Por Camila Medeiros*
A inovação no setor público, como uma prática transversal, é capaz de transformar realidades. Novas tecnologias têm o potencial de reduzir a burocracia, otimizar gastos e melhorar processos. No entanto, como as inovações podem impactar positivamente o cuidado, essencial para a manutenção e reprodução da vida? Como a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas (IoT) e outras tecnologias podem nos auxiliar na prestação de melhores serviços públicos, na proteção das pessoas e na promoção de um bem viver?
Cuidado é uma palavra cotidiana, mas com muitos significados. Envolve saúde, saneamento básico, acessibilidade, educação de qualidade e inclusiva, mobilidade e planejamento urbano. Também se refere às tarefas diárias de todas as pessoas, como a preparação de alimentos, limpeza, apoio a pessoas idosas ou a amamentação de bebês.
O mercado dos cuidados não é reconhecido como produtivo e é caracterizado por alta informalidade, desregulamentação e falta de mecanismos de fiscalização e proteção para as trabalhadoras do cuidado. As mulheres mais pobres, negras e que vivem em áreas com menor acesso a políticas e serviços públicos, como zonas rurais e periferias urbanas, são as mais impactadas. Estamos em um momento marcado pela diminuição do tamanho das famílias, rápido envelhecimento da população e maior participação feminina em um mercado de trabalho instável e informal. Também enfrentamos uma crise climática, desigualdades sociais cada vez mais evidentes e a urgência da sustentabilidade urbana.
As tecnologias emergentes têm um papel crucial para mudar esse cenário. Ferramentas como IA e IoT podem ser aplicadas para monitorar a saúde de idosos e pessoas com deficiência, garantindo sua segurança e bem-estar. Aplicativos e plataformas digitais podem facilitar a conexão entre cuidadores e aqueles que necessitam de cuidados, além de promover a autonomia financeira e a segurança das cuidadoras informais.
Além disso, tecnologias de automação e robótica podem aliviar a carga de tarefas domésticas e de cuidado, permitindo que os cuidadores humanos se concentrem em aspectos mais emocionais e interativos do cuidado. A digitalização dos serviços públicos também pode tornar o acesso a serviços essenciais mais eficiente e inclusivo, garantindo que todas as pessoas, independentemente de sua localização ou condição socioeconômica, possam receber o apoio necessário.
Quando tratamos de cuidado, inovar não é apenas uma questão de eficiência, mas de justiça social e equidade. Ao integrar tecnologias em serviços públicos e práticas de cuidado, podemos criar uma sociedade mais justa e inclusiva, onde o cuidado é valorizado e distribuído de forma equitativa. O desafio está em garantir que essas inovações sejam justas, acessíveis e que contribuam para a construção de um futuro mais sustentável e humano.
*Camila Medeiros é formada em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Design pela Universidad Católica de Murcia (UCAM), Espanha (2015) e em Gestão Pública pela UnB (2013). Hoje ocupa o cargo de diretora de Inovação da Enap (Escola Nacional de Administração Pública).
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