Leka Hattori é administradora formada na Universidade Estadual de Londrina (UEL), founder e CEO do “Space Terra” @spaceterrahub, um hub de projetos que atua no agora para moldar o futuro sustentável. Há sete anos representa a NASA e sua maratona de inovação aberta, em 5 diferentes cidades no Brasil. Se tornou astronauta análoga, pelo Habitat Marte. Seu TEDx é sobre a mentalidade de astronauta para o dia a dia aqui na Terra. Com formações de Westminster a Stanford, sua trajetória conecta setores diversos, Leka combina criatividade, técnica e visão estratégica para impactar positivamente o mundo. De sua atuação no Space Terra ao trabalho com dados abertos no NASA Space Apps Collective, ela nos convida a explorar como tecnologia, educação e propósito podem transformar carreiras e comunidades.
Muito grato por contribuir com nossa coluna de carreira. Em sua trajetória, você fez várias transições de carreira, desde o comércio internacional, passando pela educação e mais atualmente no setor espacial. O que normalmente pesa mais nas suas decisões nestas mudanças profissionais?
Eu sou uma pessoa, por natureza, curiosa e procuro entender a história da humanidade. Isso me leva a entender que passamos por mudanças, sejam quais forem. Então o mudar, é algo que não me assusta, eu gosto. E atingir objetivos, me motivar a buscar sempre outros novos, eu procuro não me acomodar com as realizações profissionais, e isso foi organicamente me fazendo mudar de atuações profissionais.
Sua participação no programa Embark for Stanford Rebuild deve ter lhe trazido bons aprendizados. Como essa experiência moldou sua perspectiva sobre inovação e empreendedorismo, e quais principais lições pode compartilhar sobre esta formação?
Eu terminei o então ensino médio na Califórnia, onde morei perto do Vale do Silício, e Stanford foi presente por um tempo, eu havia estado lá no campus. Não tive oportunidade de cursar fisicamente, e quando surgiu este curso online, durante a pandemia, fui aprovada, foi gratuito, e o aprendizado foi gigante, porque foi aberto há quase todos os países. Naquele momento não entendíamos o que poderia acontecer, mas o choque na economia da pandemia, trouxe com o apoio dos acadêmicos de Stanford, uma base de análise sólida, entre prós e contras daquele cenário, e como poderíamos atuar frente aos nossos próprios negócios. O grupo de whats app se mantém até os dias atuais, e se tornou uma rede de contatos de diversos empreendedores mundo afora.
Após se formar como chef pela Westminster University, você fez uma transição para áreas como empreendedorismo e gestão. Que habilidades e conhecimentos adquiridos na gastronomia você considera mais valiosos para sua atuação em negócios e educação?
Primeiro, contextualizando que minha atuação como chef de cozinha se dá dentro de um grupo empresarial centenário inglês, o qual possui ações na bolsa de valores de Londres. Minha carreira de chef se inicia dentro deste grupo, os quais mantinha a cozinha como um negócio que gerava vendas, e todo acompanhamento de custos, recursos humanos e satisfação de clientes era medido com KPI’s bem definidos, e havia um programa de distribuição de resultados entre os head chefs. Então foi uma experiência de 7 anos muito rica e intensa, foi o grupo que investiu em mim, e pagou todos os 3 anos de curso, o qual encerrei com um diploma de chef internacional. Então, além da arte da gastronomia em si, eu já tinha a graduação em administração, e por ser um grupo inglês que visava lucro e excelência em seus restaurantes, foi um aprendizado que acabei exercendo depois em um renomado restaurante em Salvador, o que me fez mudar para a Bahia.
Para a educação, é aquilo que acredito: aprender sempre! Foi nesta oportunidade de cursar uma universidade inglesa, que o grupo investiu em mim como professional, e a educação sempre como base para formação de um bom profissional.
