Um ovo! Sim, um ovo virou recordista de curtidas no Instagram!
Não é novidade que está cada vez mais difícil entender o que as pessoas querem das redes “sociais”.
Curtir, amar, odiar… tudo se mistura em clicadas descompromissadas, onde nem sempre se lê, nem sempre se analisa, e raramente se recorre ao bom senso. Nossos dedos passam pelas redes sociais com muito mais rapidez do que nossa capacidade de autocrítica.
Por vezes, o grande psicólogo do universo, o Facebook, serve para desabafos inaudíveis, gritos silenciosamente ensurdecedores.
O grande porta-retratos da humanidade, o Instagram, invade nossas casas mostrando o quão infelizes somos perante aqueles quadrinhos repletos de alegria. E por aí vamos, administrando vazios, dores, invejas e dizendo sem qualquer censura: isso é uma rede “social”.
Mas um ovo? Pera lá. Um ovo continua sendo um ovo!
Ovos não têm religião, não têm pecados. Ovo é vida, representa a gestação. Se nos alimentamos do ovo, é porque o ovo, quando não vive, nos garante viver.
Às vezes tacamos o ovo noutrem, seja para protesto, seja por alegria, mas o ovo está sempre lá, nos adoçando na Páscoa ou nos encantando com sua beleza (refiro-me ao fabergé).
Há algo de lógico em se curtir um ovo? Sim. O ovo não tem partido, não é politizado. Um ovo não é de esquerda, nem de direita. O ovo, esta circunferência irregular, não me agride, não me ofende. Afinal, ele é apenas ovo!
Há racionalidade em se curtir um ovo? Também sim. Curti-lo alegra o dia, nos diverte. É um lenitivo para tantas dores que temos, tantos sorrisos falsos, biquinhos, poses pré-fabricadas, ângulos e posições. Nada disso se compara ao jeito simples do ovo.
A foto de um ovo não depende de luz, não depende do vento. O ovo é assim, natural, sem plásticas, sem retoques. O ovo não engorda, nem emagrece. Ovo é ovo, ovalado, rechunchudo, redondinho, ovo!
O ovo, seja no Instagram, no Facebook, no Twitter ou no LinkedIn nos lembra de que é nossa a casca. Somos nós, por vezes, que nos escondemos atrás de nossas redomas, e com muita dificuldade deixamos transparecer, às claras, nossas verdadeiras gemas. Somos ovo também.
Ao curtir o ovo curtimos, quiçá, a nós mesmos. Somos essenciais, somos vida, somos simples. Nós nos perdemos quando deixamos aparecer nas redes sociais quem não somos. O tal personagem que vivemos convive entre sorrisos fugazes, alegrias improvisadas, sucessos inalcançados, posições políticas imutáveis e crenças radicais.
Nós, os ovos, somos puros. Pelo menos deveríamos ser. Quebre nossa frágil proteção e deixaremos vir à tona toda nossa simplicidade: a de que, queira ou não, somos apenas ovos.
Por isso, curtir um ovo faz todo sentido, tanto sentido quanto escrever linhas e linhas sobre assunto tão inescrupulosamente idiota: a de que um ovo se transformou em objeto de curtição, talvez por que todos nós sejamos um pouco ele, um ovo!