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Coluna Ana Lavratti: Alfabetização emocional por meio da escrita
25 de Maio de 2020

Coluna Ana Lavratti: Alfabetização emocional por meio da escrita

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Por Ana Lavratti 25 de Maio de 2020 | Atualizado 25 de Maio de 2020

 

O que me liberta em pleno casulo é EscreVER para VER, dando asas às palavras… que ao decolar da sacada planam seguindo o vento, vagando acessíveis ao relento, garimpando o coração sedento… onde pousar as letras, repousar o verso, disseminar a certeza de que, por natureza, o universo conduz ao certo.

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Então escrevo feliz, esculpindo palavras feito a ponta do giz. Eternizando mensagens, salvas num triz. Porque me ponho a serviço de ESCrever sem ESCape.

 

Serva dos sentimentos, escrava dos meus tormentos, escrevo sem indulto, entre sorrisos e soluços. No afã de contar histórias, organizar memórias, e do que te ensino aqui: manter o viés da vitória. Sabe como? Entre os muitos atributos da escrita está o de domar a angústia, dar vazão aos sentimentos que se confundem pelo tom, feito palavras homônimas.

 

Escrever SELA o lugar dos sentimentos errantes, que vagueiam feito um pronome entre passado e futuro, o sujeito e o predicado, a melancolia do vivido e o medo do vir a ver. Escrever transpassa a CELA dos sentimentos errados, que suplicam por uma brecha para emergir decifrados.

 

Por isso, nestes dias difíceis, te convido a contar a tua história justamente pra quem mais precisa ouvir. Tu mesmo! Autor, personagem, protagonista de um enredo cheio de preconceitos, exageros, caricaturas, dores e amores, vítimas e vilões que, sob o crivo da pena, podem mudar de posição. Com pouca rima e muita estima, trago abaixo alguns passos que pratico desde a infância, o hábito que aciona os meus sensores, capazes de apitar quando o que juro ser real não passa de fantasia, falácia, fértil fabulação da minha imaginação.

 

O que Brené Brown chama de Tentativa de Rascunho Inicial, ou TRI, consiste em despejar um rascunho, canalizando da forma mais autêntica possível o que percebo nas minhas emoções, no meu corpo, nos pensamentos, crenças e ações. Sem vergonha, sem culpa, sem desavenças. Um desabafo que desinfeta. Legítimo detox da nossa voz interior.

 

Para Anne Lammot, o hábito se equipara a uma oração. Ter o papel à mão nos relembra da disponibilidade de Deus, sempre a postos para ouvir, mesmo quando falamos em silêncio. Eu adicionaria ainda que a prática não precisa ser sistemática, em hora e data pré-definida. Mas sempre que o diálogo (meu com meus sentimentos) for estabelecido por meio da escrita, precisa ser genuíno e habilitado para respostas, que podem não condizer com os meus pré-julgamentos.

 

Na mesma linha, situando a folha como um “lugar sem fim” onde podemos escrever como se ninguém fosse ler, James Pennebaker destaca o poder de cura da escrita. Como explica, sempre que enfrentamos alguma mudança ou problema significativo, isso afeta outras áreas da nossa vida. Quando o Isolamento social reduz o faturamento, por exemplo, pode impactar no sedentarismo, no entorpecimento, na carência, nos conflitos familiares. E uma das vantagens é que, quando transportamos para o papel o que se passa objetivamente e o que sentimos em relação àquilo, trocamos revoltas tóxicas, ruminações anoréxicas, por possíveis soluções, com as questões organizadas com maior perspectiva. Para Pennebaker, até a imunidade melhora com isso.

 

Recomendada por muitos outros autores, a escrita afetuosa, apreciativa ou corajosa, quando me instiga a confrontar o que quero dizer e o que eu disse sem querer, se transforma em bússola das reações, desencadeando uma alfabetização emocional que me permite classificar os sentimentos, administrando, ampliando e descartando emoções, apontando as crenças que residem sob os meus julgamentos, decifrando no outro as boas intenções por trás de atitudes que eu condenei. Como diz Ana Holanda, “a escrita é um reencontro com você mesmo”.

 

E aí, disposto a confrontar o que é fato e o que é fabulação? Então comece a rabiscar:

 

O que de fato acontece?

Que suposições eu faço a respeito? (que a pessoa não gosta de mim, que quer o meu lugar, que sempre estrago tudo, que isso não vai ter fim, etc).

Quais informações eu preciso pra confrontar o que é real e o que estou imaginando? (estabeleci um diálogo, ouvi outras fontes, ou vou presumir sob o filtro do meu ângulo?)

Estou interpretando os demais da forma mais generosa possível ou sob julgamento precoce?

Dou a contrapartida às minhas expectativas? (se quero que o outro seja comprometido, preciso mostrar que sou. Se quero que o outro respeite limites, estou definindo o caminho?)

Para onde a reação “diagnosticada” na minha TRI está me conduzindo?

Para a conTRIbuição ou a TRIsteza, nuTRIndo ressentimentos?

Para aTRIbuir culpados ou retomar os TRIlhos com menos expectativas sobre os outros?

Quando eu escrevo sem escape, escrevo para ver, eu me conheço, transpareço. E mesmo sitiada, protagonizo a minha saga.

 

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