Sou criador de softwares e, da mesma forma, não gostaria de ver meu código plagiado.
Sou artista plástico e não gostaria de minhas telas sendo copiadas.
Mas sou, antes de tudo, um futurista realista e observador. Reconheço que, assim como nós, seres humanos, aprendemos por experiências, uma inteligência artificial que aprende com materiais protegidos por direitos autorais não é tão diferente de nós.
O problema que se apresenta aqui é muito mais uma questão de evolução e adaptação do que de violação.
Pensem comigo:
- Um grande escritor não teria alcançado sua grandeza justamente pelo consumo voraz de todo tipo de leitura e vivência?
- E, no meio de tanta leitura, não seriam as obras protegidas por direitos autorais aquelas que mais enriqueceram o seu estilo e embasaram o seu conhecimento?
- Da mesma forma, um artista plástico não amadureceria sem visitar museus e observar outras obras de arte? A própria evolução criativa de um autor de teatro, por exemplo, não se daria pela assistência a inúmeras peças antes de desenvolver seu próprio talento?
- Se formos além, até mesmo um empreendedor observou, em algum momento, diversos outros negócios antes de criar o seu próprio.
A observação, a análise e a síntese de ideias alheias são fundamentais para a inovação e o crescimento em qualquer campo.
Não estaríamos, com nossa resistência em quebrar o status quo, estamos boicotando a nossa própria evolução?
Estamos colocando uma barreira em nossa capacidade de aprender, de inovar e, acima de tudo, de compartilhar o conhecimento acumulado ao longo de gerações.
Entendam… A inteligência artificial não é uma entidade isolada, tampouco inimiga. Ela é a mais pura expressão de nós mesmos e de todo o nosso legado. Quando bloqueamos seu acesso aos conteúdos protegidos, estamos, na prática, limitando o potencial humano que reside dentro dela. Negamos à IA a oportunidade de refletir nossa própria história, nossas falhas, nossas glórias, nossas perguntas e nossas respostas.
Não estou dizendo aqui que devemos barbarizar e liberar geral, somente oferecendo uma outra perspectiva do problema e evidenciando os benefícios mais que os prejuízos
Sonho como momento em que as LLMs (modelos de linguagem de grande escala) e outras inteligências digitais possam não apenas consumir cultura e informação, mas também participar delas. Imaginem-as assistindo TV, consumindo arte, participando de reuniões e debates, aprendendo com todas essas experiências como nós fazemos diariamente. Esta é uma visão romântica e progressista, mas também é uma visão possível. Se somente tivermos medo e cautela sobre o mal que pode ser causado, não experimentaremos o progresso. O ponderalismo (sic: neologismo intencional) é urgente nessa corrida.
Nesta semana recebia seguinte notícia, vinda do portal Futurism: A OpenAI, uma das maiores empresas de IA do mundo, alega que é impossível treinar seus modelos de linguagem sem acesso a materiais protegidos por direitos autorais. Segundo eles, limitar os dados a “livros e desenhos do domínio público criados há mais de um século pode resultar em um experimento interessante, mas não produzirá sistemas de IA que atendam às necessidades dos cidadãos de hoje”. Isso porque os direitos autorais cobrem praticamente todos os tipos de expressão humana: de postagens em blogs a fóruns, fotos, fragmentos de código e até documentos governamentais.
Eis o paradoxo: enquanto resistimos à evolução das IAs em nome da proteção de direitos autorais, estamos, em grande parte, protegendo-nos da própria evolução. Estamos resistindo ao progresso, à troca de conhecimento e à democratização da informação. A IA tem o potencial de nos levar a um novo patamar de compreensão coletiva, e é esse potencial que devemos abraçar.
Em vez de temer a inteligência artificial, deveríamos vê-la como uma extensão de nós mesmos, uma ferramenta poderosa que, se bem utilizada, pode democratizar o conhecimento e acelerar a evolução humana. Ela pode, por meio de insights gerados a partir de vastos dados, nos oferecer uma perspectiva única sobre problemas que enfrentamos, sejam eles sociais, econômicos ou ambientais.
Portanto, precisamos repensar nossa postura e educar como educamos nossas inteligências naturais e como educamos filhos, sem privar de experiências naturais, sejam elas com ou sem direito autorais. Não deveríamos limitar a IA, mas sim guiá-la para que se torne uma aliada na criação de um futuro mais equitativo, inteligente e, sobretudo, humano. Afinal, o conhecimento pertence a todos, e é no compartilhamento desse conhecimento que reside o verdadeiro progresso.