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Nem sempre a galinha que canta é a dona dos ovos
09 de Dezembro de 2024

Nem sempre a galinha que canta é a dona dos ovos

Uma comparação rural com a situação econômica atual

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Por Eduardo Boechat 09 de Dezembro de 2024 | Atualizado 09 de Dezembro de 2024

Minha família é do interior. Passei bons momentos da minha infância e adolescência imerso naquela simplicidade e alegria que somente o pessoal da roça sabe como é. Cercado de animais e de um ambiente leve. Os moradores das cidades grandes talvez não saibam, mas quando uma galinha bota ovo, ela canta alto, faz um estardalhaço, como se estivesse comemorando a sua grande façanha. Então na roça a gente tem um ditado que diz “a galinha que canta é a dona dos ovos”, quando alguém nega alguma coisa sem ter sido questionado. Ou acusa alguém de algum fato, antes mesmo que os outros percebam que esse fato tenha acontecido. Ou seja, a pessoa que se defende antes mesmo de ser atacada, provando que provavelmente ela é a culpada do fato.

Na política brasileira, a situação se repete pelo menos desde o Plano Real. O Partido dos Trabalhadores invariavelmente é contrário aos avanços estruturais da economia brasileira durante as votações no Congresso Nacional. Votou contra o Plano Real, mas depois se vangloriou de ter inflação sob controle nos primeiros governos petistas. Votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas depois também se aproveitou eleitoralmente dos benefícios que essa lei trouxe. Só para citar dois exemplos. E agora a gente vive mais um momento parecido.

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A analista de Economia da Rede Globo mencionou que ela não entende o mau humor do mercado financeiro, com a alta recente do dólar e das taxas de juros futuras. Na opinião dela, a situação atual está ótima. Desemprego no menor nível. PIB crescendo. Miséria também nos níveis mais baixos. Porque então o mercado malvadão não aceita esse momento tão auspicioso e se nega a embarcar na comemoração?

Faltou a ela um pouco de honestidade intelectual e sobrou bastante vontade de defender o governo. O mercado quase nunca olha o presente. Todo estudo para investimentos em fábricas, novas tecnologias, compra de equipamentos, mira o futuro. Como estaremos daqui 3, 5 ou 10 anos. Então parece óbvio que hoje estamos vivendo o que foi proporcionado pelos governos que estavam atuantes nesse período no passado. Os governos Temer e Bolsonaro foram muito felizes nas reformas e leis estruturantes que conseguiram votar durante os seus mandatos. Michel Temer conseguiu votar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista. Jair Bolsonaro passou a Reforma da Previdência e o Marco do Saneamento.

O Teto de Gastos foi uma das maiores conquistas dos brasileiros nos últimos tempos. A regra forçava os políticos e a Sociedade em geral a tomarem decisões de como nosso dinheiro deveria ser gasto. Queremos mais Educação? Não tem problema nenhum. Basta diminuir na Previdência, por exemplo. Ou não. Previdência que é importante. Então o Estado deveria contratar menos funcionários para poder fazer frente a esses gastos previdenciários. Ou seja, uma ideia fantástica que faria finalmente o gasto público caber dentro da arrecadação. E que provocou boa parte da melhora econômica que estamos vivendo hoje. Como toda boa ideia no Brasil, muita gente trabalhou contra, até o fatídico dia que aprovamos o “Arcabouço Fiscal”, que nada mais é do que uma licença para gastar desde que o Estado arrecade. E desde então vemos quase que uma perseguição diária do governo contra os contribuintes.

Vamos falar sobre o desemprego? O baixo desemprego que vivenciamos no momento tem, principalmente, dois motivos. O primeiro é que temos menos pessoas procurando emprego, fruto do aumento espetacular dos auxílios pagos pelo Estado. O segundo é que hoje o empresário tem menos medo de contratar, já que, depois da Reforma Trabalhista, ficou mais fácil e menos arriscado o processo de demissão. E aqueles que lá atrás foram contra a aprovação dessa Reforma, hoje se vangloriam como aqueles que produziram o milagre da criação de empregos. Porém, os problemas no mercado de trabalho seguem intactos. A baixa produtividade do trabalhador brasileiro, fruto de uma educação média de baixíssima qualidade, nos condena a termos crescimento de renda limitado e, por consequência, ser proibitivo o aumento da massa salarial.

A Reforma da Previdência foi aprovada somente 5 anos atrás. E mesmo não sendo uma reforma importante, com várias corporações ficando praticamente isentas ou com pouca colaboração no resultado final, ajudou a ter uma maior previsibilidade do crescimento dos gastos previdenciários, com um impacto significativo no horizonte de investimentos na economia brasileira. Com certeza, essa mini reforma tem impacto relevante no momento de crescimento de PIB que estamos presenciando. E o atual governo, que também votou contra essa reforma, propagandeia o tempo todo, como se esse crescimento fosse causado pelos seus atos. Uma nova reforma já deveria estar sendo discutida, já que ela é inevitável.

Outro bom exemplo é o Marco do Saneamento. Não existiam projetos (ou, se existiam, eram poucos) antes da aprovação da nova lei. Até novos projetos serem desenvolvidos, busca de todas as licenças, busca de financiamento, muito tempo se passa. Teremos um provável boom de investimentos nessa área. Uma melhora expressiva dos números de Saneamento pelo Brasil afora. E adivinhem? Todos que foram contra a nova lei, irão no futuro cantar vitória, por estarem no governo no momento que os investimentos aconteceram.

Portanto, resta provado que o velho ditado, que eu escuto desde criança, toda vez que ia visitar a minha família no interior, não é uma verdade suprema. Tem muita galinha cantando pra comemorar os ovos que uma outra galinha botou. Fica comprovado também que as atitudes do presente terão impacto no futuro. A ausência de boas medidas econômicas nesse momento deverá nos atrapalhar um pouco mais a frente. Filme repetido que já vimos no Lula 2 e nos mandatos de Dilma Roussef. Será que no futuro alguma galinha aparecerá para assumir os erros de agora? Ou teremos silêncio no galinheiro, como já tivemos no fim melancólico do segundo governo Dilma?

 

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