Corria o ano de 1955 e eu atrás de um emprego. Tínhamos mudado para uma casa modesta no bairro de Pinheiros, em São Paulo, saindo de outra muito maior, que meu pai teve que vender para quitar dívidas. Eu queria ser engenheiro e fazia cursinho para o dificílimo vestibular da Politécnica da USP, mas ter renda que ajudasse em casa era não só necessário, mas urgente.
Tocou a campainha e minha mãe foi atender, interrompendo a preparação do almoço, eu atrás, por pura curiosidade. Na calçada, um jovem mais ou menos da minha idade, cara cheia de espinhas, portava uma prancheta e um enorme sorriso.
“Bom dia, senhora. Será que posso ter uns minutos de sua atenção? É que estamos fazendo uma pesquisa sobre produtos de limpeza e eu gostaria de ter a sua opinião”.
Os minutos não foram poucos, mas com a máxima boa vontade, minha mãe respondeu a todas as perguntas. E eu ali, vendo pela primeira vez como se fazia uma pesquisa de opinião. Quando ela voltou para a cozinha, entrei em cena: “Será que tem como eu fazer isso também?”
“Fácil – disse ele, mostrando seu crachá – é só ir até aqui, dizer que me conheceu e que quer fazer um teste”.
“Falo com quem lá?”
“Procura o Valentim”.
Lamento não ter guardado seu nome, porque foi o instrumento que em menos de uma hora me proporcionou o trabalho que precisava e me colocou no caminho do marketing.
Valentim era Valentim Blois, que anos depois reencontraria, ele contato da Lintas e eu gerente de produtos da Lever.
Lá se vão 60 anos. É muito tempo. Muitos caminhos percorridos e em todas e cada uma das caminhadas, conheci pessoas. De tantas e tão diferentes origens, posições, qualidades. Convivi, entre tantos outros, em maior ou menor intensidade, com monarcas como Pelé e o Príncipe Phillip; cantores como Gilberto Gil e Ella Fitzgerald; presidentes do Brasil e de empresas; grandes nomes da propaganda brasileira, como Julio Ribeiro, Alex Periscinotto, Boni, Mauro Salles; tive professores e alunos; centenas de pessoas trabalharam sob minha direção e fui dirigido por dezenas. De cada uma delas ficou em mim uma impressão, por terem, de alguma forma, influenciado minhas escolhas. É assim na elaborada malha da comunicação interpessoal: estamos sempre tecendo laços, que nos amarram a todos, inevitável e definitivamente.
Portanto, tenho histórias a contar, que acredito possam interessar aos que acessam este portal, então, me proponho a cada 15 dias trazer um pedacinho desta jornada para dividir com vocês, contribuindo para mostrar um pouco da história e personagens que se entrecruzaram nestes 60 anos.
Até a próxima. Te espero na segunda coluna.