Comunica que a nossa democracia inda é débil. Comunica que o país virou uma nação dividida entre prós e contras, entre azuis e vermelhos, entre esquerda e direita. Comunica que a intolerância com o pensamento contrário não está só nas redes sociais, mas na vida real. Comunica que estamos realmente muito longe de uma política civilizada, inteligente, consciente.
O atentado à democracia, cometido no dia 6 de setembro, quando um desconhecido cidadão que se identifica com a chamada “ideologia de esquerda”, esfaqueou o candidato a presidente identificado com a denominada “ideologia de direita”. Um ato grave não só porque o crime atentou contra a vida, mas também porque atentou contra o direito de todo o cidadão brasileiro ter uma opinião diferente da do outro. Um ato que precisa ser punido com todo o rigor dos termos da lei, para não dar a impressão que podemos atentar contra todos aqueles que pensam diferente de nós, seja na esfera política ou em qualquer outra.
O fanatismo é um mal social em si. Ele está presente em vários espectros da vida social, mas fica mais latente na política, religião, futebol… quando um ser acredita cegamente em algo, em uma situação, não permitindo abrir seus horizontes para outras possibilidades, tende a ficar tão intolerante com a opinião dos outros que atitudes extremas passam a ser uma real possibilidade. O fanático não respeita o outro, pois não respeita o direito do outro de pensar diferente. Vira o dono de uma “verdade” que é dele, e para ele só esta verdade existe.
Alguns desses fanáticos buscaram relativizar o crime cometido contra Jair Bolsonaro (e poderia ser contra qualquer outro candidato, independente do viés ideológico ou sigla partidária).
Acreditam estes que “é tudo armação” para que o candidato cresça ainda mais eleitoralmente ou ainda que “o candidato prega a liberação das armas, incita a violência e por isso contra ela houve violência”. Por aí se pode notar o nível de intolerância que o fanatismo produz. John Lennon pregava a paz e foi assassinado por um fanático pela vida do próprio cantor líder dos Beatles. Nas redes sociais foi possível observar o ódio fanático de muitas e muitas pessoas que, cegas em sua crença ideológica, não conseguem respeitar nem a dor, nem a vida de outra pessoa.
É preciso que a sociedade brasileira reflita muito sobre este caso em especial e defina que rumos quer tomar. Queremos um país de segregados, de pessoas divididas por suas opiniões, ideologias, crenças, raças, gêneros, classes sociais? Queremos mesmo um país onde não possamos ter nossas próprias ideias, onde não possamos expressar nossas opiniões (com respeito às opiniões dos outros)? Queremos um país onde a empatia com a dor alheia não exista e o respeito a quem pensa diferente seja descartável? Porque se é isso que queremos, estamos trilhando um caminho tribal sem volta. Que este atentado contra um candidato a presidente da República nos ajude a refletir, como sociedade, qual o país queremos agora e também para o futuro.