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Coluna Carreira | Entrevista com o jornalista Fernando Parracho
30 de Janeiro de 2023

Coluna Carreira | Entrevista com o jornalista Fernando Parracho

Conheça um pouco sobre carreira, principais decisões e recente guinada.

Por Prof Jonny 30 de Janeiro de 2023 | Atualizado 30 de Janeiro de 2023

Fernando Parracho tem formação em Jornalismo pela PUC de Porto Alegre, e Pós-Graduação em Economia e Gestão do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá. Com uma carreira de mais de 30 anos no jornalismo, tanto no campo como no estúdio, Parracho fez parte das seguintes empresas RBS, TV Centro-América, Globo Rio, e por quase duas décadas na RPC- Paraná, atuando nos últimos anos como âncora de alguns jornais. Ele também atuou no Globo Ecologia em 1998. Em dezembro de 2020, ele se despediu, como costuma falar em algumas entrevistas, do jornalismo diário para assumir outro desafio, na área da agricultura.

Em nossa entrevista, Parracho comenta alguns pontos sobre sua carreira, decisões que geraram grandes mudanças, bem como sobre a recente guinada.

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Agradeço muito por sua disposição em contribuir com nossa coluna sobre carreira. Sabemos que em muito nossas trajetórias são influenciadas diretamente pelas decisões. Considero sua trajetória impressionante, que deve servir de inspiração para jovens profissionais. Quais decisões você considera que foram mais estratégicas no início de sua carreira?

Comecei, efetivamente, no jornalismo de televisão em 1994, pois até 1993 fazia formação na PUC. Já estava fazendo parte de um grupo de trainees “caras novas” da RBS. Embora já tivesse experiência no jornalismo impresso bem antes disto. Uma das principais decisões estratégicas foi quando recebi convite para trabalhar na TV Centro-América em Cuiabá, fazer trabalho de reportagem, apresentar jornal, e edição. Por que digo que esta foi uma decisão estratégica? Porque nas minhas condições de vida, já casado com dois filhos, e esta proposta veio não apenas com um bom salário, mas também era um desafio gigantesco. A RBS foi uma ótima escola, não só para mim, mas para vários jornalistas de renome nacional, mas eu sonhava com experiências diferentes. E quando veio convite, quase todos a minha volta, colegas e minha chefia,quase todo mundo falou “não, você é louco, sair daqui do RS para ir para MT, você não conhece lá, é diferente, e disseram que não deveria ir para uma empresa que não conhecia”.Alguns comentários eram em tom de brincadeira, mas a maioria era séria. Porque deveria sair de uma empresa forte no jornalismo para uma empresa que eu não conhecia… A TV Centro América era, e é uma afiliada da Rede Globo, e a rede matogrossense cobre MT e MS, uma região de importância estratégica, para o Brasil, devido ao agronegócio, serviços, meio-ambiente.
Considero que esta foi uma decisão estratégica, isto me colocou aos olhos de muito mais gente no jornalismo mesmo, pois passei a fazer, eventualmente, matérias de abrangência nacional da Globo, fazendo reportagens para Jornal Nacional, Jornal da Globo, Bom dia Brasil, e Jornal Hoje. Passei a ser visto por quem definia pautas, matérias, e ali posso dizer que comecei minha carreira mais com foco em Brasil do que apenas foco regional. O aprendizado foi imenso, era um ambiente totalmente novo, desconhecido para mim e de certa forma, posso dizer, modestamente, que tomei uma decisão corajosa, porque levar a família era um desafio de adaptação, de engajamento, e posso dizer que ali foi definitivo, uma guinada definitiva na minha carreira, por conta, modestamente, da minha coragem, do apoio recebido da família, e porque acabei tendo um espaço que não tinha. Tentei ocupar da melhor maneira este espaço, e não só no exercício profissional, mas também no integrar-se ao ambiente da sociedade local, nas amizades que construi lá. Enfim, em todos sentidos pessoal, profissional e familiar, foi uma experiência riquissima. E são tivesse tomado esta decisão estratégica, digamos assim, não sei onde estaria hoje.

 

Quanto tempo você tinha de RBS em Caxias quando você aceitou o convite para ir para Cuiabá? E em Caxias, você também era do grupo RBS?

