O grito dos Criativos Negros Brasileiros no Cannes Lions Festival
24 de Junho de 2022

O grito dos Criativos Negros Brasileiros no Cannes Lions Festival

Todo mundo precisa de um lugar na mesa

Twitter Whatsapp Facebook

Repórter: Rodrigo Conceição

Com a participação de:
Cindy Gallop, CEO do MakeLoveNotPorn
Stacie Graham, Global Racial Equity Programme Director, WPP
Raphaella Martins, Program Manager, Creative X, Meta
Joana Mendes, Presidente, Clube de Criação de São Paulo

 

24 jurados brasileiros foram escolhidos para o Cannes Lions deste ano, mas apenas um deles se identificou como negro.

Um grupo de pessoas se reuniu para resolver isso. Raphaella escreveu uma parte da carta:

Caro Simon
. Cindy foi a primeira líder global a levá-la ao mundo. E Joana conversou com o CEO do LIONS, Simon Cook, para discutir que progressos poderiam ser feitos.

Ela agora está servindo como jurada este ano. Esta é uma história antiga, mas os palestrantes estão aqui para oferecer um novo final. Como indústria, temos que passar da reação à ação. Nesta discussão, os palestrantes discutirão o que se torna possível – criativamente e como sociedade – quando todos se sentam à mesa.

Raphaella iniciou a sessão comentando que na indústria hoje nós devemos enfrentar essas questões sociais e raciais. Ela afirmou acreditar que a nova geração está se empoderando dessa causa e que eles vão lutar e continuar lutando independente do que a indústria fará ou não. Raphaella acredita que nesta indústria, a maior parte dos profissionais ainda vem de um pequeno grupo, na maioria americanos privilegiados. Ela afirmou que todos deveriam ter direito a ser ouvidos e participar dessa discussão.

Joana continuou afirmando que para ela é complicado, pois ela é brasileira, negra, e diferente da maior parte de criativos que vem da Grande São Paulo, ela vem de Porto Velho, Rondônia, o que muitas vezes confunde as pessoas com seu sotaque diferente. Joana recebeu erroneamente o título de primeira mulher negra a assumir a direção de uma grande agência, quando na verdade no passado uma outra mulher negra, a Zil Ribas já havia ocupado essa posição. Ela reforça a importância de relembrarmos aqueles que lutaram pela causa negra no passado e em especial a Zil Ribas.

 

 

De acordo com Joana, pessoas negras têm mais dificuldade em entrar no mercado, e ela não entende porque não temos mais profissionais negros brilhantes assim como temos profissionais brancos brilhantes. Ela afirmou que isso se deve por muitas questões, mas que todas reenviam ao mesmo problema, racismo.

Cindy Gallop tomou vigorosamente a palavra, comentando a carta que ela recebeu e compartilhou assim que a viu. Ela explica que a indústria é racista, e que não é a primeira vez que ela vê profissionais negros enfrentando esse tipo de problema, e que isso se reflete aqui no festival, porém ela gritou para que todos possam ouvir, a indústria no Brasil é também muito racista, e que isso nos impossibilita de descobrir o poder da criatividade brasileira, pois quando ela vai ao Brasil, ela descobre que o que vemos aqui no festival é somente uma pequena parte do poder que os brasileiros têm. Cindy foi fortemente aplaudida.

Raphaella retomou a palavra dizendo que ouvimos muito a resposta que esse problema, da falta de representatividade, se deve por uma questão de comunicação. Mas para ela, o problema é a falta de ação, pois priorizamos tratar dessa questão, e que dentro do festival, se existe a preocupação em criar igualdade, essa questão deveria ter prioridade a ser abordada.

Joana reforçou que o festival só dá prioridade ao que eles vêm dando prioridade faz anos (minoria branca de jurados premiando a mesma minoria branca de criativos, a famosa panelinha). Brasileiros recebem vários prêmios, mas o festival não se preocupa nem um pouco com essas questões e só se interessa em nosso dinheiro. Ela cita as diferenças sociais no Brasil.

Raphaella rebateu que a indústria está perdendo dinheiro, Joana afirmou não estar de acordo, que não devemos pensar no dinheiro, mas no que é a coisa certa. Raphaella afirmou estar de acordo com esse ponto de vista, mas que mesmo assim, estamos perdendo dinheiro por não cuidar dessas questões raciais.

Cindy tomou a palavra comparando aos diretores e CEOs que decidiram dar mais oportunidades a mulheres, o fizeram por terem grandes convicções de justiça e do que é certo ou errado. Ela provocou a plateia, indagando a todos, quais são sua convicções? O que é justiça para você?

No final da sessão, a Stacie Graham pediu aos convidados que fizessem uma sugestão para que esta mudança ocorra no festival.

Raphaella respondeu que a questão racial deve ser priorizada no festival. É preciso que ela esteja no centro da conversa. A Joana afirmou que ações são necessárias, não somente falar sobre o assunto mas que ações concretas sejam realizadas.

Cindy sugeriu uma ação concreta e direta para o Simon Cook: Mude a Inkwell Beach para o lado do Palais des Festivals, no início da praia (Inkwell Beach é a cabana onde ficam expostos trabalhos de negros e que abordam questões raciais/sociais, todo o ano a cabana está localizada no final da praia), para que todos possam ver o trabalho dos negros. Cindy afirmou que nesse ano quando ela viu que o Inkwell Beach ainda estava no final da praia, ela teve um surto. Cindy finalizou a sessão citando o musical Hamilton, onde a questão racial é abordada, dando vozes aos negros e mostrando a importância da representatividade, e que, Hamilton é um sucesso comercial, que conseguiu lutar pela causa negra faturando milhões.

Logo após a sessão, o grupo de brasileiros negros participando ao festival se reuniu no tapete vermelho do Palais para uma foto. O Acontecendo Aqui fez uma entrevista com eles, não deixe de conferir o que nossas vozes negras tem a dizer.