Depois da tentativa frustrada de trabalhar na Lintas, continuei na ENOP com minhas pesquisas de opinião, enquanto Plínio Toni insistia no papel de padrinho, esforçando-se para me encaminhar na propaganda.
“Existe uma oportunidade na Emass. Não é nenhuma maravilha, mas é um começo. Topa?”
“Claro que topo, mas o que é Emass?”
Era um braço em São Paulo dos Diários e Emissoras Associados, o poderoso grupo de Assis Chateaubriand, que dominava a comunicação no país. Representava comercialmente as emissoras de rádio do Grupo, gerando o que provavelmente era a sua maior fatia de verbas de publicidade, dada a concentração de anunciantes nacionais na praça.
Mas essa não seria minha primeira experiência no rádio. Bem antes, ainda garoto, outro primo me levava a conhecer como funcionava uma “estação”. Roberto Assaf, com o nome artístico Roberto Assis, era o principal “speaker” da Rádio América, uma das primeiras emissoras de rádio fundadas em São Paulo que, entre outras particularidades, ostentava o salão azul, onde aconteciam apresentações de shows, peças de teatro, filmes e bailes. Assim era o rádio na sua fase áurea, oferecendo bem mais que programas radiofônicos. Roberto ancorava um noticioso diário, que acabava com “A foice e o martelo”, uma crônica política desenvolvida na forma de diálogo entre as duas ferramentas símbolos, que ele fechava com uma frase de efeito – “e o martelo, foi-se”. Havia um grande microfone à sua frente, que eu respeitosamente encarava, sentadinho, super atento. Terminado o noticioso, entrava um programa de música portuguesa com Nuno Madeira e eu ia comer uma pizza com meu primo.
A popularidade e o prestígio que hoje desfrutam intérpretes, âncoras, apresentadores e repórteres da TV eram naquela época dedicados aos que atuavam no rádio. Meu primo era um dos que faziam sucesso e então, em minha mente se desenhava o sonho precoce de trabalhar no rádio, ser um deles. Até porque, o rádio sempre participou de nossa vida em família: almoçávamos todos os dias, meus pais e eu, ao som do “Concerto do meio dia”, na Rádio Gazeta; à tarde ouvia “O Vingador” ou “Jerônimo o herói do sertão”; depois “A Escolinha da Dona Olinda” do Nhô Totico, que existia bem antes de Haroldo Barbosa criar a “Escolinha do Professor Raimundo“, com Chico Anysio, que mais tarde iria transformar o programa no grande sucesso de TV que conhecemos. À noite nos reuníamos em torno do rádio para ouvir, em ondas curtas, as notícias da guerra. Uma vez por semana ouvíamos “Repto aos enciclopédicos“, programa de temas eruditos, e aos domingos era a vez do “Cinema em casa” de Walter Jorge Durst. “PRK-30” e “Edifício balança, mas não cai” eram os humorísticos. Rádiodramaturgia, musicais, shows, programas de calouros (domingos de manhã ia assistir Homero Silva e seu Clube Papai Noel no auditório da Rádio Tupi), o rádio era um manancial de entretenimento e cultura.
E agora eu estava prestes a entrar para o mundo do rádio.
Só que, distante do sonho de criança, o papel que me foi oferecido era muito pouco charmoso e jamais me levaria a ser aclamado como astro: minha tarefa diária consistia em ler muitos jornais, assinalando as notas de mídia espontânea que os programas geravam e que eram posteriormente encaminhadas aos patrocinadores. Não havia um microfone na minha mesa, apenas pilhas de jornais e canetas.
Mas o fato é que assim conheci muitos diários de todo Brasil, o que foi muito útil, e aos poucos ia aprendendo com Humberto Gargiulo, jornalista e diretor dos Diários e Emissoras Associados, que dirigia a Emass antes de, em 1960, fundar a SEARA (Serviços Associados das Rádios). Seu segundo, Moreira, a quem eu respondia diretamente, deu-me uma oportunidade inesperada pouco antes que completasse minha permanência de seis meses no rádio.
Isso fica para a próxima coluna. Te espero lá.