Tinha um ano e meio como contratado em Caxias. Sim, em Caxias era do Grupo RBS. Sempre trabalhei em afiliadas da Rede Globo, no Sul, em Mato Grosso e aqui no Paraná. A carreira foi me conduzindo desta forma, não tenho nada contra outras redes, muito pelo contrário, mas acabou que sempre trilhei este ambiente e para mim foi muito construtivo. Também tive um período de um ano no Globo Ecologia, como citado na introdução, que foi após meu primeiro período em Cuiabá, morei dois períodos lá. Logo depois do Globo Ecologia, fui trabalhar na Globo do Rio, na editoria local.

 

Quando você estava no Globo Ecologia, a qual empresa estava ligado?

O Globo Ecologia era um programa da Fundação Roberto Marinho, que era exibido na grade da TV Globo, eu trabalhava para Savaget Produções, que era a produtora independente que criou o Globo Ecologia, como freelance. Aliás, até onde sei, o Globo Ecologia tinha, até pouco tempo, o maior acervo de imagens sobre meio-ambiente do Brasil. E um dos maiores da televisão mundial, pois foram anos de programa, não sei precisar quantos anos ele ficou no ar, mas tinha uma produção muito intensa na mão de dois profissionais incríveis, Cláudio Savaget que trabalhou muito tempo na Globo, foi diretor do Globo Reporter, jornalista com grande experiência, e da Elza Savaget, que era produtora executiva, e era uma pessoa ousada, sempre focada em inovação, nos projetos, iam a lugares onde nunca a TV tinha ido, pelo menos o Globo Ecologia nunca tinha ido, enfim, foi um programa que revelou muito do Brasil.

 

Legal, dentre as várias áreas do jornalismo quando e como foi a sua escolha para atuar na televisão?

Não sei se tive esta escolha, porque quando se entra como reporter de TV, o jornalista vai para chamada geral, a editoria que te coloca diante de pautas as mais diversas. Não sei se tive uma escolha, quero trabalhar com isto, queto trabalhar com aquilo, mas a gente vai também conseguindo exercer preferência sobre algumas áreas. Duas áreas que gostei de trabalhar foram meio ambiente e agricultura de uma maneira geral, agro pecuária. No período em que trabalhei em Mato Grosso, nos dois períodos, fiz muitas matérias para o Globo Rural, por conta da vocação do estado para o agronegócio, fiz muitas matérias, trabalhei praticamente dois anos e meio, toda semana produzindo uma matéria, geralmente de economia rural, comportamento, história, enfim, empreendedorismo na área do agronegócio, de uma maneira mais ampla, mas também agricultura familiar, assentamento, reforma agrária. Estas são as duas áreas que mais me atraíram, sempre pensando mostrar histórias de gente, não apenas de lugares. Por exemplo, o Globo Ecologia mostrava lugares, sempre muito atraentes, e interessantes do ponto de vista de natureza, meio ambiente, mas o foco era sempre nas pessoas que viviam ali. Quem elas eram, o que elas faziam, como elas faziam, como sobreviviam. E esta foi uma experiência gigantesca na minha vida, apesar de ter durado apenas um ano, por conta de vários fatores, inclusive o acidente. Este foi definitivo, porque na retomada… comecei em janeiro de 1998 no Globo Ecologia, o acidente foi em setembro, e aí, como foi um episódio muito traumático, a retomada da produção daquele ano foi pouco demorada, ela foi complicada por conta do desfalque de pessoas da equipe. Infelizmente, morreu um membro da equipe, no alto do Monte Roraíma, nas primeiras 24 horas depois do acidente, tivemos a perda de Ricardo Cardoso, que chamavamos carinhosamente de Cuca, ele era auxiliar técnico e também cinegrafista, ele faleceu em virtude de complicações decorrentes de hemorragia interna… Então, estas duas áreas do jornalismo sempre me atraíram muito. Nunca gostei muito de fazer Política, não é uma área em que me sinto à vontade de trabalhar, mas cobri viagens de presidentes, por estar numa fronteira de jornalismo em que os reporteres locais cobriam para a rede nacional, quase que na maioria das vezes nos eventos ligados a viagens presidenciais, sobretudo viagens ligadas ao Mercosul. Depois no Paraná, também cobri agendas de vários presidentes e personagens de Política Nacional, mas nunca foi uma área em que me senti muito à vontade. Fiz esporte também, gosto de fazer esporte, mas não é também minha preferência, tanto é que o esporte foi ao longo do tempo, no sistema Globo, se tornando uma editoria independente ou auto-gerenciável . Hoje, digamos é uma diretoria indendente do jornalismo geral, é uma diretoria própria. Eles desenvolveram um modelo econômico, jornalístico, muito efetivom, que é um grande negócio.

