Pergunta interessante para uma resposta muito difícil. Não há nada que nos mostre que a criatividade possa ser ensinada, mas o que pode acontecer é a criatividade ser esmagada e, isto, é fácil de acontecer.
O modelo de ensino praticado nas nossas salas de aula é um exemplo, perfeito, de sufocamento da criatividade. É um modelo industrial aplicado na Educação que, procura de todas as maneiras, homogeneizar o produto final, que é o aluno.
A montagem das nossas salas de aulas remonta ao século XVIII, filas de carteiras, com alunos sentados uns atrás dos outros, quadro negro ou digital e, a aula centrada na figura do professor. O aluno? Na idade em que, o vigor físico é total limita-se a ficar sentado, ouvindo, de maneira disciplinada e obediente para vir a ser, no futuro, um trabalhador da indústria que, agora, já se encontra em processo de robotização, informatização e virtualização necessitando, cada vez menos braços e, cada vez mais cabeças pensantes.
O modelo de ensino – aprendizagem praticado no Brasil, país de 8 milhões de km², com regiões de hábitos e costumes diferenciados, pratica a mesma cartilha em todos seus recantos. Não há respeito à individualidade do aluno, nem sequer às diferenças regionais. As aulas têm a duração de 45 minutos e a Ciência nos diz que a capacidade máxima de atenção dos alunos varia entre 15 e 18 minutos; este é o tempo que o aluno presta atenção na aula, depois ele dispersa. Isto é Ciência, não é especulação.
Por que não se muda a disposição das salas? Por que não se muda a dinâmica da aula? Acomodação? Sempre fiz assim? Aprendi assim? São respostas possíveis.
As novas modalidades na forma de ensinar já estão circulando e penso que, com boa vontade e saindo do velho modelo, podemos cometer a ousadia de tentar. Sala de Aula Invertida, Gamificação (utilização de jogos voltados para a Educação), Mobile e-Learning (vídeos educativos, aplicativos para a Educação, leitura de livros digitais), Círculo de Leitura e, muitas outras atividades que podem transformar a aula modorrenta em um processo de aprendizagem efetivo. Sem esquecer é óbvio, das dinâmicas de grupo e a utilização dos alunos que mais sabem como auxiliares de aula, ensinado os que têm dificuldade. O aluno como agente e não como objeto!
Há muita novidade na área da Educação, nem todas são boas, mas cabe ao professor a ousadia para experimentar. Não é mais possível, em plena era digital, continuar ensinando como aprendi.
Lá por meados dos anos 80 participei de curso orientado pelo ILACE – Instituto Latino Americano de Criatividade e Estratégia, que me ajudou, e muito, a entender que não é possível ensinar Criatividade mas, é possível resgatá-la. Foi em Petrópolis e o grupo de participantes foi dividido em dois subgrupos; um era composto de pessoas sem visão e o outro era de surdos-mudos, que seriam os guias das pessoas sem visão. Fiquei entre o grupo dos cegos e, durante uma manhã inteira fui guiado por um guia surdo-mudo. Foi uma bela experiência de resgate dos outros sentidos; é óbvio que o sentido que mais usamos, é a visão. Os demais são subutilizados ou só usados em situações específicas.
Minha guia era da Bahia e meu almoço foi servido por ela e para minha surpresa só descobri que tinha comido quiabo depois do fim da dinâmica. Detalhe: quiabo nunca fez parte de minha dieta alimentar e, mesmo sem nunca ter comido eu não gostava.
Outro ponto importante a salientar na experiência: você sempre dependerá de alguém. Seja humilde!
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