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De Promotora de Justiça a Líder Empresarial em Sustentabilidade, conheça Yoon Kim.
12 de Setembro de 2023

De Promotora de Justiça a Líder Empresarial em Sustentabilidade, conheça Yoon Kim.

Uma Carreira Forjada na Coragem de Mudar

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Por Prof Jonny 12 de Setembro de 2023 | Atualizado 14 de Setembro de 2023

 

Yoon Jung Kim é nascida na Coreia do Sul, imigrando para o Brasil em 1990 com sua família. Ela é formada em Direito pela PUC-SP, tem MBA em Governança Corporativa, e especializações em Criminologia e Investigação Criminal, Sustentabilidade, Economia circular e regenerativa, e em programa internacional de Lei Anti-corrupção. Ela atuou como Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, e também foi Diretora Executiva de Compliance da Aegea Saneamento e Participações S.A. É co-fundadora do Mundo ESG, uma instituição dedicada a boa governança corporativa, capitalismo consciente e  alinhamento dos interesses socioambientais e econômicos.
Nesta ampla entrevista, Yoon Kim nos revela pontos de sua inspiradora jornada incluindo transição de carreira, busca de equilíbrio, questões culturais e muito mais.
Agradeço sua disposição em contribuir com nossa coluna sobre carreira.  Sua história é pontuada por situações muito marcantes, desde a imigração para o Brasil até ocupar funções de destaque no mundo corporativo. Quais decisões você considera que foram mais estratégicas no início de sua carreira que contribuíram para lhe levar ao momento atual?
Claro que grandes feitos demandam grandes decisões, mas penso que o principal fator que me levou a angariar grandes colocações, seja na esfera pública, como Promotora de Justiça, seja na iniciativa privada, ocupando cargos relevantes e estratégicos, como diretoria de integridade, jurídica e atualmente como membro de conselho, foi dar atenção ao que sempre pulsou dentro de mim, ao meu chamado e propósito às causas sociais.  Inicialmente, movida pelo medo, pensando mais na segurança de minha família, que se via vulnerável em um país tão diferente em vários aspectos, o que me impulsionou à carreira como Promotora de Justiça e, depois, com o objetivo de ampliar esse leque e olhar social, me vi em um momento de transição de carreira, quando precisava ir além daquilo que já havia feito e conquistado no Ministério Público de SP. Recebi, então, um novo chamado para atuar na iniciativa privada e angariar novos feitos, não somente em termos de carreira e desenvolvimento pessoal mas, principalmente, feitos atrelados ao meu propósito de vida, de impactar mais pessoas e negócios sob uma outra perspectiva.
Sua trajetória inclui uma transição significativa do Ministério Público, no qual atuou por mais de 15 anos, para o setor privado, onde também assumiu papéis de liderança. Quais foram os principais fatores que influenciaram sua decisão de buscar novos desafios e explorar áreas além do campo jurídico? E o que lhe levou a optar por uma carreira no setor privado?
Eu sempre me dei o direito de mudar, de ideias, principalmente, aquela menina de 23 anos, que ingressou no MP não era mais a mesma da mulher de quase 40 anos, época em que me exonerei do cargo de Promotora de Justiça. Então, passei a me questionar se eu não poderia estar em outro lugar, com toda essa bagagem. Algo forte começou a palpitar em meu coração e eu senti que era um novo chamado, eu queria quebrar padrões e mostrar que não devemos viver presos ao que não faz mais sentido, a sair de ciclos que se encerraram e que já cumpriram seu propósito. Em um mundo cada dia mais dinâmico e conectado, a mudança profissional deve deixar de ser um tabu. Além disso, como parte do novo chamado, eu queria trabalhar sob outra perspectiva, atuar de maneira preventiva, não mais repressivamente, como é o caso do Ministério Público. Vi no compliance o encaixe perfeito ao momento em que estava vivendo e ao que estava almejando. O MP faz parte da minha história e foi onde fui forjada e, graças ao meu background pude fazer parte do C-Level de uma grande companhia de saneamento básico e impactar a empresa em termos de valores corporativas e pessoais, impactando vidas, dos colaboradores e por onde passava e podia contar a minha história. Acredito que a liderança tem a ver com isso, influenciar pelo exemplo e conseguir potencializar o que cada um tem de melhor.