 

Se você fosse pudesse resumir, quais foram os maiores desafios da sua carreira?

Não ter medo do desconhecido, tanto em termos de lugar, e situações. Buscar sempre um olhar mais abrangente possível diante das situações em que a gente se ver colocado como jornalista. E exercer o jornalismo de uma maneira honesta, verdadeira. Por que considero isto um desafio, deveria ser uma coisa absolutamente comum, o desafio de maneira geral é o fato de você ser reporter no Brasil. Acho que isto é um grande desafio, porque é perigoso, tanto que vemos aí o número de mortes de jornalistas no Brasil, nós somos, infelizmente, um dos países do mundo que tem o maior registro de mortes de jornalistas e comunicadores. Isto é muito triste para nossa profissão. Acredito que Human Rights Watch faz um acompanhamento, um levantamento sobre isto. Existem também instituições, associações ligadas diretamente ao exercício da profissão de jornalista que fazem também estes levantamentos, vale citar Repórteres sem Fronteiras, e aqui no Brasil a ABRAJI-Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo também acompanha isto.
Também, do ponto de vista pessoal, para aqueles que mudam de região, como ocorreu comigo algumas vezes, é desafio da adaptação você tem que se adaptar rapidamente ao novo lugar, ao novo contexto profissional de amigos, colegas, tecer uma teia de relacionamentos novos, você não tem muito tempo para isso, isto tudo tem que ser feito num prazo meio recorde. Outro grande desafio é a construção de fontes de informação, isso também não é um trabalho fácil. Este é um dos grandes desafios na carreira de qualquer jornalista, é construir suas fontes, estabelecer uma relação de confiança com suas fontes. E quando você muda, às vezes se vê forçado a recomeçar este trabalho, muitas vezes do zero. Então, admiro muito os repórteres, que principalmente cobrem política, há muitos anos que temos jornalistas de grande respeito, pelos quais tenho grande admiração nesse trabalho de construir suas fontes, todo dia, toda semana, todo mês, todo ano, mantendo a qualidade da informação, mantendo o acerto na apuração, a precisão na informação, porque isto é um trabalho muito árduo, principalmente nessa seara da cobertura política.

 

Em seu currículo consta uma pós-graduação em Gestão e Economia em Agronegócio, dentre tantas opções, inclusive algumas mais próximas ao jornalismo, por que essa escolha? E se isto teve alguma relação com seu trabalho no Globo Ecologia?

Sim, teve uma relação com o trabalho no Globo Ecologia e no Globo Rural. Nesta época que fiz este curso, tinha ido morar em Maringá, norte do Paraná, que é uma região, digamos assim, muito forte no agronegócio. Já vinha com a experiência de trabalhar para o Globo Rural em Mato Grosso, e me vi de novo num cenário de muita força do agronegócio. E aí, meu chefe na época, José Nascimento, me estimulou, falou Parracho vá fazer este curso. Tenho muito orgulho de ter feito este curso, porque ele me ajudou muito a interpretar números, dados, contextos, situações relativas ao agronegócio, e apliquei muito destes conhecimentos na reportagem diária. Cobrias estes assuntos ligados direta ou indiretamente ao agronegócio, mas tenho muito orgulho porque participei da primeira turma do Curso de Economia e Gestão do Agronegócio da Universidade Estadual de Maringá, UEM. Era a primeira turma, de alguma forma, meu nome está nos anais da UEM como aluno da primeira turma. Sei que este curso teve continuidade, era um curso que tinha profissionais e professores de várias áreas, embora o curso tenha sido originário do Departamento de Economia, mas tinha profissionais ligados a várias áreas, e um corpo docente do qual também me orgulho muito de ter sido aluno, porque eram profissionais extremamente capacitados, quase todos com doutorado, se não tinham naquela época, estavam fazendo. Enfim, um nível que me faz pensar quanto importante, investirmos na educação, é claro, desde a base, mas também neste ambiente acadêmico de formação de profissionais. Você é um profissional dessa área, sabe quão importante que um governo de um país invista na formação dos seus profissionais. É isso que faz um país mudar de degrau no seu desenvolvimento econômico, social, científico, técnico, enfim e eu me orgulho muito de ter tido este corpo docente tão bem preparado, tão de mente aberta, todos profissionais brilhantes nas suas áreas e carreiras. Então foi por isto que escolhi este curso, disse a mim mesmo, quero aprender um pouco mais sobre como as coisas funcionam num contexto de economia e gestão. Como era um curso de pós-graduação, eu era o único jornalista, a maioria dos colegas era de profissionais do agronegócio, agronomos, agentes econômicos, pessoal da área de vendas de equipamentos e insumos, gente de cooperativa, que traziam uma experiência muito rica. Sendo o único jornalista, fui sempre bem recebido, porque o pessoal via que minha busca ali era uma busca muito verdadeira.

