Publicado originariamente em 2 de julho de 2009.
O Emílio tem razão.
Quando eu tinha dez, doze anos, meu avô me levou ao centro da cidade para presenciar um acontecimento: a inauguração da primeira escada rolante de Florianópolis no Centro Comercial ARS. E olha que a escada era (e é até hoje) de mão única, quer dizer, só subia, não descia. Mas isso não tinha importância. Todo mundo foi lá conhecer. Isso faz uns trinta anos.
Há uns vinte, Curitiba esnobava o Brasil com uma mudernidade e tanto: a rua 24 horas. Ninguém que fosse a Curitiba deixava de ir lá ver. De preferência, de madrugada, pra ter certeza que a rua ficava mesmo aberta 24 horas.
Esta semana, eu, Rodrigo e Juarez, aqui da Neovox, retornamos de uma semana no sul da França, onde fomos assistir ao Cannes Lions 2009. E, instigado pelo irretocável artigo publicado pelo lorde Emílio Cerri neste Acontecendo Aqui, peço licença para contar uma ou duas coisas sobre o que vimos por lá.
Muita gente chama esses tempos em que a gente vive de era da informação. Eu, pessoalmente, acho que vivemos é era do marketing mesmo. Pode ver. Até carrocinha de cachorro quente na esquina tem website, logotipo, embalagem personalizada, imã de geladeira com o número do delivery, etc.
Esse meteoro chamado globalização deixou tudo muito igual e muito mais profissional. O mundo ficava pequeno ao mesmo tempo em que as pessoas, os hábitos, as lojas, as roupas e até as comidas começaram a ficar todas com a mesma cara, com o mesmo gosto, tudo massificadão. Não importava se você vivia na Dudinka, Vladivostok ou Laguna.
A escada rolante do ARS continua lá, mas ganhou a companhia de um monte de shoppings e lojas de departamento, com suas dezenas de escadas, que agora sobem mas também descem. A rua 24 horas de Curitiba está pra ser fechada, já que, hoje, até banco é 30 horas. A propaganda mundial refletia esse novo estado das coisas. Comerciais com giga-produções, idéias que custavam milhões, estrelas contratadas pelo seu peso em ouro. Pois muito bem. Alguma coisa está mudando, porque o que eu vi em Cannes, este ano, foi uma grande, enorme, universal resposta a tudo isso. Eu chamaria de um contra-ataque da humanidade a tudo-isso-que-está-aí.
Vi filmes caseiros feitos com o celular ganhando Leões e Grand Prix. Vi embalagens escritas à mão, com um toque quase amador, serem ovacionadas. Vi malas diretas modestas, até em forma de cartas, serem aplaudidíssimas. Vi jovens publicitários querendo salvar o mundo e acreditando que é possível. Vi a força das idéias simples mas fortes, das mensagens óbvias mas poderosas, da coisa humana, artesanal, manufaturada, subir naquele palco dezenas de vezes. Vi uma campanha cheia de valores como a do Obama ser premiada com um Leão de Titânio, o prêmio máximo da propaganda mundial.
Enfim, vi uma certa ingenuidade de volta. E isso me deu uma sensação muito gostosa. Uma mistura de futuro com passado. A mesma sensação que senti quando vi aquela escada rolante esquisita, que só subia, jamais descia. Por tudo isso, aconselho o mesmo que o Emílio. Ano que vem, não deixe de ir.