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Coluna Carreira | carreira slash – tendência, preparação, trajetórias e oportunidades
06 de Setembro de 2022

Coluna Carreira | carreira slash – tendência, preparação, trajetórias e oportunidades

A ideia das carreiras múltiplas ganhou muito destaque com o livro One Person/Multiple Careers: A New Model for Work/Life Success.

Por Prof Jonny 06 de Setembro de 2022 | Atualizado 06 de Setembro de 2022

Este mês de agosto iniciou com uma das maiores perdas para cultura do país, a partida de Jô Soares. Das várias manifestações de carinho por ocasião de seu passamento, os pontos que mais se destacaram para mim foram: A generosidade manifestada por todos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo mais de perto, sua extraordinária cultura e senso de humor, e o fato de ele ter desempenhado múltiplas carreiras com excelência, por exemplo, numa das páginas referidas a ele são apresentados os seguintes papéis: humorista/apresentador/escritor/dramaturgo/diretor teatral/ator/músico. Isto me despertou interesse em analisar este fenômeno mais realçado nos termos recentes da chamada carreira slash.

A ideia das carreiras múltiplas ganhou muito destaque com o livro publicado por Marci Alboher, One Person/Multiple Careers: A New Model for Work/Life Success. Ela mesma se define como advogada/jornalista/escritora. Seu artigo publicado no New York Times, logo na sequencia do lançamento do livro, em 2007, apresenta pontos bem interessantes sobre este tipo de carreira. Ela mostra que algumas vezes as carreiras múltiplas envolvem atividades bem diferentes, como o primeiro exemplo mencionado de um médico, especialista em psiquiatria infantil, que deixa sua posição na prestigiosa Universidade de Colúmbia para perseguir o sonho de atuar com Standup Comedy.

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Segundo dados citados no artigo, com base numa pesquisa feita pelo Ministério do Trabalho nos Estados Unidos, na média, uma pessoa nascida nos últimos anos do baby boom teve em torno de 10 empregos dos 18 aos 40 anos. A própria autora descreve que depois de quase 10 anos na advocacia corporativa, fez o que muitos advogados sonhavam realizar, tornou-se uma ex-advogada. Então, passou a estudar redação freelance e observou ter talento para isso. Acabou percebendo que ser advogada ajudaria a entrar no ramo da comunicação, e resolveu se tornar uma advogada/jornalista. Segundo a autora, as carreiras múltiplas podem ser algo muito natural, pois a ideia do que torna uma carreira satisfatória está mudando, considerando que aquilo nos satisfaz aos 20 e 30 anos, pode não nos animar mais tarde em nossos 40 e 50 anos.

Portrait of business team standing together. Multiracial business people.

Então, você pode pensar o que é preciso para ter uma carreira slash?
Esta é exatamente a pergunta que dá título a este artigo publicado em 2021 por Mikaela Thompson, escritora/fotógrafa, neozelandesa. O texto traz algumas reflexões sobre ter uma carreira slash. Segundo a autora, esta forma de encarar o trabalho é uma escolha de estilo de vida. Isto está ganhando ainda mais relevância com a mudança no mundo do trabalho e o aumento da importância da economia gig, caracterizada por aqueles empregos temporários com contratos independentes, sobretudo para as plataformas online.

Além disto, embora a carreira slash possa ser uma necessidade para alguns, a maioria deles está fazendo isso por motivos mais pessoais e criativos – é uma ponte entre o sonho e a realidade. Este tipo de carreira oferece uma chance de perseguir seus sonhos e compensar as possíveis lacunas que seus empregos de tempo integral não conseguem preencher. Outro ponto de destaque, segundo Mikaela Thompson, é que a carreira slash atrai pessoas que buscam diversificar sua vida profissional e aquelas que estão em transição ou redefinindo sua aposentadoria.

Por outro lado, existem ponderações relevantes a serem feitas, caso você considere este tipo de carreira. Por exemplo, trabalhar por conta própria ou para vários empregadores também pode trazer problemas de gerenciar a vida. Principalmente se você estiver realizando várias atividades simultaneamente e tiver que manter seus próprios registros financeiros e fiscais.
Como reflexões, a autora recomenda que antes de mergulhar na cultura do slash, faça a si mesmo três perguntas:

Por que você está fazendo isso?
Neste contexto, assim como defendido por vários autores, lembrando Simon Sinek em Comece pelo Por que, é necessário que este ponto esteja muito evidente, pois identificar as razões pelas quais você está escolhendo uma carreira deste tipo pode ajudá-lo a planejar melhor em longo prazo.

Como você vai definir o sucesso?
Tal ponto é relevante porque fora de uma estrutura de empresa típica, o avanço na carreira geralmente não vem na forma muito evidente. Neste caso, sem uma medida clara de sucesso, você pode se ver em uma espiral de comparação com aqueles que seguem os caminhos tradicionais, o que pode lhe trazer mais problemas.

Você está pronto para abrir mãos de benefícios?
Este ponto torna-se ainda mais relevante para aqueles que decidem deixar seu emprego em período integral para trás. Dependendo das diferentes empresas, os trabalhadores que não estão empregados em período integral têm menos probabilidade de receber benefícios trabalhistas.