Em 2021, você decide fundar o Space Terra, um centro de projetos relacionados a temas como Desenvolvimento Sustentável, ESG, diversidade e inclusão, entre outros. Como foi o processo de estabelecer este centro? E quais relações o centro estabelece com agências relacionadas à tecnologia espacial?
Tudo começa em 2018, quando eu encerro a atuação como chef de cozinha, por questões de buscar uma atividade com horários e ritmos mais comerciais de horários e dedicação, passo a estudar e entender sobre inovação e tecnologia. Sou aceita então para representar o hackathon da NASA, o Space Apps Challenge, para a cidade de Salvador. A partir dai, fui me conectando com diversos players da Bahia, e do Brasil, e como o Space Apps é internacional, também minha rede ampliou muito rápido, e passei a atuar em diversas atividades … Em 2021, no final da pandemia, escrevi um projeto para um edital de fomento do governo americano, e fui vencedora. O projeto era o Hack@Schools, no qual levo educação espacial em uma maratona de inovação, baseada em dados abertos da NASA, para o contexto das escolas de ensino fundamental e médio. Foram 4 pilotos em escolas públicas da cidade de Salvador, e do interior da Bahia. O impacto foi maior do que o esperado por todos, inclusive recebemos a visita da então cônsul americana, para comprovar este impacto e as oportunidades que gerou para os alunos e educadores por onde realizamos o Hack@Schools. Como este projeto executado como um MVP, bem como os demais que eu já estava envolvida, eu decidi criar um hub de projetos, um “think-tank”, onde tratamos de temas do planeta (da sustentabilidade à inclusão) e dos temas espaciais.
Eu me tornei uma autodidata nos temas espaciais, estudo sempre baseado nos desafios que são propostos pelo Space Apps da NASA, em parceria com diversas outras agências espaciais, e já se vão 8 anos … um aprendizado contínuo. E como venho de áreas de humanas, negócios e arte (gastronomia), eu consigo transmitir conhecimentos mais complexo sob os temas espaciais de uma forma que qualquer pessoa possa compreender com mais facilidade.
Este aprendizado contínuo, alinhado a minha experiência em business, me trouxe também a um patamar de entender as possibilidades econômicas que o segmento espacial gera, que vão além da defesa aérea.
E para este ano de 2025, estou buscando atuar junto ao poder público, em todas as esferas, para fomentar e explicar sobre o que está acontecendo no segmento espacial e os impactos que vem gerando, precisamos mesmo com os atrasos que tivemos no passado, acompanhar sobre as aplicações das tecnologias espaciais, como oportunidade de renda.
Como membro do NASA Space Apps Collective, você trabalha com dados abertos para promover avanços globais. Poderia descrever para nosso público três projetos principais que destaca atualmente nesta iniciativa? Em sua opinião, quais habilidades técnicas e comportamentais são essenciais para que profissionais aproveitem plenamente o potencial dos dados abertos para transformação social?
O “Colletive” é uma outra rede de contatos, que para mim se tornou bastante importante, porque tem participantes que são como eu, atuam com o segmento espacial, mas sem ser engenheiros ou efetivamente da parte técnica.
De projetos em si, eu sigo uma linha de disseminar o conhecimento sobre esta tecnologia espacial em si que é um satélite. A começar por explicar que um satélite, ou nanossatélite, é lançado por foguetes, sejam de baixa órbita ou não.
Como uma grande maioria ainda não se atentou para isso, eu contextualizo que a Uber, é uma empresa que faz uso de dados de satélites de geolocalização, que são sua matéria-prima, sem estes dados não existe Uber. Com este exemplo, percebo um despertar do grande público para as tecnologias espaciais e suas importâncias no nosso dia a dia.
A empresa Visiona, que é uma joint-venture da Embraer com a Telebrás, é um case que acho fantástico. A prefeitura de São José dos Campos monitora a cidade, através de imagens fornecidas pela constelação de satélites da Visiona, e assim conseguem ser assertivos nas decisões, em especial de licenças ambientais. A prefeitura recebe imagens, paga pelo serviço, mas não tem custo de equipamentos ou manutenção. Ficou clássico o fato de uma imagem ter indicado uma obra dentro da própria Embraer, a qual a prefeitura não havia ainda sido notificada.
