Sim! As casas, como nós, têm estórias! Elas são construídas para dar abrigo e servir de ponto de referência para os que nelas habitam; para elas, todos os dias, retornamos de nossos afazeres profissionais e é onde encontramos o refúgio que nos acolhe e permite o restaurar de forças para o dia seguinte.
Importante lembrar que as casas, como nós, também envelhecem e, seus sinais de envelhecimento são perceptíveis àqueles que vivem em sensibilidade. De repente, o encanamento entope como uma veia de nosso sistema circulatório e, causa um transtorno temporário, pois até a chegada do médico-encanador, ficamos privados do bem mais precioso do mundo a que só damos valor quando falta – a água.
Ou um curto-circuito deixa-nos no escuro como se nossos neurônios entrassem em colapso e nos tirassem do ar até a chegada do médico-eletricista que nos restaura a energia, iluminando, novamente, o interior de nossa casa. Enfim, as analogias seriam inúmeras entre a casa e nós, mas o importante são as estórias que a velha casa guarda em suas memórias.
Faço parte, nos três Estados do sul, de grupos que se dedicam a postar fotos e contar estórias de velhas casas. Há casas que resistem a ação do tempo há mais de um século. Imaginem se estas tivessem o dom da fala o que poderiam nos relatar.
Quantos nascimentos a casa assistiu? Quantos choros, madrugada afora, tirou a tranquilidade dos pais deixando-os em sobressalto sobre o que acontecia com a criança? Quantos momentos de despedida a casa já assistiu? Despedidas de visitas, pois isto acontecia com frequência nos tempos idos e, despedidas definitivas daqueles que ali viviam. Quanto choro e quanto riso compõem a memória da casa!
Os almoços de domingo, quando a família se reunia de forma obrigatória, para trocar afetos e contar as estórias da semana esperando, é óbvio, o café da tarde que seria continuado com o jogo de víspora ou qualquer outro entretenimento divertido, envolvendo a todos, pois isto dava sentido à vida; a proximidade dos que se sentiam felizes com os pequenos gestos de afeto demonstrados.
Ah! Como é bom transitar pelo passado! Como é bom recordar momentos vividos e que faziam a vida valer a pena. Felizes aqueles que têm o que recordar, pois viveram!
Amizades se construíam para sempre. A futilidade não existia; o essencial era o ser e não o ter. Procure na sua lista de amigos, como sugere o cantor Oswaldo Montenegro e, veja quais você ainda contata com frequência.
Hoje vivemos tempos exponenciais onde o egoísmo e o individualismo norteia a sociedade. Mas, as casas e suas estórias serão eternas mesmo quando aqui não mais estivermos, pois sempre haverá alguém para lembrar um causo acontecido.
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