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ENTREVISTA | Adriana Krauss, jornalista
07 de Junho de 2023

ENTREVISTA | Adriana Krauss, jornalista

“Sou apaixonada pela leitura, mas não foi sempre assim”

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Na véspera do encerramento da 19ª Feira do Livro de Joinville, às 19h deste sábado, 10/6, quem sobe ao palco do Expocentro Edmundo Doubrawa é a jornalista Adriana Krauss, para falar sobre “As leituras que mudam o mundo”. Desde 1º de junho, a feira vem movimentando a maior cidade do estado, com uma maratona de atividades culturais e a presença de 20 autores convidados. Além de palestras e treinamentos, Adriana Krauss, que já foi colunista dos jornais Santa e DC, dedica-se à pesquisa sobre literatura de qualidade para a infância. Em 2020, lançou seu primeiro livro, “Led e o Monstro Zork”, publicado pela Design Editora, de Jaraguá do Sul, e já com 3 mil exemplares vendidos. Adriana se inspirou no cachorro que viveu com ela por quase 16 anos para criar a história que promete surpreender crianças e adultos. “Minha vida foi transformada pelos livros”, diz, nesta entrevista. “Com os livros, descobri que podia ganhar asas.”

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Como é sua relação com a leitura e a escrita?

Sou apaixonada pela leitura, mas não foi sempre assim. Tive meus altos e baixos desde a infância até a universidade. Porém, depois de virar jornalista e especialmente depois da maternidade, esse hábito nunca mais saiu da minha rotina. Minha vida foi transformada pelos livros. Sou filha de gente da roça, mas uma tia professora me apresentou ao mundo da literatura e descobri que, com os livros, eu podia ganhar asas. Hoje busco ser exemplo para as minhas duas filhas, Erika, de 7 anos, e Louise, de 4. Sou uma mãe pesquisadora da literatura de qualidade para as infâncias, pois sei que livro ruim é igual comida que a gente prova e não gosta. Depois é muito difícil a gente querer de novo.

 

Conte um pouco mais sobre como é esta orientação que você faz para suas filhas.

Pesquiso autores, ilustradores, compro, analiso. Hoje vivo recebendo pedido de dicas de títulos nos grupos de WhatsApp da escola e no direct do Instagram, especialmente quando as editoras fazem promoções. Estou extremamente atenta aos perigos das telas, então, não há como não se apaixonar por um hábito que proporciona tempo de qualidade e criação de memórias com minhas filhas. Leio todos os dias. Minhas filhas me flagram no banheiro, na sala, assim que elas acordam, até em grandes congestionamentos quando ficamos paradas por conta de algum acidente. Tenho livro por todos os lados. Na bolsa está o que estou lendo agora: “Em Busca de Sentido”, do professor e psiquiatra Viktor Frankl. No banheiro dos fundos, “A Peste”, de Albert Camus, para o momento em que esqueço de levar o livro da vez. Dessa forma, quando termino um, já tenho outro engatado. Como defende C. S. Lewis, devemos ler, em primeiro lugar, pelo simples prazer que esse hábito nos proporciona. Quando começamos a fazer cobranças, exigir respostas certas (especialmente das crianças), acabamos estragando o sabor dessa experiência!

Para você, quais são as “leituras que mudam o mundo”?

As leituras com entrega, com o leitor conectado à obra, presente, para viajar ao destino a que o livro se propõe a levá-lo. Fiz muitas leituras assim, e outras que quero repetir, pois a Adriana Krauss de 45 anos e mãe de duas filhas não é mais a adolescente que leu “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Márquez e tantos outros clássicos. Naquela época, as grandes obras mexeram comigo de uma forma. Hoje, que efeito teriam? Garcia Márquez, Saramago, George Orwell, Kafka, Hemingway, todos estão na minha lista de releituras. E outros clássicos entraram. Mês passado, por exemplo, li “Noites Brancas”, de Fiódor Dostoiévski.

 

Qual deve ser o foco de sua abordagem, na feira, e como você vê a importância deste tipo de evento?

Minha palestra traz temas urgentes e necessários, como o uso de telas e a ausência dos pais. Nesta semana, está acontecendo, no Rio de Janeiro, o 5º Encontro Internacional sobre o Uso de Tecnologias da Informação por Crianças e Adolescentes/Jovens. A Feira do Livro de Joinville está extremamente alinhada com o momento e abre espaço para uma discussão que precisa avançar. Os comportamentos desafiadores das crianças têm preocupado as famílias. E esses comportamentos se tornam mais frequentes quando as telas são protagonistas, quando estamos distantes. O uso excessivo de celulares e tablets não só nos afasta de quem está perto como pode viciar e causar doenças.

A LVA, Leitura em Voz Alta, é um caminho de alta qualidade para uma conexão efetiva e profunda com as crianças, para a construção de uma relação de confiança e cumplicidade. E mais, é um caminho para a criança desenvolver o senso crítico, ampliar o repertório e a visão de mundo, conhecer e respeitar as diferenças. Além disso, crianças cujos pais leem – para e com elas – tendem a ser melhores comunicadoras.

Dizem que o mundo só muda quando a gente muda. Então, pergunto, que filhos deixaremos para este mundo? Na palestra, respondo perguntas importantes para todos, mães, pais, professores, padrinhos, avós, rede de apoio, profissionais das mais variadas áreas, médicos pediatras, psiquiatras, psicólogos: por que ler e o que ler, como e onde, quando começar… Entender que os benefícios da leitura vão muito além do que o senso comum acredita é um grande passo para estar de fato presente na vida das crianças. A leitura transforma crianças em crianças que transformam.

Colaboração: Jornalista Guilherme Diefenthaeler

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