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Entrevista com Andrea Dip que vai participar do Seminário Social Good Brasil falando sobre o novo Jornalismo
08 de Outubro de 2014

Entrevista com Andrea Dip que vai participar do Seminário Social Good Brasil falando sobre o novo Jornalismo

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AndreaDipRepórter Especial da Pública, agência de jornalismo investigativo especializada na produção independente de reportagens sobre questões sociais, a jornalista Andrea Dip prioriza temas ligados aos direitos humanos: defesa de mulheres vítimas de violências, exclusão e inclusão social e respeito à criança. Na área desde 2001, quando trabalhou na revista Caros Amigos, Andrea já colaborou com veículos como Revista do Brasil, Marie Claire, GQ, Trip, Nota de Rodapé, entre outros. Participou do livro Brasil Direitos Humanos, produzido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e participou do blog Copa Pública, que investigou as violações de direitos humanos nos preparativos da Copa do Mundo do Brasil. Ganhadora de 5 prêmios de jornalismo em direitos humanos, levou para casa recentemente o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo da ANDI, pela matéria Meninas em Jogo, a primeira grande reportagem investigativa feita totalmente em quadrinhos no país, que denunciou a exploração sexual de meninas no Ceará durante a Copa do Mundo. Andrea estará em Florianópolis no dia 5 de novembro para o Seminário Social Good Brasil 2014 (inscrições pelo sgb.org.br). Ela será uma das participantes do painel O novo jornalismo fortalecendo a democracia.

 

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AcontecendoAqui – A impressão que se tem é de que as notícias sobre agressões aos direitos humanos de crianças e relacionadas a gênero estão mais comuns. Houve aumento no número desses crimes ou antes o tema não recebia atenção da mídia?

Andrea Dip – Não tenho certeza de que as notícias de violações de direitos das crianças e mulheres aumentaram. Acho que sempre houve interesse da imprensa, principalmente quando o tema é relacionado às crianças. Talvez esse interesse apareça de forma mais factual, quando acontecem tragédias ou casos específicos, mas não em reportagens profundas que discutam essas violações de direitos. Por outro lado, as denúncias no disque 100, por exemplo, aumentaram bastante no último ano – tanto de violência (física, doméstica, verbal, exploração sexual, tráfico de pessoas etc.) quanto especificamente da exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes. Quando fiz a reportagem Meninas em Jogo, por exemplo, ouvi dos especialistas e estudiosos que esse aumento está relacionado tanto à maior familiaridade da sociedade com o canal de denúncias quanto com um maior esclarecimento a respeito do abuso. Mas também porque, infelizmente, o número de crimes ainda aumenta a cada ano. O mais triste aí é que ainda existe uma enorme subnotificação, o que significa que o número de violações é muito maior.

 

AAqui – Na campanha eleitoral a intolerância de gênero mereceu bastante espaço. Isso se reflete na prática política ou essa preocupação fica normalmente restrita aos discursos?

A.D. – Na campanha eleitoral o tema apareceu quase que “por acidente” quando a candidata Marina Silva recuou em seu plano de governo com relação às causas LGBT. As pessoas começaram a falar a respeito e mostrar repúdio, principalmente nas redes sociais, fazendo com que os outros candidatos tivessem que se posicionar a respeito destes temas. Ainda assim, quase nenhum compromisso foi firmado no papel. Ouvimos falar a respeito da criminalização da homofobia, por exemplo, mas não sabemos se o/a novo presidente vai de fato levar isso adiante. Mesmo no discurso, foram poucos os que se posicionaram a respeito de temas polêmicos como descriminalização do aborto, violência contra a mulher, exploração de crianças e adolescentes, etc. Pessoalmente, acho muito difícil que haja de fato um avanço.

 

AAqui – Qual o perfil do jornalista para atuar em um espaço como a Publica?

A.D. – Acho que primeiro de tudo é preciso ter certa inquietação. É preciso coragem, curiosidade, paixão, preocupação genuína com o outro. Pode parecer meio romântico, mas acho que no fundo é isso. Não posso falar por outros veículos, mas essas são qualidades que vejo nos jornalistas com quem trabalho na Pública. Porque é preciso sair com dúvidas e voltar com mais dúvidas. Entrevistar muita gente, ouvir muitas versões da mesma história, sair desarmado, sem um preconceito da pauta, ouvir as pessoas, ir pra rua. Também é preciso ser humilde para reconhecer quando uma pauta não vale porque as informações não podem ser “meio” checadas. Elas têm de ser checadas e checadas de novo e essa parte não tem glamour. É pé no barro e ouvido aberto!

 

AAqui – Que resultado você espera da divulgação de violações aos direitos humanos ?

A.D. – As reportagens servem para jogar luz sobre assuntos, fazer a sociedade refletir, cobrar dos governantes/ responsáveis, apoiar ações de movimentos populares.

 

AAqui – Podia citar casos nos quais a divulgação de crimes surtiu efeito?

A.D. – Quando fizemos o Copa Pública, por exemplo, nossas matérias foram levadas pela ANCOP até a ONU, como prova das violações de direitos que estavam acontecendo nos preparativos para a Copa. Quando fiz a matéria sobre revista vexatória nos presídios, ela foi usada (junto com outras coisas e ações) como material de apoio para audiências públicas sobre o assunto. Quando escrevi sobre violência obstétrica a mesma coisa: a reportagem serviu tanto para pautar algumas outras quanto como material de apoio para o ativismo social pela humanização do parto, que é super forte e super engajado, divulgar o assunto, fazer audiências públicas, palestras, etc. Várias vezes também recebo mensagens de professores dizendo usam nossas matérias em sala de aula, ou de estudantes que pegam nossas reportagens para promover debates em suas escolas e universidades.

 

Saiba mais sobre o Seminário Social Good Brasil aqui.

Contribuição da All Press.

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