Danilca Galdini é formada em Psicologia pela PUC-SP, diretora de DE&I da CIA de Talentos, e há mais de 20 anos coordena a pesquisa Carreira dos Sonhos. Nesta entrevista, Danilca nos fala sobre Liderança, Diversidade, Equidade e Inclusão nas organizações, compartilha insights sobre sua própra trajetória, e a experiência ao longo das duas décadas com a pesquisa. Por exemplo, você sabia que o papel do “Trabalho e Carreira” mudou drasticamente na opinião dos jovens nos últimos anos? Descubra sobre isto e muito mais nesta conversa.
Como sua formação em Psicologia influenciou sua trajetória profissional, especialmente no campo de Pessoas & Cultura e na liderança de pesquisas sobre carreiras? Quais decisões você considera que foram mais estratégicas no início de sua carreira que contribuíram para lhe levar ao momento atual?
A formação em psicologia foi – e ainda é – uma base importante para minha carreira. Foi durante a faculdade que comecei a me aprofundar sobre o papel do trabalho na vida das pessoas e sobre a construção da identidade profissional. Nesta mesma época, iniciei o estágio na Cia de Talentos e pude acompanhar desde projetos de orientação profissional até seleção para estágio, trainee, recém-formado e profissionais com experiência. Na prática, pude acompanhar os diferentes momentos da trajetória profissional, bem como as expectativas e receios que envolvia cada momento da vida. Acredito que teoria e prática precisam caminhar lado a lado, uma contribuiu para o aperfeiçoamento da outra e o mundo é complexo demais para ser apenas pensando ou apenas vivido, é preciso imaginar o futuro, mas agir para que ele possa virar presente.
A decisão mais estratégica no início de minha carreira foi investir no autoconhecimento, em entender meus valores, meus objetivos, minhas expectativas. Mas não apenas compreender, como também escolher trabalhar em um lugar em que eu pudesse vivenciar estes valores, aprofundar meu conhecimento e agregar para a construção de experiências mais positivas para as pessoas e para as organizações.
Outra decisão importante foi estar aberta para as múltiplas vivências e oportunidades. Experimentei diferentes atividades em diferentes áreas e isso foi fundamental para entender minhas competências, os caminhos possíveis e, o mais importante, sobre aqueles que não queria de forma alguma (porque às vezes é mais fácil definir o que não queremos).
Você ocupou cargos de liderança em empresas. Como essas experiências moldaram sua abordagem relacionada à liderança de Pessoas & Cultura e à condução de pesquisas significativas?
A liderança é um exercício permanente de aprendizado.
Ser líder não é só sobre dar direções ou fazer escolhas difíceis; é principalmente sobre entender as pessoas com quem você trabalha. Você começa a perceber que cada pessoa tem sua história, suas motivações e seus estilos de trabalho. E então é preciso ter uma abordagem atenta às necessidades individuais, ao mesmo tempo em que se busca alcançar os objetivos da empresa. Quando você lidera com esse entendimento, acredito que naturalmente cria um ambiente que valoriza o senso de pertencimento.
E sobre as pesquisas, bem, liderar times me mostrou a importância de ter dados confiáveis para tomar decisões. Isso me empurrou a conduzir pesquisas que realmente capturam o que está acontecendo, o que é valor para as pessoas, o que constrói experiências positivas no trabalho, o que apoia a liderança a fazer uma boa gestão. Não é só sobre números e estatísticas, é sobre entender as nuances do ambiente de trabalho e as experiências das pessoas para realmente entender como melhorar a vida no trabalho e a sustentabilidade dos negócios. E isso, no fim das contas, é bom para as pessoas e ótimo para os negócios.
Consta que você foi sócia-diretora da Nextview People, que desenvolvia entre outras atividades a pesquisa carreira dos sonhos, como foi a transição entre esta função para integrar a equipe da CIA de Talentos? O que lhe motivou neste movimento?
Construí minha carreira na Cia de Talentos, comecei como estagiária de recrutamento e seleção, mas sempre tive oportunidade de participar de diferentes projetos que contavam com múltiplas metodologias e atuei com orientação profissional, com seleção, com desenvolvimento de pessoas. Ao me formar sabia o que não queria fazer, mas ainda não tinha certeza sobre qual caminho seguir porque eram muitos e todos cheios de possibilidades. Escolhi ficar na Cia de Talentos e experimentar os desafios de uma consultoria de recursos humanos e paralelo a minha atuação, me envolvi com alguns projetos de pesquisa da empresa. Na época eu fazia mestrado e já havia participado de algumas iniciações científicas, então rapidamente assumi a responsabilidade por os estudos sobre carreira da Cia de Talentos.
Minha transição para a Nextview People aconteceu ao mesmo tempo em que a área de Recursos Humanos ganhava relevância e espaço para ocupar um papel mais estratégico. Neste cenário, dados confiáveis para tomar decisões sobre pessoas tornaram-se essenciais e tomamos a decisão de iniciar uma empresa focada em pesquisas com foco em gestão e desenvolvimento de pessoas.
Após alguns anos de operação, entendemos que trazer a Nextview People para dentro da Cia de Talentos ampliava nossa atuação, então desde 2016 voltei para empresa na qual iniciei minha carreira.
No seu atual papel, você lidera iniciativas relacionadas a Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Com sua experiência, como as organizações podem promover eficazmente ações de DE&I em seus ambientes de trabalho?