Comparado ao tempo em que atuou no MP, sua carreira na AEGEA, ocupando a Diretora Executiva de Compliance e em parte do tempo a Diretoria Jurídica da Águas do Rio, foi relativamente curta, pois você decidiu fundar a Mundo ESG. Poderia compartilhar mais sobre o processo de  decisão que a levou a deixar posição Diretoria na Aegea, especialmente após seu sucesso nesta empresa?
Ser um verdadeiro líder implica grandes responsabilidades, não é só sobre saber delegar funções, é sobre respeitar o limite de cada um, se importar e apoiar, do operacional ao emocional. Isso tudo, inevitavelmente, causa certa sobrecarga ao líder que precisa, também, de um recarregamento.
Em meio a um trabalho, antes de tudo, gratificante e fundamental para a nossa sociedade (em termos sociais e ambientais), há também horas e horas de dedicação, trabalho árduo e comprometimento total.
Quando decidi, mais uma vez, redirecionar a rota, me vi justamente neste cenário extenuante, o que, por consequência, acabou por me afastar além do convívio familiar, de mim mesma.
Era hora de pausar e reconectar.
Foi então que decidi ir à Europa sozinha, em busca de reconexão, descanso e respostas para os próximos passos.
Referente ao Mundo ESG, de forma breve, é resultado do encontro de propósitos entre 3 ex-promotores de justiça. Assim como eu, Fábio Galindo e Marcelo Zenkner, exoneraram-se do MP após um longo período de total dedicação à instituição com o sentimento de querer mais, atuar por uma outra via e priorizar a prevenção a repressão. Foi então que decidimos fundar o Mundo ESG, que funciona em um conceito cross media e tem como objetivo principal disseminar a cultura ESG, quebrar a bolha do mercado e atingir outros setores sociais também responsáveis pela elevação da justiça social e pelo respeito e preservação ao meio ambiente. Acreditamos na força da educação, da informação e da conscientização.
Sua dedicação atual aos temas de Governança Corporativa, ESG, Compliance e Mudança Climática é muito relevante. Como você considera a interseção entre esses tópicos e sua experiência prévia, e de que maneira pretende aplicar seus conhecimentos para enfrentar os desafios atuais e futuros?
A interseção entre o MP e esses temas atuais com os quais trabalho é bem clara para mim, pois estão ligadas à responsabilidade, ao olhar para fora de si mesmo e entender que fazemos parte de algo maior, que termos responsabilidades e que nossos comportamentos causam impactos em outras vidas e no meio ambiente, da mesma forma em que somos impactados por esse meio onde estamos inseridos.
As atribuições enquanto promotora de justiça eram de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, ou seja, a essência é justamente proteger direitos, cuidar dos mais vulneráveis, fiscalizar o cumprimento da lei, promover justiça e paz social.
Em se tratando de governança corporativa, a missão é gerar valor aos negócios, tangíveis e intangíveis, sem esquecer de gerar valor social também, conversar com a comunidade local, inserir as pessoas interessadas no negócio, engajar colaboradores e promover a conscientização sobre os dilemas e desafios socioambientais aos quais estamos inseridos e temos responsabilidade.
A educação não deve ser vista como um privilégio, mas como um direito humano, capaz de diminuir desigualdades sociais e tornar as pessoas mais conscientes em relação à nossa natureza, ao meio ambiente e à nossa própria finitude. Com isso em mente, o que eu busco, como consultora, palestrante, escritora, mentora e fundadora da plataforma Mundo ESG é, justamente, poder compartilhar conhecimento e experiências e elevar a conscientização social sobre os desafios que se apresentam nesses temas.