 

Você fez este curso em paralelo ao trabalho, certo?

Sim, o curso tinha aulas presenciais no período da noite. Trabalhava durante o dia, e à noite fazia o curso.

 

Daí, tem essa história de como foi esta sua mudança de carreira agora. Então, a pergunta seguinte é: Desde quando você começou a preparar o caminho para mudança do jornalismo para se tornar um produtor rural? Quais fatores influenciaram nesse processo?

É difícil determinar com precisão por quanto tempo este processo ficou sendo gestado, mas, digamos assim, no ano de 2019 em diante, este processo foi se intensificando, este desejo de mudança de rumo foi intensificando. E aí entram muitos fatores pessoais, e não caberia aqui ficar dizendo, porque fatalmente vou esquecer algum ou vou dar enfase maior a outro, foram vários fatores, situações de vida, elementos da vida pessoal, que envolvem todas as áreas da vida, foram se juntando, digamos assim, até brinco que diante da ansiedade de empreender uma mudança na vida ou da urgência, que não era meu caso, pois no meu caso estava no auge da minha carreira. Mas assim, sempre brinco que dizia assim, não… vou mudar se acontecer tal coisa, se tal coisa se concretizar, aí eu mudo. Aí, passava um tempo e esta coisa se tornava realidade. Daí falava, não, mas isto aí tinha que acontecer mesmo, agora dependendo de tal coisa, se tal coisa acontecer, aí sim, aí eu mudo. E assim as coisas foram se sucedendo mais ou menos desta maneira, aquelas “coisas” que eu esperava que acontecessem, ou eram necessárias para tomar uma decisão definitiva, elas iam acontecendo. Até que um momento eu quase que posso dizer que “ouvi o universo”, esta palavra que a gente usa bem genérica, mas é a força de Deus, da Fé, enfim, chegar pra mim e dize assim “o que mais você quer que aconteça para você tomar a decisão? Pode falar, vamos ver…” Vale complementar que tive um episódio da minha vida, quando estava começando a minha carreira profissional, que não foi no jornalismo, pois entrei na universidade para fazer jornalismo com 27 anos, o que para média dos estudantes já é um período um pouco tárdio, mas o que fiz até esta época, trabalhei em várias áreas principalmente ligadas ao comércio, ambiente empresarial nos diversos setores, mas quando tinha uns 24 anos, tomei uma decisão semelhante a esta, deixei um emprego que tinha, com um campo grande de crescimento, e junto com meu pai, nós juntamos um pouco de dinheiro, e compramos uma pequena área rural nas imediações de Porto Alegre, no município de Viamão. E começamos lá juntos, meu pai tinha a empresa dele que tocava em Porto Alegre, e eu era responsável por desenvolver este projeto. E nós, durante quase três anos, vivemos quase que de maneira autosustentável, claro que precisamos investir lá para construir uma casa, algumas outras instalações para criação de animais, e o próprio cultivo da terra. Posso dizer que vivi neste período do meu trabalho e da minha esposa, ela produzia, a partir do leite que retirávamos das vacas, queijo e derivados. Isto durou praticamente três anos, tinhamos apenas duas vacas, mas que eram muito produtivas, a área não comportava número maior de animais, também tinha galinhas, vendiamos ovos… e meu pai, quando vinha nos visitar, levava estes produtos para vender em Porto Alegre, também estavámos começando a criar abelhas, já tinhamos um pouco de produção de mel, tinhamos roça, horta e um pouco de lavoura. Então vivi esta experiência muito intensamente no período em que tinhamos os filhos pequenos, o mais velho (Lunaé) tinha dois anos e meio…Daí, você pode perguntar, por que você não continuou com este projeto? Aí, tenho que fazer uma referência a um cidadão, um senhor chamado Fernando Collor, que lançou na época seu famoso, famigerado Plano Collor, e se apropriou indevidamente de milhões de reais das contas privadas e empresariais. Então, a empresa que meu pai tinha com outras pessoas praticamente quebrou, e por isto tivemos que vender a chácara. Então, saí de lá, voltei para área comercial, de vendas principalmente, mas aquilo ficou para mim como uma ferida aberta, um sonho que foi rasgado, interrompido, abortado, na verdade não era nem mais um sonho, era um projeto de vida. E isto foi de uma maneira ou de outra me levando a buscar concretizar outro sonho que era o jornalismo, desde a minha adolescência escrevia poemas, artigos, reportagens, já tinha trabalhado dos 17 aos 19 anos, trabalhei em jornais do interior do RS, mesmo sem ser formado, naquela época não era exigido diploma. Apesar de hoje voltar a não ser exigido, considero que o curso universitário sempre é muito importante, diria até fundamental para formação de qualquer profissional em qualquer área, mas aí foi isto. De vez em quando, ele vinha à tona ao visitar uma área rural, me perguntava, podia estar fazendo isto… mas não me arrependo de nada, acho que o jornalismo me deu oportunidade de construir uma história profissional, uma carreira que teve seus episódios dificeis, mas que me deu muitas conquistas, realizações, consegui chegar num nível que considero muito bom para um jornalista no Brasil… mas as pessoas me perguntam, se você estava no auge da carreira, por que decidiu encerrar? Aí, eu o que digo, aquelas coisas que mencionei, aqueles fatos, acontecimentos que esperava tanto, foram se realizando, e também o avanço um pouco da idade, completei em dezembro do ano passado 60 anos. Em várias fases da vida, uma pessoa se faz perguntas. O que quero? O que valorizo? Onde quero ir? Também tinha questões de saúde. Por exemplo, estava fazendo exames de rotina e dois médicos diferentes disseram, olha você deveria pensar em mudar seu ritmo de trabalho, porque você vai forçosamente adquirir problemas de saúde que você não tem ou não teria, por conta da vida que você leva, de stress, de horários, e eu não tinha como fazer esta mudança, porque eu era funcionário de uma empresa, não tinha como chegar na minha chefe, tinha duas chefes jornalistas, aliás pessoas a quem admiro demais, não tinha como chegar nelas e dizer que quero trabalhar em tal horário, fazendo tal coisa, não existe isto, os profissionais de jornalismo, de uma maneira geral, especificamente de televisão são operários, trabalham como operários da informação. É um ritmo de trabalho muito puxado, você acaba ficando ligado 24 h por dia, e não existe como você se alienar do que está acontecendo, então você é absorvido quase que totalmente pela profissão. Este foi um dos fatores para fazer a mudança. Hoje, teria como fazer esta mudança, no auge da carreira, bom emprego, bom salário, respeitado, admirado… mas amanhã, daqui a um, dois ou cinco anos, não sei como vou estar, com saúde, ânimo, força físíca para fazer a mudança. E as coisas vão acontecendo, acho que Deus prepara caminhos pra gente em sonhos, visões, e as coisas vão acontecendo.

