Apesar dos percalços pelos quais a sociedade global está passando em diferentes níveis e países, cada vez mais os formadores de opinião estão dando ênfase à diversidade, sobretudo no mundo do trabalho. Obviamente, existem várias dimensões a considerar relacionadas a este tema. Aqui, nossa intenção é contribuir com apenas algumas destas.
Por que a diversidade importa?
Embora o retorno financeiro, no meu entender, não deva ser o aspecto principal, esta é a primeira dimensão a que faço referência. Neste contexto, a relevância da diversidade é o tema central desta pesquisa conduzida pela McKinsey, visando entender seus efeitos sob o desempenho das organizações. O estudo foi baseado em dados de mais de 300 empresas públicas em diversos setores no Canadá, América Latina, Reino Unido e Estados Unidos. Foram analisadas métricas como resultados financeiros e a composição da alta administração e dos conselhos. O trabalho apresenta que ficou evidenciada uma correlação indicando que quando as empresas se comprometem com uma liderança diversificada, elas são mais bem-sucedidas. A pesquisa deixa claro que correlação não equivale à causa, mas destaca a relevância deste principio. O estudo aponta várias conclusões, das quais citaremos apenas algumas:
As empresas que apresentam maior nível de diversidade racial, étnica e de genêro são mais propensas a ter retornos financeiros acima de suas respectivas médias da indústria nacional. Por exemplo, nos Estados Unidos, foi observada uma relação linear entre diversidade racial e étnica e melhor desempenho financeiro.
O desempenho desigual de empresas do mesmo setor e do mesmo país implica que a diversidade é um diferencial competitivo, evidenciando uma participação de mercado para empresas mais diversificadas.
O relatório aponta que não é fácil alcançar a diversidade. A título de comparação, segundo o estudo, as mulheres continuariam sendo sub-representadas no topo das corporações globalmente, representando apenas 16% dos membros das equipes executivas nos Estados Unidos, 12% no Reino Unido e 6% no Brasil. Em termos de diversidade racial, o Reino Unido teria em torno de 78% das empresas com liderança sênior que não refletiriam composição demográfica da força de trabalho e da população do país, em comparação com 91% para o Brasil e 97% para os Estados Unidos.
Como conclusão, o estudo destaca que numa realidade de mundo profundamente conectado e global, não é surpresa que empresas e instituições mais diversificadas estejam alcançando um melhor desempenho. Aponta, ainda, que as organizações devem fazer mais para aproveitar a oportunidade que a diversidade na liderança representa. Vale destacar que este estudo foi feito há pouco menos de uma década, mas é bem provável que tal realidade no nível da liderança não tenha alterado muito.
Como a demanda por maior diversidade impacta na contratação de executivos?
Este é o tema central deste recente artigo, publicado na Harvard Business Review. Segundo a matéria, no passado, na contratação de seus executivos, as empresas costumavam buscar por alguém com experiência técnica, habilidades administrativas superiores e um histórico de gestão de recursos financeiros com sucesso. Na pesquisa por candidatos de fora de seus quadros para preencher essas funções, muitas vezes as empresas favoreciam executivos de grandes corporações ou consultorias, que tinham a reputação de cultivar essas habilidades em seus líderes. Tal prática não se mostra mais uma realidade, diante das grandes mudanças sobretudo nas últimas duas décadas. Atualmente, as empresas precisam contratar executivos capazes de motivar forças de trabalho diversificadas, tecnologicamente experientes e globais, para desempenhar um papel de estadista corporativo, lidando efetivamente com cenários que envolvam diversidade entre governos e até ONGs de grande influência e que podem aplicar suas habilidades de maneira rápida e eficaz em uma nova empresa, em um setor que pode ser desconhecido e, muitas vezes, com executivos que eles não conheciam anteriormente.
Existe efeito da diversidade na criatividade das equipes?
