Todo fim de ano eu exercito aqui a minha função “bola de cristal”. Reli o texto que escrevi no fim de 2022 e até que acertei bastante. Esse texto está disponível aqui na minha coluna no Acontecendo Aqui. Abaixo tentarei montar os prognósticos para 2024, fazendo um paralelo com o que rolou em 2023. Dividirei por países e regiões. Deixarei o Brasil no final. Vamos lá? Boa leitura a todos.
Europa:
2023 começou muito difícil para a Europa, com a guerra da Ucrânia se mantendo, com dificuldades energéticas pressionando inflação. Durante o ano isso foi se dissipando e o ano termina bem melhor sob o ponto de vista econômico, com inflação aparentemente sob controle. Não espero nenhum crescimento econômico relevante para os países europeus em 2024. Aliás, não só em 2024. Europa estagnou e deve ficar assim por um bom tempo. Talvez ainda seja impactada por alguma crise externa que possa acontecer. Rússia parece dar os primeiros sinais de que pode se sentar para conversar sobre Ucrânia. Mas a situação parece cômoda para Putin nesse momento, com moeda estabilizada e economia crescendo.
China:
Incógnita eterna. Não dá pra acreditar em nenhum dado econômico que vem de lá. Iniciou 2023 pressionada pelo covid e lockdowns. Isso impactou crescimento. Termina o ano melhor, mas, com certeza, tem esqueleto nesse armário. Setores de construção civil e bancário são os calcanhares de Aquiles, com problemas de crédito que podem ser explosivos. Acho que vale acompanhar os preços de commodities (minério-de-ferro e petróleo), como melhor indicador da situação econômica chinesa. Se esses mercados começarem a subir, sinal de que a situação momentânea é boa.
EUA:
Aqui o pau comeu o ano todo. Começaram o ano com uma inflação avassaladora. FED puxando juros como se não houvesse amanhã. Aí alguns bancos abriram o bico. Se financiavam a juros baixos e tiveram que refinanciar a taxas mais elevadas. FED despejou dinheiro para segurar uma possível crise bancária. Usaram o mesmo expediente da crise de 2008. Não ficaram esperando. Bancos se seguraram e se re-arranjaram. Com a sobra de caixa, o sistema foi às compras. Bolsas subiram. Mas o interessante foi que apenas algumas empresas se beneficiaram desse movimento. As 7 Magníficas (Google, Apple, Amazon, Facebook, Nvidia, Microsoft e Tesla) explodiram em valor de mercado. O restante ficou meio que no 0x0. O assunto Inteligência Artificial foi a grande justificativa. E o mercado escolheu essas 7 empresas como as prováveis vencedoras.
Para 2024, a situação parece estranha. Historicamente depois de fortes aumentos de juros, vemos recessão entre 9 e 18 meses após o último aumento. Então seria esperado que isso acontecesse. O mercado reage como se a economia fosse para o softlanding. Economia enfraquece devagar, dando tempo para inflação vir para a meta de 2% ao ano, dando tempo para o FED começar cortes de juros. Para mim, algum mercado está contando mentira. Possíveis cenários:
1) Softlanding: juros demorarão mais a cair. Então o mercado de juros está mentindo, já que embute cortes importantes para 2024.
2) Recessão: juros cairiam rápido. Porém o mentiroso agora é o mercado de ações, que estariam caras.
Na dúvida, prefiro não manter nenhuma posição nesses mercados.
Brasil:
Ah Brasil… Abrimos o ano pressionados demais, com declarações infelizes de membros do novo governo. Ao longo do 1º semestre, isso foi se dissipando. Se não vivemos o céu de brigadeiro, pelo menos não fomos para a ponta pior das expectativas. Até agora, nada relevante foi feito contra as reformas trabalhista e da previdência. Marco do Saneamento também seguiu preservado. Petrobras segue obedecendo a paridade internacional, fato que teve ajuda de fora, já que petróleo caiu bem no ano. Nova regra fiscal foi aprovada e, se não é nenhuma Brastemp, pelo menos não coloca o Brasil no bico do corvo. Reforma tributária também passou, porém ainda com muitos pontos que precisam ser melhor analisados.
Com um agronegócio batendo recordes, apesar do discurso ofensivo do governo, tivemos fluxo de dólares. Isso somado a menos barulho institucional, fez com que tivéssemos uma melhora relevante nos preços dos ativos locais. Bolsa pra cima, dólar pra baixo.
Para 2024, teremos a questão fiscal como ponto central. A conta não fecha. O governo gasta demais e muito mal. A conta será acertada via aumento de impostos, em uma sociedade que não aguenta mais pagar. Iremos para perto de 40% do PIB de carga tributária e temos serviços públicos de 15ª categoria. O atual governo não fala uma palavra sobre corte de gastos. Ou, pelo menos, aumento da eficiência desses gastos. Privatizações também estão completamente fora de cogitação. Então preparem seus bolsos.
Temos uma notícia positiva, no entanto. Inflação parece controlada. Isso já abriu espaço para cortes nas taxas de juros. Talvez a gente tenha mais um vôo de galinha na economia entre 2024 e 2025. Porém, sem mudanças estruturais relevantes, seguiremos a nossa sina de crescer historicamente abaixo de 2% ao ano na média. Não nos falta dinheiro. O Brasil já gasta com educação, por exemplo, o que países mais ricos também gastam. Falta gestão. E, para nossa falta de sorte, parece que continuará faltando.
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