 

Então Fernando, quais sugestões você daria para alguém que quer começar hoje sua formação na área de comunicação?

Olha, a gente sempre tem uma tendência, ou muitas vezes tem uma tendência de achar que hoje tudo é mais difícil, que quando a gente começou as coisas eram diferentes, um olhar um pouco saudosista. As dificuldades são as mesmas, mudando um pouco aqui ou ali, as facilidades são novas, principalmente tecnológicas, eu comecei minha carreira usando máquina de escrever, as pessoas que vão ler esta coluna todas sabem o que são estas máquinas, mas tem muita gente que hoje você conversa principalmente quando eu vou conversar com estudantes, falo eu comecei com a máquina de escrever, e eles dizem: o que é isso, tio? Que negócio é esse? Conta para gente… E alguns nem perguntam, e dizem que este cara está falando, este cara de outro mundo, gravava e editava matérias num sistema chamado umatic, embora tenha trabalhado até em afiliadas da Globo com super 8, uma coisa ainda mais complicadinha, e hoje é tudo em disco, ou cartão de memória. Acho que o grande desafio a dizer para alguém que está começando é, primeiro, invista em sua formação, sobretudo acadêmica. Não negligencie nenhum tipo de aprendizado, porque no jornalismo você deve saber um pouco de tudo. Não subestime, não menospreze matemática, algo como, sou ruim em matemática, vou ser jornalista. Não, não é assim que a coisa funciona. No jornalismo, tem que usar, cada vez mais dados, números, informações, então não pense que você vai se livrar da matemática, ela é uma ciência fundamental em nossa vida, tente ter pelo menos uma simpatia, uma convivência pacífica com a matemática, porque ela vai lhe ajudar em muitos momentos de sua profissão e sua vida. O ato de ler faz parte da formação intelectual de toda pessoa, mas para o jornalista, a leitura é algo visceral, não tem como desassociar… Ah, escrevo, mas não gosto de ler, mas estes são raros. Invista na formação, saiba como escrever, goste do português, este idioma tão rico e lindo que temos, aprenda outros idiomas, quanto mais souber, mais chances de trabalho você vai ter… e tenha coragem de procurar novos horizontes, se for possível desenvolver uma formação para o empreendedorismo, não só para o jornalismo, cada vez mais o emprego, aquele que a gente imaginava, é cada vez mais escasso, por conta de reestruturação, das redações, enchugamento, redução de custos, para uma empresa manter o equilíbrio financeiro, eu entendo que é muito difícil hoje no Brasil para qualquer área, mas as empresas de comunicação passam por uma crise econômica, financeira, e sempre as exigências vão se tornando mais acirradas. Aí, vemos muitos jornalistas se aposentando, quando poderiam trabalhar por mais um tempo, eu poderia estar trabalhando, mas aí foi uma escolha pessoal de mudar de área, de vida, mas a gente ver isto. Então assim, hoje, vemos a proliferação de muitos sites, canais de notícias.

