Um estudo da PageGroup aponta que o Brasil é um dos países que menos dá abertura para a presença feminina nos conselhos de empresas na América Latina.
Os dados indicam que apenas 25,3% desses cargos são ocupados por mulheres. No entanto, apesar do percentual ainda baixo, há um movimento para mudar essa realidade da cultura organizacional. No Senado, por exemplo, um Projeto de Lei (PL 1246/2021) que garante a ocupação feminina em 30% das cadeiras em conselhos administrativos no Brasil aguarda apreciação. E dentro das corporações, principalmente daquelas presididas por mulheres, existe uma crescente feminina de conselheiras.
Em Santa Catarina, o recém-realizado Programa de Desenvolvimento de Conselheiros (PDC), oferecido pela Fundação Dom Cabral (FDC – que figura entre as melhores escolas de negócios do mundo) e aplicado no estado pela Fritz Müller – Hub de Conhecimento, surpreendeu pela procura feminina. A turma inaugural do programa contou com 17 mulheres – 34% do total de participantes.
Cynthia Resende, professora técnica da FDC e responsável pelo programa em Santa Catarina destaca que, “O PDC já é oferecido há alguns anos, mas esta foi a primeira edição em Santa Catarina. Historicamente, a procura de mulheres pelo programa não passava de 13% e aqui tivemos essa grande surpresa. Ter mulheres nessas cadeiras é muito importante pelo contexto que vivemos, para uma tomada de decisão com um olhar mais profundo, mas principalmente, para aumentar a diversidade no meio corporativo”.
Para Raquel Schürmann, diretora executiva da Fritz Müller – Hub de Conhecimento, é imprescindível a oferta de formação especializada para que cada vez mais mulheres possam ocupar esses espaços. “Sabemos que não é comum mulheres em cargos de conselho, não só no Brasil como também no exterior. O potencial existe, mas não é dado lugar a essas executivas. Por isso, preparar esse público para ocupar cargos importantes como esse é nossa responsabilidade enquanto uma instituição que dissemina saber e conecta pessoas e empresas”, comenta.
O Programa
O Programa de Desenvolvimento de Conselheiros foi totalmente formulado pela FDC para potencializar a presença e atuação de conselheiros nas organizações. Mais de 50 turmas já foram realizadas em todo o país, com uma grade curricular dinâmica e reflexiva, que aborda o papel e as responsabilidades do conselheiro na atual dinâmica de negócios.
“É uma particularidade no Brasil que as empresas construam sua jornada de governança partindo de um conselho consultivo e posteriormente transformando-o em um conselho de administração. No consultivo, os conselheiros independentes não têm direito a voto, já no administrativo há sim essa participação ativa. A definição de diretrizes estratégicas para o futuro do negócio, a avaliação do C-level e do CEO dentro da organização, a tomada de decisão em torno do processo de sucessão da alta liderança, o mapeamento e acompanhamento das questões regulatórias, competitivas e concorrenciais dentro do mercado de atuação, as decisões de investimentos ou financiamentos e o impacto de riscos que essas decisões venham a incidir – todas essas são atribuições do conselho”, explica Vincent Dubois, um dos professores do programa.
Luciana Dobuchack, diretora comercial na IPEL, empresa de papel do segmento tissue, reforça o quanto a iniciativa trouxe uma outra percepção da cadeira de conselheiro. “Como executiva da operação, é importante ter esse entendimento sobre as boas práticas do conselho e como ele pode contribuir positivamente com a organização. Além disso, pela trajetória da nossa empresa, que é familiar, eu devo em breve assumir uma cadeira no conselho. Então o curso veio com toda uma bagagem informativa muito consistente para que eu possa me preparar para essa nova jornada”, comenta.