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Coluna Inovação | O paradoxo entre emprego e trabalho em tempos digitais
17 de Agosto de 2018

Coluna Inovação | O paradoxo entre emprego e trabalho em tempos digitais

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Por Fabricio Umpierres Rodrigues 17 de Agosto de 2018 | Atualizado 17 de Agosto de 2018

Foto: Blog Dropbox

“O emprego está acabando, mas trabalho não falta”.

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Esse paradoxo é um dos símbolos do mercado em tempos de economia digital.

O emprego, como as gerações acima dos 30 anos conheciam, está acabando por uma série de motivos: há o custo trabalhista/previdenciário, que praticamente dobra o custo do funcionário; a tal “disrupção dos modelos de negócio”, que levou à lona algumas das maiores empregadoras de vários setores (o pedido de recuperação judicial da Editora Abril é assustador para nós, profissionais de Comunicação/Publicidade/Jornalismo); sem falar da crise econômica brasileira e os seus 12 milhões de desempregados.

É triste mas é real, gritaria o vocalista do Metallica.

Assim como as empresas tradicionais precisam repensar suas entregas de valor para se manter um mercado complexo, volátil e incerto (escrevo mais sobre isso nessa coluna aqui), as pessoas precisam entender como se posicionar enquanto fornecedoras de serviço. Ainda há trabalho, é óbvio, mas as exigências e competências mudam a cada dia e deixam tudo mais confuso – especialmente pros departamentos de Recursos Humanos.

As empresas de tecnologia, em geral, demandam um grande volume de empregos. Elas geram inovações, ganham mercado e precisam de pessoas qualificadas para dar conta do grande volume de demandas que surgem. Só que, por oferecerem um tipo de serviço inédito/inovador, nem mesmo as empresas sabem que tipo de habilidade exigir dos candidatos.

Um exemplo é a “carreira” de Customer Success (CS), o profissional que cuida do sucesso do cliente que utiliza determinado software/sistema para gerar vendas e relacionamento com outros clientes. Simplificando, é o “gerente de pós-venda” moderno. O cargo de CS se popularizou aqui na região nos últimos anos – e foi se tornando uma escola de formação muito recente – pela demanda de empresas de software como serviço (Saas), que são as que mais crescem e precisam de profissionais que atuem como uma espécie de consultores de seus clientes.

“Há 10 anos, empregos comuns hoje como especialista de computação em nuvem, desenvolvedor de aplicativos para celular, gerente de redes sociais e engenheiro de carro autônomo sequer eram imaginados”, comentou o professor do MIT Celson Pantoja durante painel sobre o futuro do trabalho na Expoinovação, que encerrou nesta quinta (16), em Joinville. “É preciso treinar as pessoas para estarem em outro patamar”.  

Acontece que não tem lugar pra todo mundo nesse outro patamar.

A Flex, empresa com sede em Florianópolis que começou oferecendo serviços de contact center e hoje se tornou praticamente uma empresa de tecnologia que desenvolve soluções para gestão de relacionamentos, passou por uma série de cortes recentemente, com redução de 700 dos seus 13 mil funcionários, resultado da automatização de algumas atividades que dispensaram o fator humano. A empresa é uma gigante do setor: listada na Bovespa, fatura por ano cerca de R$ 600 milhões.

Nesta semana, a Resultados Digitais – notoriamente uma das maiores contratantes da Grande Florianópolis nos últimos anos – demitiu nesta semana 78 funcionários, o que representa 10% do total, como o Acontecendo Aqui noticiou na quinta. “Chegou um momento na trajetória da Resultados Digitais que exigiu readequação de funções organizacionais para seguir crescendo com eficiência e continuar investindo na melhoria dos produtos e nos projetos estratégicos”, argumenta a empresa em nota oficial.

Eis aí. Essa readequação de funções organizacionais será cada vez mais comum, especialmente em empresas com metas agressivas de crescimento. O que se espera é que outras empresas inovadoras continuem surgindo e gerando novas vagas de trabalho. Ontem mesmo, uma lista com os contatos desses profissionais dispensados pela RD estava circulando em grupos de whatsapp de empresas de tecnologia interessadas em contratá-los.

Alguns serão recolocados.
Outros talvez decidam criar seus próprios projetos e, se tudo der certo, vão crescer e provavelmente irão demitir algumas pessoas no meio do caminho.

Isso se o futuro do trabalho – com a chegada da inteligência artificial e cognitiva, a internet das coisas e sabe-se lá o que mais – ainda suportar a noção de emprego.

 

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