Um dos mais relevantes estudos abordando a “diversidade étnica e a criatividade em pequenos grupos” foi uma pesquisa realizada na década de 1990, na Universidade de Michigan (EUA). Este estudo, que conta com mais de 1200 citações na base Google, teve como objetivo mensurar como a diversidade poderia contribuir ao aumento da criatividade dos grupos, avaliando diversidade como fonte de vantagem competitiva. Como sua fundamentação, são apresentados estudos mostrando impacto da diversidade com efeitos positivos nas organizações, e como atividades realizadas por grupos de diferentes étnias contribuíram para empresas alcançarem uma maior variedade de mercados. O estudo comparou o desempenho de diferentes grupos envolvendo os seguintes perfis: apenas anglo-americanos (considerados homogêneos), e outros grupos contendo também membros afro-americanos, hispano-americanos e asiático-americanos. Os grupos tiveram que gerar ideias, com base em brainstorming, para aumentar número de turistas para os Estados Unidos. Como principais resultados, a pesquisa apontou que os grupos heterogêneos geraram melhores ideias, tanto mais viáveis quanto mais efetivas, ou seja, quanto a ideia de fato poderia contribuir para objetivo definido. Por outro lado, o trabalho também concluiu que maior diversidade pode estar relacionada a sentimentos negativos entre membros, dificuldades de comunicação e maior rotatividade.
Iniciativas estratégicas voltadas à diversidade
Existem vários exemplos de organizações, tanto do setor público como da iniciativa privada, que apresentam iniciativas estratégicas visando maior diversidade. Para ilustrar, citamos apenas dois. Talvez não seja de conhecimento do público em geral, mas a NASA tem um setor especialmente voltado a esta iniciativa. Trata-se do Escritório de Diversidade e Igualdade de Oportunidades, cuja missão é liderar políticas, programas e serviços de diversidade e direitos civis, permitindo que o universo de talentos disponíveis contribua de forma inclusiva e equitativa para a organização. Ao definir sua visão sobre a relação entre inovação e diversidade, a NASA apresenta que está embarcando nos próximos passos em nova jornada, usando a estação espacial para desenvolver as tecnologias necessárias para a exploração do espaço profundo, enquanto constrói a próxima geração de espaçonaves humanas de volta à Lua e que levarão humanos a Marte. Os próximos anos serão ainda mais incríveis que os primeiros e para atingir esses objetivos ambiciosos, para isto, a NASA depende de um talento diversificado de experiência, perspectivas e origens. Assim como a tecnologia impulsiona a exploração, o mesmo acontece com a inovação e a diversidade.
Outro exemplo digno de menção é a HP, que em sua página institucional, define diversidade e aponta cinco pilares que suportam suas iniciativas nesta direção, a saber: Impulsiona os negócios; Importa aos seus parceiros; Alimenta a inovação; Melhora as comunidades onde a empresa atua; e contribui para atrair e reter os melhores funcionários. A empresa também apresenta histórico com os principais marcos relativos à diversidade, sendo os mais antigos das décadas de 60 e 70.
Como contribuir para uma sociedade mais diversa?
Uma pergunta que bem por surgir na mente do leitor, talvez seja algo como: Ok, estou convencido que a diversidade, em suas múltiplas dimensões tem valor, mas como devo me preparar para atuar num ambiente mais diverso, diante da minha realidade atual, que nem sempre foi assim?
Com certeza, alguma reflexão deste tipo tem total fundamento, pois apesar de vivermos num mundo mais conectado do que nunca, são crescentes as manifestações contrárias à diversidade, sobretudo diante do preconceito que se manifesta das mais diversas formas. Sem desejar tratar da complexidade desta questão em sua amplitude, a contribuição que pretendo deixar é que antes de ser enfatizada em função do seu potencial retorno financeiro, vantagem estratégica ou mesmo diferencial competitivo, por mais relevantes que estes aspectos sejam, a diversidade deve ser elevada a um maior nível, a tal ponto que ela seja considerada um princípio central de vida, simbolizado como “unidade na diversidade”, em que os sistemas educacionais preparem crianças, jovens e adultos para esta nova realidade.
Pense sobre isto!
Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo artigo!
Abraço, Jonny
Imagem no topo> Gerd Altmann do Pixabay