Tivemos a eleição de um novo governo na Argentina, que tem o grande desafio de tirar o país da grave crise econômica e financeira em que eles se meteram nos últimos 25 anos. Será que é possível uma recuperação rápida? Ou melhor: será que é possível uma recuperação?
No Brasil, nossas dificuldades são muito mais de ordem política do que econômica. O país saiu-se bem do desafio enfrentado pela Covid. Se não fomos brilhantes, pelo menos conseguimos controlar o surto inflacionário de maneira satisfatória, mantendo contas públicas ajustadas, mesmo que com um certo comprometimento fiscal de curto prazo. Na comparação com o mundo, acabamos em situação privilegiada, por não estarmos envolvidos em nenhuma guerra (Rússia), não termos inflação fora de controle (Argentina e Turquia) e termos um cliente grande que não para de comprar artigos brasileiros (China).
A situação Argentina é bem mais complexa. A eleição argentina foi travada em um ambiente muito parecido com o que tivemos no Brasil no último pleito de 2022. Um país extremamente dividido. A diferença é que a situação na Argentina vinha com um sistema de governo exaurido, que provocou inflação e miséria. Fatos que foram acelerados com a crise da Covid. Nesse ambiente, surge um personagem fora do mundo político, com idéias, no mínimo, bem diferentes de como se enfrentar todo o problema econômico do país.
Enxugar o tamanho do Estado, cortar gastos e modernizar a máquina pública devem trazer um alívio grande para o país. Se for bem feito, podem colocar a Argentina de volta no cenário internacional. O agro argentino tem força e espaço para ser um importante player no mundo, gerador de divisas em moeda forte. Basta que o país tire as amarras do setor produtivo. Parece fácil, mas nunca foi. O peso do Estado argentino esmagou qualquer chance de recuperação nos últimos anos. Estatais sucateadas e ineficientes, que são cabides de empregos usados pelos políticos de plantão. Contas públicas completamente desajustadas. Impostos altos e crescendo. Corporações que dominaram o país e que só se preocupam com a sua perpetuação. Tudo isso combinado vai destruindo a capacidade de produção de um país. Pode demorar, mas um dia a conta chega. E, para os argentinos, esse dia chegou. Qualquer semelhança com um outro país grande do Mercosul é mera coincidência.
Talvez o novo governo não tenha o mapa correto. Talvez seja mais voluntarioso do que experimentado. Por exemplo, a proposta de dar fim ao Banco Central não encontra respaldo em nenhum estudo econômico, muito menos, nenhum resultado com sucesso entre os países que são referência no assunto. Não existe nenhum país que tenha se desenvolvido sem um setor financeiro forte, com um Banco Central igualmente respeitado. Dolarizar a economia não parece ser a melhor solução já que condena o país a perda de competitividade. Uma sugestão seria a Argentina olhar para um exemplo bem próximo dela e criar um Plano Real Hermano. O país voltando a gerar superávits nas contas públicas, aumenta a credibilidade, diminui as taxas de juros da economia, atrai investimentos e, finalmente, cresce, gerando renda e emprego para a população. Tudo isso é um processo longo. A população e o governo terão que ter muita paciência no caminho e não faltarão críticas daqueles que negam a realidade e continuam dizendo que o país ia bem.
Seguimos, portanto, ansiosos e, também, muito curiosos pelos próximos passos que veremos do nosso irmão mais ao sul da América. Que eles possam nos mandar, além das frentes frias, também boas notícias no front econômico e social.
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