Na conclusão do artigo, a autora mostra que uma carreira slash hoje não é mais apenas um último recurso para quem luta para encontrar trabalho, é uma escolha de carreira, um estilo de vida mesmo. Ela destaca que muitos que seguem a carreira slash têm profundo conhecimento ou habilidades técnicas em uma profissão ou área, bem como outras habilidades gerais.

Será que existiriam traços em comum para aqueles que seguem este tipo de carreira?
Esta é justamente a questão chave que busca ser respondida por um estudo publicado em 2021, pelos pesquisadores Eduardo Carneiro Lima, Ana Cristina Batista dos Santos e Patrícia Passos Sampaio, intitulado Fenômeno slash: cartografando trajetórias profissionais de trabalhadores contemporâneos. Neste trabalho, os pesquisadores trazem uma ampla revisão de textos publicados sobre o fenômeno slash, com uma pesquisa que entrevistou seis profissionais, com idades entre 29 e 50 anos, mapeando suas trajetórias slash nas cidades de Fortaleza e São Paulo, entre 2017 e 2019. No contexto do trabalho, os pesquisadores descrevem que a lógica da carreira tradicional e linear, sustentada pela alta especialização e vocacionada pelo exercício de uma única habilidade, um currículo verticalizado com experiências e trajetórias similares, tem sido substituída por concepções modernas de trabalho no campo das experiências e experimentações, principalmente por jovens. Como resultados do estudo, os autores propõem cinco rotas características das pessoas que seguiram a carreira slash, a saber:

1-Das insatisfações ao longo de suas trajetórias profissionais. Para esta rota, os pesquisadores tiveram em mente a pergunta “como é despertado o desejo de acumular mais de uma atividade de trabalho entre os slashers?”. Segundo eles, as respostas foram encontradas não na literatura, mas sim nas entrevistas de campo. Tendo constatado que os slashers despontem num cenário de insatisfações com o modelo de trabalho considerado tradicional.

2-Desmobilizações e paragens. Neste item, os pesquisadores encontraram fundamentos tanto na literatura que mostrou que alguns momentos de desmobilização podem abrir espaço para uma carreira slash, o que também foi constatado nas trajetórias dos pesquisados, sendo identificados aspectos que apontavam para as desmobilizações e paragens em suas trajetórias de vida e profissional.

3-A lógica de “se virar”. Neste cenário, os pesquisadores constataram tanto pela literatura quanto nas entrevistas, o caráter inventivo daqueles que adotaram a carreira slash quando precisam refazer rotas ou se refazer nelas e a criatividade para encontrar novas maneiras de dar vida a suas atividades.

4-As experiências e experimentações. Neste ponto, a literatura citada apresenta a forte característica destes perfis profissionais que, principalmente, adotam a lógica de aprender enquanto fazer. Tal aspecto também foi constatado entre alguns dos entrevistados.

5- Sobre a identidade dos slashers em suas trajetórias. Segundo apoio de várias referências, entre os slashers, percebe-se a presença de conteúdos ligados ao reconhecimento, sofrimento, ansiedade, nervosismo e identidade, o que também foi evidenciado nas entrevistas.

Fica aqui o convite para você ler diretamente todo trabalho e concluir, por si mesmo, se tem identificação com uma ou mais destas rotas.

Pela perspectiva do empregador, pode ocorrer a pergunta: Por que devo contratar alguém com perfil uma carreira slash? É justamente este o título do artigo publicado na Forbes. Neste texto, o consultor William Vanderbloemen traz três boas razões para contratar profissional com este perfil. Segundo ele, profissionais com carreira slash são motivados e tomam iniciativa, têm um conjunto de habilidades diversificado e são realizados à medida que exercitam sua criatividade. Como conclusão, o consultor sugere que da próxima vez que entrevistar um candidato com atividades fora do trabalho, não o descarte. Você pode estar entrevistando sua próxima estrela.

Voltando ao ponto de início deste artigo, em retrospectiva, vários (ou talvez todos) aspectos da carreira slash evidenciados nestes textos citados, relativamente recentes, podem ser encontrados na trajetória do incrível Jô Soares. Sua coragem foi mesmo impressionante quando em 1988, com 50 anos, ele iniciava no SBT o talk show “Jô Soares Onze e Meia”, o que acabou sendo o precursor deste gênero no país.
Como teria sido sua vida se ele não tivesse tomado aquela decisão, que para muitos foi radical? Quantas pessoas não teriam tido a oportunidade de interagir com ele?
Obviamente, não sabemos tais respostas, mas a certeza é que o Brasil seria bem mais pobre em termos de cultura. Para finalizar fica a dica de assistir uma de suas últimas entrevistas, concedida ao jornalista Marcelo Tas, no Programa Provoca, em 2020, quando ele tinha 82 anos, ao ser perguntado sobre a vida, responde “não tenho medo da morte, tenho medo de ficar improdutivo”.

Portanto, talvez a grande reflexão para uma carreira slash seja viver na plenitude de suas habilidades. Pense sobre isto!

Grato pela leitura. Nos encontramos no próximo artigo!

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