O que você consegue fazer em seu negócio ao longo de dois, três anos? Ralar, conseguir alguns clientes, contratar pessoas? Falir? Há quem consiga criar negócios milionários, atrair mais capital e projetar um crescimento ainda mais acelerado para os próximos anos.
Não, não é feitiçaria, é tecnologia. Ou melhor, são os negócios exponenciais, que precisam vencer – como qualquer outra empresa inovadora – o “vale da morte”, aquele período entre a construção da ideia/produto, a validação com o mercado, a obtenção de clientes e crescimento da equipe.
As mais bem sucedidas startups do mundo – e aqui da região – seguem esse roteiro, um misto de sangue suor e lágrimas para o empreendedor mas que, depois de validado, pode se transformar num negócio milionário a partir da construção das “máquinas de venda”.
A trajetória dos personagens dessa história aqui ilustra bem como isso funciona:
Ao longo de dois anos, os sócios Donisete Gomes e Edson Maestri, de Blumenau, trabalhavam silenciosamente desenvolvendo um software para automatização do atendimento a clientes (helpdesk/servicedesk) com alguns diferenciais que faltavam no mercado. Em 2016, lançaram o Movidesk e ficaram satisfeitos com o resultado inicial: 100 clientes e uma receita mensal recorrente de R$ 30 mil. Ao final daquele ano, inauguraram uma sede e contrataram o primeiro funcionário.
No ano seguinte, participaram de um programa de aceleração em Porto Alegre, receberam um aporte de capital semente e já contavam com 400 clientes e uma equipe de 17 pessoas. O ritmo ficou mais alucinante ao longo de 2018, quando ultrapassaram a marca de 700 clientes, um faturamento anual na faixa de R$ 2 milhões e tiveram que mudar de sede, para um prédio de 650m2 no centro de Blumenau.
Os resultados chamaram a atenção de dois fundos de investimento, a Abseed e a RedPoint Ventures, que anunciaram aporte – sem valor divulgado, mas provavelmente na casa de alguns milhões – na Movidesk, com o objetivo de pisar ainda mais fundo no acelerador. Segundo Edson, COO da startup, a intenção é triplicar o faturamento neste ano e repetir a dose no ano que vem. A partir de 2020, esperam começar a aventura no mercado internacional.
Negócios com esse perfil tendem a ser cada mais recorrentes no ambiente de inovação e tecnologia do Brasil, como acreditam os outros personagens desse causo: Geraldo Melzer, Felipe Coelho e Franco Zanette fizeram parte da construção da “máquina de vendas” da Resultados Digitais mais ou menos no mesmo período em que a Movidesk desenvolvia seu software e chegou ao mercado. O sucesso da RD na época se juntava a várias outras empresas que ofereciam as mesmas condições de crescimento em escala: software como serviço com foco no mercado corporativo, também conhecido como o modelo SaaS B2B.
No final de 2016, o trio se juntou a Marcelo Hoffmann, advogado com atuação em áreas como Estruturação de Negócios, Fusões e Aquisições, para criar um fundo de capital de risco para investir exclusivamente em startups SaaS B2B. Sim, é justamente a Abseed, uma das novas sócias da Movidesk. Segundo Geraldo, só nestes dois primeiros anos de atividade o fundo já avaliou mais de 240 startups e investiu em quatro. A estimativa é chegar a 16 empresas no portfólio ao longo dos próximos três, num total de R$ 35 milhões de recursos investidos.
Uma história e tanto que se desenrolou num intervalo de tempo bem menor do que uma Copa do Mundo. Esse é o giro alto do ecossistema de tecnologia, que tem atropelado antigas certezas (e empresas bem estabelecidas) enquanto gera negócios novos e robustos com uma velocidade assustadora.
E sem feitiçaria.