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Os velhos felizes são todos iguais. Os tristes o são cada um à sua maneira. Ernesto Sábato, Philip Roth e Yasunari Kawabata viveram bastante e por dever de ofício tiveram de prestar atenção à espécie humana e analisar suas desventuras e angústias. Não admira que tenham se aproximado da velhice desiludidos e pessimistas. Aos 60, 70 e 80, os três criaram livros que ajudam a entender a tristeza que esmaga o homem em seus últimos dias.
Yasunari Kawabata perdeu as ilusões relativamente cedo. Perto dos 60, escreveu o angustiante A casa das belas adormecidas, lido depois de uma indicação do ótimo blog Lombada Quadrada.
A ideia é curiosa: velhos vão até uma espécie de hospedaria e pagam para passar a noite ao lado de belas jovens virgens. O detalhe é que elas são sedadas e dormem a noite inteira – expostas, nuas, deitadas ao lado dos frequentadores do local. Sua maior defesa é a impotência dos velhos que vão em busca de uma oportunidade de “sorver” um pouco da energia vital abundante na juventude.
O protagonista do livro, Eguchi, passa algumas noites no local. Em cada oportunidade, relembra o passado, revisita equívocos e flerta com o que parece ser a degeneração completa. Ainda não impotente, ele pode quebrar o tabu da casa – a obrigatória inviolabilidade das jovens.
O velho de Kawabata é um homem incauto, que busca atalhos para escapar do tempo, mas que sofre ao perceber que será inexoravelmente vencido pelos anos.
Roth escreveu o excelente Fantasma sai de cena depois dos 70. Dessa vez, seu personagem de estimação, o escritor Nathan Zuckerman, nutre sonhos de conquistar o amor de uma jovem mulher casada. Tudo não passa de fantasia, mas o personagem sofre e se engana, iludido com sinais de interesse e desejo que apenas ele percebe. Nutre a falsa ilusão de ser atraente apesar da decadência e confunde atenção condescendente com amor.
Em uma cena, imagina e crê que há atração sexual entre a jovem admirada e ele. Em outra, triste para quem acompanhou o auge de Zuckerman em outros livros, o envelhecido alter ego do autor entra em uma lagoa e sente algum prazer e liberdade ao perceber que ao menos ali, enquanto bóia sozinho, sua incontinência urinária não é fonte de vergonha. Na realidade, ele próprio e contemporâneos, como uma antiga amiga vítima de um câncer, sofrem com os efeitos das muitas décadas por aqui.
O velho de Roth não é senhor sequer da própria bexiga – que dirá do amor de outras pessoas.
Ernesto Sábato já era octogenário quando criou Antes do fim. Surpreende perceber que o livro de não-ficção (baseado em “fatos reais”, portanto) é mais triste e desolador do que os também tristes e desoladores romances de Roth e Kawabata. Sabato narra memórias e fatos marcantes de sua vida. Bem-sucedido na literatura, o autor argentino viu seu mundo desmoronar ao longo dos anos. Amigos morreram e o autor passou pelo terror que assola qualquer pai – sobreviver ao filho. Ao mesmo tempo, viu suas crenças sobre a sociedade serem tratadas como algo ultrapassado. Defensor de um mundo solidário, como acreditava ser o ideal, desiludiu-se com a dominância do individualismo egoísta. Um dos textos do livro – uma espécie de aceitação da derrota – é a tradução acabada de um homem sem esperanças.
O velho de Sábato é solitário, derrotado e descrente com o futuro.