Sexta-feira, 10h da manhã, saio de casa para resolver alguns assuntos na rua, uma pauta extensa de afazeres profissionais e pessoais. Inclusive estar sempre atenta a assuntos possíveis para esta crônica que não fosse futebol. Tudo sairia nos conformes se não fosse uma sexta-feira de jogo do Brasil na Copa!
No ponto de ônibus, esperando por alguns minutos a mais que o normal, descubro uma greve naquela linha que precisava pegar. Esquivei-me pela lateral direita e emburaquei no metrô. Depois de uma longa fila para comprar o bilhete, apenas alguns guichês atendendo e várias catracas com defeito. Abordei o segurança: “Mas por que tantas catracas com defeito? Sem manutenção?” Responde ele: “Vão arrumar depois da Copa!” Entendi.
No metrô, sento em frente a uma senhora e um rapaz. Ele com mochila e boné do Chile, ela com um sorriso despojado e muita vontade de papear. Ele pede uma informação e pergunta porque há bancos quebrados naquele vagão. Ela com seu portunhol responde: “Meu filho, aqui no Brasil é assim, eles devem arrumar depois da Copa!”
Saio do metrô e vou direto ao banco. Estamos em greve! Filas enormes de senhores e senhoras atordoados e carentes de alguma explicação sobre o que está acontecendo, sobre os caixas eletrônicos sem cédulas. Sem respostas e sem dinheiro, saem resmungando um país que não responde mais aos cuidados de um povo. Corro para o banco ao lado, a mesma coisa. Uma sequência de portas fechadas às necessidades básicas e diárias para que a vida funcione. A greve deve acabar depois da Copa!
Mas, para o brasileiro, todo dia é dia de jogo! Sair pela cidade para trabalhar, usar transporte público, resolver burocracias é um grande jogo diário. Driblar as dificuldades, enfrentar faltas o tempo todo, cartão amarelo para a impaciência, falta de educação e trânsito em excesso, cartão vermelho para a impunidade política. Os gols? São batalhados a cada jogada, depois de um longo dia de trabalho, conseguir colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. E todo bom jogador sabe que nem todo dia é dia de gol!
Nós, jogadores de todos os dias, que estamos precisando de gramados novos nos nossos hospitais, de bolas novas nas nossas escolas, de chuteiras novas para a nossa segurança e bons olheiros para descobrir bons políticos. O brasileiro é, sim, o melhor jogador do mundo, só não pode esperar para acordar sempre depois da Copa!