ponto de vista conceitual, considero que já se sabe o que fazer há muito tempo. Por exemplo, o Instituto Ethos publicou vinte anos atrás o documento “O Compromisso das Empresas com a Valorização da Mulher”. Este texto aborda a participação feminina no mundo do trabalho e no mercado consumidor, apresenta indicadores de desigualdade, perfil de ocupação, a condição da mulher negra, o trabalho doméstico das meninas e outros problemas. Embora não seja exclusivamente brasileiro, o documento destaca a importância de valorizar, reconhecer e empoderar as mulheres no ambiente corporativo e além. A publicação mostra as relações existentes entre a valorização das mulheres e o enfrentamento da pobreza, apontando os vínculos entre as ações de responsabilidade social empresarial voltadas para a promoção da eqüidade de gênero e a realização das Metas do Milênio e dos princípios do Pacto Global. O texto traz também um conjunto de propostas para as empresas que queiram aprofundar suas políticas de responsabilidade social nesse sentido, mostrando um conjunto de ações voltadas para promoção da igualdade de condições entre homens e mulheres.
Uma Questão de Atitude
Então, você pode estar se perguntando, se tantas organizações em diferentes esferas, nacional ou internacional, público ou privado, apontam para a importância deste princípio, por que ainda vivemos nesta realidade tão distante?
Obviamente, esta é uma questão por demais complexa, e não se tem aqui qualquer pretensão de responder este questionamento.
Por outro lado, entendo que a evolução deste cenário passa por uma nova atitude de todos, principalmente dos homens que ainda ocupam as principais posições de liderança. Uma nova forma de pensar deve emergir, e ser refletida em ações.
Como demonstração do nosso apreço por este princípio, faço questão de citar aqui as treze Mulheres Inspiradoras que tive oportunidade de entrevistar nesta coluna de carreira com seus respectivos temas: Ninna Granucci (Empreendedorismo Internacional), Susana S. Zaman (Maternidade nas Empresas), Maíra de Oliveira (Diversidade e Inclusão), Leila Navarro (Desenvolvimento Pessoal), Magda de Paula (Liderança nas Empresas), Daniela Diniz (Great Place To Work), Lúcia Mees (Cidades Inteligentes), Cristina Reis (Governança), Alessandra Holmo (Parcerias Internacionais), Flavia da Veiga (Felicidade e Consciência), Yoon Kim (Sustentabilidade), Marcia Percival (Recolocação no Exterior) e Danilca Galdini (Insights sobre Carreiras dos Sonhos). Cabe salientar que a coluna completa neste mês apenas dois anos.
Uma Conexão Mais Profunda
Muito além da questão do trabalho, do acesso às condições de saúde e educação, a igualdade de direitos entre homens e mulheres enseja uma conexão mais profunda, embora não tão reconhecida pela maior parte de população. Neste sentido, transcrevo aqui trecho do documento A Promessa da Paz Mundial, publicado pela Comunidade Baha´i, há quase quatro décadas.
“A emancipação da mulher – a concretização da plena igualdade entre os sexos – é um dos pré requisitos mais importantes, embora dos menos reconhecidos, para o estabelecimento da paz. A negação dessa igualdade perpetra uma injustiça contra metade da população do mundo, e promove entre os homens atitudes e hábitos nocivos que são transportados do ambiente familiar para o local de trabalho, para a vida política, e, em última análise, para a esfera das relações internacionais. Não existem quaisquer fundamentos morais, práticos ou biológicos que justifiquem essa privação. Só quando as mulheres forem bem recebidas em todos os campos de atividade humana, em condições de igualdade, é que se criará o clima moral e psicológico do qual poderá emergir a paz internacional.”
Desejo que este texto tenha sido útil a você, e que possa gerar reflexões, tanto individuais e quanto coletivas, em sua esfera de ação, seja ela qual for, para que possamos contribuir ativamente para uma sociedade mais equitativa entre homens e mulheres.
Que os exemplos de carreiras inspiradoras das mulheres que entrevistei sirvam como sementes para mentes e corações de homens e mulheres.
Caso você conheça alguma mulher que tenha uma carreira significativa e possa contribuir com mais temas, sinta-se à vontade para me sugerir como pauta, me contatando nas redes sociais.
Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo!
Abraço, Jonny
A imagem em destaque foi criada no DeepAi