Conforme esta postagem, sua jornada incluiu uma pausa significativa para viagem pela Europa, onde você se permitiu viver sem uma programação definida. Como essa experiência impactou sua visão sobre equilíbrio, propósito e autodescoberta, e influenciou sua abordagem para buscar novos desafios?
Acho que, primeiramente, quando a gente se vê no limite da exaustão, tendemos a lembrar dos nossos objetivos e do que nos levou até ali. Desde a infância, quando trabalhava com meus pais, me via como uma pessoa proativa, que executa, faz o que deve ser feito, que coloca a mão na massa e resolve problemas de maneira ágil, isso tudo abre margem para que a gente se sinta capaz de aceitar novas atribuições, afinal, damos conta. Porém, quando nos damos conta, estamos em uma verdadeira imersão, longe de ser algo negativo, tanto minha carreira como promotora de justiça quanto o período em que fui Diretora de Integridade e por um período menor, Diretora jurídica, eu amei cada atividade e etapa, todas foram fundamentais para o meu desenvolvimento profissional. Mas a exaustão, o alto desempenho, a capacidade de desempenhar inúmeras tarefas, das mais simples às mais complexas não podem mais ser romantizadas, afinal, somos seres humanos.
A pausa serviu também para mais uma vez desmistificar esses aspectos. Eu estava no meu limite de exaustão e obviamente optei por fazer preponderar meus valores e minha saúde: reconectar comigo mesma e me manter próxima da minha família e amigos, especialmente de minha mãe, que não fala português e é dependente de mim.
Um de meus lemas é focar no momento: hora de trabalhar, trabalho duro. Hora de lazer, descanso e me divirto. Isso permanece, porém, respeitando meus limites.
O equilíbrio é fundamental e é um aspecto que devemos refletir e considerar, sem negligenciar o trabalho, a carreira e as atribuições, porém, sem negligenciar, também, a própria saúde física e mental e outros valores humanos, como a família, pilar espiritual, desenvolvimento intelectual e o nosso papel na comunidade em que estamos inseridos.
Além de sua carreira jurídica brilhante, você também teve experiências internacionais significativas, incluindo pesquisa na Coreia do Sul e um intercâmbio no Ministério Público daquele país. Como essas experiências enriqueceram sua compreensão das práticas jurídicas globais e influenciaram sua atuação no cenário brasileiro?
Sem dúvida experienciar um intercâmbio em um país como a Coreia do Sul que, apesar de ser meu país natal, não fez parte do meu desenvolvimento e não é a cultura adotada por mim, foi, antes de tudo, desafiador. Em uma perspectiva jurídica propriamente dita, os sistemas se diferem muito, o MP coreano, por exemplo, é menos autônomo, se comparado com o Ministério Público brasileiro; na Coreia, existe maior hierarquização dentro dessa instituição, diferente do Brasil, em que os membros possuem maior independencia e autonomia, inclusive não se subordina a nenhum dos poderes da República; além disso, outra grande diferença é quanto a abrangência de atuação, diferente daqui, lá é mais restrita à esfera penal.
Para além desses fatores, indubitavelmente, aspectos culturais se diferem bastante e nos convidam a uma reflexão, por exemplo, ainda que no país as mulheres tenham alcançado maior espaço no mercado de trabalho, se comparado com países ocidentais, ainda há muito o que progredir, existe ainda um tabu em volta da figura feminina, no sentido de ser responsabilidade da mulher os cuidados com o lar e educação dos filhos, é um aspecto que precisa ser superado, principalmente quando falamos em igualdade de gênero. Mas é um fator muito arraigado na cultura, de forma milenar, e se em outras partes do mundo a desigualdade de gênero já é uma barreira imensa, imagina em uma país como Coreia do Sul e Japão, por exemplo.