E o monitoramento da região da Amazônia, inclusive tivemos o lançamento de um satélite de tecnologia totalmente brasileira, o Amazônia 1. Cujos dados enviados, servem de um monitoramento que se torna mais assertivo, do que in loco, em regiões mais densas de florestas.
Eu acredito, baseada na minha própria dificuldade de entender e acessar estes dados abertos, precisamos aprender sobre como acessá-los, e como identificar eles, em um mapa por exemplo. Eu acredito que vamos sanar isso falando sobre dados de satélites nas escolas … assim como se ensina programação ou robótica atualmente.
O “Space Apps” e o “Hack@Schools” são consideradas excelente metodologia de aprendizado, mas acontecem pontualmente. Meu objetivo é despertar os educadores para eles próprios inserirem em suas aulas diárias o uso destes dados.
A iniciativa Hack at Schools promove o desenvolvimento de soft skills e o interesse por STEAM entre os jovens. Quais são os principais desafios ao implementar um programa como esse em escolas no Brasil, e como você enxerga o impacto dessa formação para o futuro dos estudantes?
A educação, como um todo, enfrenta os desafios do mundo digital, a velocidade e veracidade de informações. Mas os educadores não recebem atualizações nesta mesma velocidade, então vejo um gap entre o que se ensina dentro de sala de aula, e o que este aluno vê em redes sociais. E sinto que há um bloqueio em relação ao tema espacial, no sentido de que por que falar disso sendo que há tanta desigualdade social ainda? Percebi que gestores públicos, em geral, precisam se atualizar também, sobre o segmento espacial e o potencial de geração de renda que aplicações espaciais podem trazer. Temos um gap de atraso que precisa ser rompido.
Vejo que os estudantes já acompanham, há matérias nas grandes mídias, os contextos de games se passam em ambientes com design espacial, ou seja, eles precisam ouvir sobre dentro das salas de aulas, e entenderem disso assim como entendem de outras matérias.
Será nesta educação espacial, que entenderemos que investimentos em robótica por exemplo, saberão que empresas buscam coletar amostras em marte, e o que já desenvolveram poderão resolver situações técnicas da indústria aqui no Brasil.
Acredito que em aulas de ciências, onde se fala do sistema solar, é preciso inserir conhecimentos que há água congelada em Marte, que onde hoje temos um rover lá, era um leito de um rio. O que aconteceu lá para marte se tornar o que é hoje como o conhecemos?
Esta atualização é que acredito que a educação precisa passar, dentre outros fatores, mas esta é a parte com a qual atuo e posso falar sobre.
Diante de sua ampla experiência, qual seria sua mensagem final para esta entrevista, visando contribuir com alguém que considera uma carreira na área espacial?
Sim, desde sempre, a área espacial foi muito difícil para nós, brasileiros. Mas hoje está mais acessível, há empresas privadas no segmento. Fluência no inglês, é fundamental. Participar do Space Apps Challenge, que acontece todo primeiro final de semana de outubro, é uma forma de se atualizar e conhecer pessoas do segmento, mundo afora, que vai compor um networking que vai ajudar. E estudar, seja em cursos, seja por leitura e espontânea dedicação. Com o online à disposição, é saber o que quer dentro da área e buscar as oportunidades.
Lições de carreira
Cada passo da jornada de Leka Hattori reforça que não existem barreiras intransponíveis quando unimos paixão, estratégia e persistência. Que suas reflexões inspirem novos profissionais a explorar suas próprias órbitas de possibilidades. Para quem deseja trilhar caminhos inovadores como o setor espacial, Leka deixa um recado importante: invista em suas habilidades, mantenha a mente aberta e esteja disposto a explorar o desconhecido. O futuro pertence aos que ousam.
Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo artigo!
Abraço, Jonny