O mundo está sempre em movimento e mudanças acontecem o tempo todo. Mas tem um tipo particular de mudança que até então era somente de endereço e sobrenome, a mudança de poder. Ele, que esteve sempre concentrado, agora está sendo dividido com outras mãos.
E esse novo poder vem das redes, das multidões, que se auto-organizam de forma distribuída, sem hierarquia definida e com lideranças momentâneas. A natureza funciona assim. A internet nasceu assim.
A comunicação por pacotes foi a base para a criação da internet, que opera através de um modelo distribuído onde a comunicação flui livremente entre todos os pontos da rede, sem a necessidade de um poder ou comando central. E são exatamente as interações livres e distribuídas entre as pessoas que formam as redes.
No artigo “Entendendo o novo poder”, de Jeremy Heimans e Henry Timms, publicado na Harvard Business Review, os autores argumentam que o novo poder funciona de forma diferente. Ele é como uma corrente feita por muitos, aberta, participativa e baseada em pessoas com características comuns.
A sociedade evolui rapidamente na direção desse arranjo, trazendo mudanças importantes na relação de poder entre as pessoas e as organizações, o que gera naturalmente impacto na relação entre consumidores e empresas.
Na perspectiva industrial do consumo, a relação de troca está centrada na oferta de produtos pelas empresas aos consumidores, e com isso são as organizações que concentram poder. No mundo de hoje, que tem a informação e o conhecimento como alicerces, a estrutura em rede permite o surgimento de novas possibilidades de interação que vão muito além da simples relação de compra e venda. Bons exemplos são as iniciativas de financiamento coletivo e os inúmeros projetos colaborativos em áreas como software livre, mobilidade, hospedagem, educação e conhecimento.
Novos produtos e serviços desenvolvidos por empresas nascentes, financiadas ou criadas com a participação coletiva, conseguem muitas vezes chegar com vantagem em relação a indústrias estabelecidas e reinventarem o mercado em que elas atuam.
Assim, muitas empresas que operam no modelo tradicional vão tendo que se adaptar a esse novo jogo de poder. Com o tempo, essa queda de braço vai se invertendo, com os consumidores passando de fato a escolherem o que, como e quanto querem pagar por um determinado produto ou serviço.
Um outro sinal deixado por essa mudança no poder vem da crise de representatividade das nossas instituições públicas e privadas, que estão sendo questionadas e confrontadas em manifestações e protestos cada vez mais frequentes, tanto no mundo online, quanto no offline.
O próprio processo de criação de conteúdo acompanha essa evolução. Este texto que estou escrevendo agora, por exemplo, reflete ideias que fui construindo ao longo do tempo a partir da troca de conhecimento e de outras fontes, como o artigo de Heimans e Timms. Essa lógica não é nova, a novidade é que esse poder foi ampliado do meio acadêmico e literário tradicional para um formato mais distribuído, onde o conhecimento é gerado e multiplicado por muitos.
O novo modelo de poder gera turbulências nessa fase de transição, mas o fato é que não há como segurá-lo. E a razão do seu sucesso é estar orientado às pessoas, aos ganhos compartilhados e a uma visão de mais longo prazo, onde o caminho importa tanto quanto o resultado. O novo poder tem também no seu cerne uma premissa fundamental que é compartilhada por todos: a confiança!
Paulo Lamim é Engenheiro de Produção pela UFSCar, com MBA em Administração pela USP e MBA em Marketing pela FGV. Tem mais de 20 anos de experiência com o desenvolvimento de novos produtos e serviços, marketing, estratégia de negócios e inovação tecnológica, tendo atuado em empresas como AmBev, Coca-Cola, TIM, Vivo e Intelbras. Atualmente é o responsável pela área de Novos Negócios no Centro de Convergência Digital da Fundação CERTI.