 

Você menciona muito que saiu do jornalismo diário, mas não deixou de ser jornalista. A pergunta é se uma grande empresa lhe chamasse para ser um jornalista de programas especiais, uma série semanal ou programa mensal, você toparia?

É muito difícil pensar em tese, vou dizer mais uma coisa geral, depois outra específica. Qual é meu conceito envolvido aí. Encerrei meu ciclo de jornalismo diário, mas continuo fazendo jornalismo. Neste ano, fiz duas reportagens para clientes, nos moldes de televisão, algo como documentário. E tenho trabalhado no meu canal no Youtube, que leva meu nome (Fernando Parracho), e ali exerço, ponho em prática a experiência que tive em produção de reportagem, tenho abastecido pelo menos uma vez por semana, com histórias de pessoas desta área, ou em transição. Então, ainda continuo exercendo, por isto, respondendo especificamente sua pergunta, estou aberto, a conversar se surgirem propostas, desde que trabalhe num ritmo diferente, que não me afaste de meu propósito maior agora, que é desenvolver um projeto de uma pequena propriedade rural, fazer funcionar, produzindo alimentos, mas mantendo a conservação do meio ambiente, regeneração do solo, uma coisa muito importante que é nossa área foi comprada, em setembro de 2020, e era um reflorestamento de pinus, uma espécie exótica, que tem sua importância econômica, social na nossa região, porque oferece empregos e renda para muita gente, mas no nosso caso não era nossa intenção ficar esperando a árvore crescer 15 ou 20 anos para nos dar certo recurso. Como elas não são árvores nativas da região, queriamos ocupar esta área e produzir alimentos, mas mantemos uma área, cerca de metade de nossa área, temos mata em regeneração. E o que tenho feito aqui, temos reflorestado a área com Araucárias, no nosso canal temos uma entrevista com professor Flávio Zanete, pesquisador da UFPR, explicando que o universo das Araucárias como fóssil vivo. Como se fala no LinkedIn, estou“open to work”. Estou atuando como editor, repórter, mestre de cerimônias, mediação de debates, apresentação de eventos, dublador, inclusive dublei o recente filme baha´i, O Exemplar, então, para todos estes trabalhos, estou à disposição. Esta é uma oportunidade ótima de conversar, pois muitos acham que abandonei a profissão, não existe isto. Portanto, estou à disposição para trabalhar.

 


Lições de carreira

Como exposto nesta generosa entrevista, da carreira de Fernando Parracho podemos depreender diferentes lições, das quais destaco: Sua coragem demonstrada tanto pela profissão de jornalista, como pelos desafios que abraçou desde o início. A disposição em continuar se aperfeiçoando ao longo dos anos e, acima de tudo, pela ética e generosidade com os colegas, refletidas na calorosa despedida feita pela última empresa onde ele trabalhou por quase 20 anos. Aqui, apresento uma nota de caráter pessoal, tive contato com Parracho no início dos anos 90 e, por conexões de amizade, estive na sua formatura na PUC. Fui amigo próximo de seu pai e de sua mãe por vários anos, e creio que ambos ficariam muito felizes em ver a jornada construída pelo filho. Como principal fruto para nossas vidas, acredito que deva ser, para além do desempenho profissional, construir trajetórias que deixem rastros como este.

Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo!

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