No mais, não há dúvida do quanto uma experiência imersiva em outro país pode ser enriquecedora para uma pessoa, especialmente quando diz respeito ao trabalho e carreira, certamente tentei extrair ao máximo tudo aquilo que poderia melhorar meu desempenho aqui no Brasil, enquanto promotora de justiça e implementar práticas que até então não tínhamos aqui.
Ser destacada como uma entre 20 profissionais de maior destaque na área jurídica pela Revista Newsweek sul-coreana é um grande feito. Como você considera que essa visibilidade impactou sua carreira e sua capacidade de promover mudanças positivas na sociedade?
Primeiro, o reconhecimento serviu como um atestado a mais de que o meu trabalho estava produzindo bons frutos, o reconhecimento sempre é muito bem-vindo e funciona como combustível para que continuemos na nossa jornada, que possui altos e baixos. Ser reconhecida por uma revista do meu país de origem causou uma emoção ainda maior. Mas tudo, no final do dia, serve de impulsionamento para que o trabalho continue sendo feito e que eu busque sempre me reinventar e fazer mais e melhor, agregar valor ao mundo. Além da motivação extra, o reconhecimento nos atribui um grau a mais de responsabilidade, os líderes sempre terão muitos olhares direcionados a eles e cabe a eles agirem com responsabilidade, sabendo que possuem influência não só em seus lideradors, mas em meio social também. Dentro e fora da companhia, o comportamento deve ser sempre coerente e íntegro.
Você gostaria de elaborar sobre algum ponto não explorado que considere relevante para aqueles que estão em transição de carreira? Qual seria sua mensagem final para esta entrevista?
Penso que quando falamos de transição de carreira, um sentimento comum é o medo. E aí eu retomo o início da entrevista. Quando eu decidi que seguiria carreira pública, foi pensando em maior segurança, para mim, minha família e às pessoas que me cercam.
Depois, quando decidi que exoneraria do MP e partiria para a iniciativa privada, embora estivesse convicta sobre minha decisão e os novos desafios que se apresentariam, o medo, receio, se fez presente, ainda que por alguns instantes.
O que eu quero deixar para a audiência é que: talvez a mudança que você deseja esteja do outro lado do medo.
Grandes decisões não vem de forma descarregada, sem nos tirar o sono, sem nos impor momentos de reflexões, autoanálise, ponderação… No entanto, autodesenvolvimento, sucesso profissional, aprendizado, realização e felicidade também são frutos de decisões que nos tiram do conforto e nos convidam a nos reinventar, lidar com novas questões e nos desafiar.
Falando especificamente sobre a questão profissional, o tempo em que se a pessoa cursava uma determinada faculdade e depois seguia a carreira correspondente àquela formação pelo resto da vida, acabou. Inclusive, será cada vez mais normal pessoas trocarem de profissão e atuarem em diferentes áreas.
Segundo especialistas, os jovens de hoje terão até 5 carreiras na vida – tudo devido às atualizações do mercado e às profissões que surgem com  a tecnologia.
O cenário é favorável à reinvenção profissional. Portanto, não se deixe paralisar pelo receio em trilhar uma nova jornada. Acredite em você, naquilo que te levou à transição e no seu propósito de vida, aliado a isso, se dedique a dar o seu melhor nas condições que tem, respeitando seus limites e seus valores.
O processo pode parecer (e de fato é) desafiador, mas faz tudo valer a pena quando a felicidade de estar fazendo algo que se ama chega. A vida é curta demais para trabalhar com pessoas e coisas que não fazem mais sentido. Tenha coragem!
Lições de carreira
No universo da carreira, encontramos histórias que nos inspiram a repensar nossas próprias jornadas. A trajetória de Yoon Kim, repleta de coragem, transições ousadas e um compromisso inabalável com a excelência e a sustentabilidade, é uma dessas histórias. Sua capacidade de se reinventar e buscar desafios que a levem além do convencional é um lembrete poderoso de que o caminho para o sucesso muitas vezes requer coragem para explorar o desconhecido.
Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo!
Abraço, Jonny

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