Depois de tantos conteúdos e trocas, alguns dias são necessários para processar as principais mensagens que um evento como o Web Summit deixa na nossa cabeça.
Havia altas expectativas em torno da primeira edição fora da Europa, mas o Brasil entregou muito.
Com ingressos esgotados semanas antes de o evento começar, a feira reuniu mais de 21,3 mil pessoas e manteve números muito similares aos de Lisboa no que tange à presença feminina: 40% dos participantes eram mulheres (frente a 42% na capital portuguesa). Porém, apenas 37% estavam lá como speakers e só 22% como empreendedoras, levando suas startups para uma das maiores vitrines de inovação que há no nosso mercado atualmente.
Diversidade resolvida? Claro que não. Ainda há muito o que caminhar em termos de representatividade e acessibilidade, mas a audiência está atenta e seguirá cobrando ano a ano, até todos e todas serem protagonistas de uma narrativa verdadeiramente inclusiva e diversa.
Quanto às discussões, como era o esperado, Inteligência Artificial não saiu da boca do povo e dos slides dos painelistas. Teve até palestra que o próprio ChatGPT foi requisitado, indagado se a ferramenta iria substituir os jornalistas. Outro painel também questionava quais carreiras a IA vai automatizar, dando a óptica principal das discussões relacionadas à tecnologia. Muito mais que uma exposição técnica de aplicação, as opiniões traziam essa perspectiva sobre a relação humana, ressaltando a responsabilidade que nós temos para com o futuro da IA. Afinal, quem programa e treina essas ferramentas?
Não diferente de outros recursos tecnológicos, a IA pode estar a serviço do bem e do mal. Pelo aspecto individual, pode potencializar a criatividade e a produtividade, mas pelo aspecto social pode ser usada para vigilância e controle. O que devemos fazer diante disso é informar, educar as pessoas, colaboradores e sociedade sobre os riscos, ensiná-las a discernir e questionar conteúdos e informações que podem ter sido gerados a partir de IA. Da mesma forma, estabelecer consciência com o uso de dados e ainda cobrar os órgãos reguladores por transparência e coerência na utilização da tecnologia e no combate ao controle das grandes plataformas.
Entre a dinâmica do evento, se no Center Stage os painéis eram mais rápidos e genéricos, as empresas brasileiras souberam se apropriar muito bem dos espaços dedicados nos estandes. Foram programações exclusivas, discussões densas e vários ativos que buscavam atrair e reter os participantes. Destaque para o Senac, que trouxe visões sobre o futuro da educação, diversidade e tecnologia, com discussões ricas e transcritas à toda audiência. Ainda, o Banco do Brasil, em parceria com Women in Tech, além de Vibra, Itaú e Magalu, representaram o nosso país de uma forma muito proprietária e relevante, enfatizando o poder da troca e o como somos ricos de talentos.
Eis o que fica de um grande evento como esse. A conexão sempre tão necessária e exaltada nos palcos: conecte-se com seus colaboradores, conecte-se com sua audiência, conecte-se com sua rede. É a partir da conexão que estabelecemos confiança, valor tão vital para quaisquer relações e futuros que iremos traçar. E, nessa sinergia entre humano e tecnologia, que não nos falte responsabilidade: ao informar, ao testar, ao produzir, ao desenvolver. A resposta está no nosso poder enquanto comunidades e seres críticos. Sejamos o que o ChatGPT não consegue fazer: capturar a essência humana de uma situação.
por Paola Müller, Head of Strategy and Growth da Brivia.
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