Promover a diversidade, equidade e inclusão (DE&I) em ambientes de trabalho é uma tarefa contínua que requer comprometimento em todos os níveis da organização. Além de ter uma liderança engajada, é preciso ter clareza sobre a maturidade da organização para tratar o tema e uma estratégia alinhada com os objetivos gerais do negócio. Outro ponto relevante é trabalhar não apenas a diversidade da equipe, mas a inclusão e o senso de pertencimento.
Em 2023, a pesquisa “carreira dos sonhos” completou 22 anos. Quais são as descobertas mais surpreendentes ou significativas que você e sua equipe identificaram ao longo desses anos, em relação às expectativas de carreira dos diferentes públicos?
Ao olharmos estes 22 anos de estudo chama atenção a relevância que desenvolvimento e aprendizado têm para as pessoas, em especial para o público jovem, já que desde 2011 é o principal motivo da escolha da empresa dos sonhos. Organizações que estimulam e oferecem ambientes que favorecem o desenvolvimento pessoal e profissional são valorizadas porque, em última instância, apoiam a empregabilidade das pessoas.
Como a pesquisa “carreira dos sonhos” contribuiu para influenciar positivamente a sociedade em termos de orientação de carreira e desenvolvimento de talentos?
Existem cases ou insights que você pode compartilhar sobre o impacto dessa pesquisa?
Tudo na vida é uma jornada, uma construção feita a partir de escolhas e suas consequências. A pesquisa Carreira dos Sonhos não foge à regra, também é construída no dia a dia, em meio a possibilidades, alternativas, critérios, desejos, sonhos e realidade. Planejamos nossa trajetória e queremos que ela seja marcada pela transformação, pela capacidade de aproximar o hoje do amanhã, de fazer possível a travessia entre o que é e o que será.
Queremos fazer parte da transformação do mundo e escolhemos começar potencializando as relações profissionais e a construção de uma jornada de carreira marcada por boas experiências e muito aprendizado para todos nós. A pesquisa traz à tona dados relevantes sobre a expectativa das pessoas sobre o mundo do trabalho, o que possibilita decisões estratégicas que favoreçam pessoas e negócios.
Em relação à última edição da pesquisa “Carreira dos Sonhos”, quais movimentos foram considerados relevantes na pesquisa? Poderia explicar por que foram relevantes?
Na pesquisa desde ano identificamos três movimentos relevantes:
A qualidade de vida agora lidera as preocupações de 56% das pessoas, impactando diretamente a imagem da empresa e a gestão de talentos. O lugar que “Trabalho e Carreira” ocupa nas prioridades caiu para quarto entre o público jovem, um contraste gritante com 2016, quando 67% viam o sucesso profissional como seu principal objetivo.
A busca pelo empoderamento individual. Em um cenário em que o futuro se torna cada vez mais incerto, as pessoas voltam seu olhar para si mesmas em busca de estabilidade e propósito em suas vidas. As pessoas querem fazer algo a mais para elas e por elas.
O foco no letramento emocional. Nos últimos anos vivemos simultaneamente múltiplas crises (saúde, social, econômica e climática), mudanças constantes, superestímulo de informação e expectativa de produtividade máxima. Este cenário acentuou a crise de saúde mental e forçou as pessoas a olharem para suas emoções. O letramento emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e expressar emoções de forma saudável e construtiva. Envolve a capacidade de lidar com os próprios sentimentos e também de reconhecer e responder adequadamente às emoções dos outros.
Ainda relativo à última edição, quais aspectos o público jovem mais valoriza na busca pelas empresas? E quais efeitos podem resultar quando estas características não são encontradas?
Conforme a conscientização sobre o bem-estar físico, emocional e mental cresce, as pessoas valorizam a liberdade de escolher de acordo com suas necessidades e valores para obter uma vida significativa. Esperam que o trabalho seja uma parte da vida e possibilite fazer o que gostam.
Com relação à empresa, a expectativa das pessoas é trabalhar em um lugar que tenha cultura de confiança e transparência, em que possam aprender o suficiente para se sentirem seguras sobre sua atuação e preparadas para enfrentar os desafios do futuro.
Diante deste cenário, as empresas precisam reformular suas estratégias de atração e engajamento de talentos para se alinharem com esses novos valores. Entender essa evolução é fundamental para as futuras dinâmicas do mercado de trabalho e para a tomada de decisões nas organizações.
Mais uma vez, muito grato por sua contribuição com nossa coluna de carreira. Acredito que os insights fornecidos serão valiosos ao nosso público. Qual seria sua mensagem final para esta entrevista?
Embora o trabalho não deva ocupar toda a vida, ele tem um espaço relevante no nosso dia a dia, o que torna essencial a busca por um trabalho significativo, que é aquele que, além de ser fonte de renda, proporciona um senso de realização e satisfação pessoal.
As pessoas encontram significado quando veem uma conexão clara entre o que valorizam e o que gastam tempo fazendo. Essa conexão nem sempre é óbvia, mas vale a pena investir no processo de descoberta.
Lições de carreira
Nesta entrevista, Danilca Galdini compartilha sua visão sobre vários temas muito relevantes. Sua experiência com a pesquisa Carreira dos Sonhos pode nos ajudar a redefinir o significado desta dimensão na trajetória profissional. Seus insights contribuem para inspirar tanto líderes que visam excelência, como aqueles que estão iniciando seu caminho na busca pelo propósito.
Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo!
Abraço, Jonny