Durante um tempo, há alguns anos, idealizei de longe e tive urgência pelo maior festival de criatividade do mundo, apesar de já ter ganho dois prêmios. Cannes, de fato, tem o poder de lançar inventividades pelo globo, trazer mobilizações culturais e de impacto, e eu com esse DNA criativo fazendo feat. com as disruptividades do Brasil Real, queria acompanhar as principais tendências globais de perto.
Em seu aniversário de 70 anos, malas prontas, algumas horas de viagem, com muita sede de aprendizado e em posição de escuta, estive em terras francesas para acompanhar, pela primeira vez, as principais tendências, destaques e novidades do evento. Não só estive atento a tudo que estava rolando por lá, como um grande espectador, como também tive a imensa oportunidade de fazer a cobertura dessa chuva de ideias e potencialidades, sobretudo, no que tange a cultura preta global espalhada pelo mundo.
Não posso deixar de destacar o quanto o tete-a-tete neste espaço é fundamental e, realmente, ditam novas construções. Gerar conexões, já sabia antes e agora posso confirmar, é um alto potencial de mercado. Afinal são muitos olhares por lá, criativos, inovadores, fora da caixa, para frente e ousados. São agências, clientes, produtoras, pessoas que fazem, de fato, a coisa toda acontecer.
E neste mesmo espaço de partilha e troca, também pode-se perceber quais são as estruturas dominantes do mercado. As praias, que são às fies ativações que acontecem na areia, como dizem por lá, dão luz às marcas que firmam os seus lugares e impactam os seus clientes e ouvintes, plataformas como Meta, Spotify e TikTok já têm o terreno feito. Manutenção de conhecimento e novas epistemologias também foram pontos altos em Cannes, a palestra de Gary Vee foi uma das que mais me marcou, ele realmente deu o papo. Deixou uma mensagem muito bacana de quanto o mercado venera o passado, fica ansioso com o futuro, mas não presta atenção ao presente e às potencialidades que estão sendo construídas no agora, estas, por sua vez, capazes de incomodar estruturas engessadas.
Ainda tive a oportunidade de participar de uma reunião com a liderança global da Meta. Um dos pontos que destaco dessa conversa é como a gigante das redes sociais (Facebook e Instagram), poderia melhorar as suas inserções com relação ao apoio às iniciativas de mídias pretas e assim, estruturar alguns planos de ação efetivos e contínuos. Ainda mais quando a liderança criativa preta movimenta não só o mercado de entretenimento, mas também o todo; poder e a influência que a cultura preta traz de geração em geração, é ancestral e impacta de baixo para cima.
Não pude deixar de observar as lideranças pretas globais que estavam por lá, pude, inclusive, me conectar com algumas delas. E o que ficou para mim é a perceptivel conexão entre os negros da diáspora, isto é, fora do continente africano. São histórias, sentimentos, gostos muito parecidos e quando conectados, torna-se algo poderosíssimo. Estamos falando de um mercado com cerca de 1,3 bilhões de pessoas entre pessoas negras e marrons, como dizem os norte-americanos.
Eu de fato sonhei com Cannes, mas não de forma utópica, nunca duvidei do que encontraria por lá. Muito dos meus, vencedores de leões ou não, nossas construções e epistemologias. Muitos insights e coração pulsando pela próxima oportunidade.
Por Felippe Guerra, empresário, publicitário e co-fundador da Brasis, primeira aceleradora de negocios, voltados para projetos de comunicação conectados ao grupos sub-representados e ao Brasil Real.
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