Projeto “ensaio para algo que não sabemos” lança nova edição
O público poderá visitar a residência artística de 6 a 10 de março, na Galeria de Arte do Mercado Público
A idealizadora do projeto “ensaio para algo que não sabemos” falou sobre a nova pesquisa “(re) existência: fracasso é potência” do coletivo de artistas que, atualmente é formado por Karina Collaço, Loren Fischer e Monica Siedler. A residência artística pesquisa as possibilidades da corporalidade no contexto contemporâneo.
Cinco encontros estão marcados para a nova elaboração do projeto, que foi criado em 2016 como um laboratório permanente de investigação do corpo e do movimento. O trio lançou convocatória para a residência artística “(re) existência: fracasso é potência”, mediada pela pesquisadora e coreógrafa Elke Siedler, voltada para as mulheres artistas ou estudantes de artes cis, trans, travestis e não binárias.
A pesquisa será realizada de 06 a 10 de março, das 13h às 17h, na Galeria de Arte do Mercado Público. Conforme Karina conta, na conversa, será uma galeria viva, pois o público pode visitar a residência e deixar-se levar pela experiência. Ela conta, ainda, que após a realização da residência artística, será lançado um mini documentário de autoria de Carolina Janning. Leia a entrevista e reflita!
Karina, essa nova pesquisa do “ensaio para algo que não sabemos” sugere um mundo de possibilidades… o que é esse mundo e como será esse dia a dia dessa residência artística?
Ah, a residência vem para a gente – eu acho que para todas nós – no momento em que estamos muito fragilizadas de muitas coisas que fomos atravessadas: pandemia, um governo que se mostrou destruidor, um contexto de mundo, de vida e uma pergunta que costuma estar recorrente para mim, Loren e Mônica é: que corpo é esse agora, que passou e que está passando por tantas coisas? A gente não faz muita ideia de como estamos. Mudamos nossos hábitos, questões psicológicas à tona, então quando a gente olha para tudo isso é desesperador, sabe, Letícia? Mas ao mesmo tempo tem um outro olhar que é o de transformação. De se questionar, se revisitar, se reencontrar enquanto ser, enquanto existência nesse mundo.
A gente vem de uma sociedade que nos exige o melhor o tempo todo com excesso de informação, um excesso de fazer e às vezes a gente acaba não percebendo nada do que tá ao nosso redor, e muito menos do que estamos fazendo com com as nossas vidas, com o mundo. Quando falamos da criação de mundos possíveis, é também se perguntar que mundo é esse que a gente está construindo, é isso que a gente quer mesmo?
A Elke traz uma uma preocupação de estarmos também em conexão conosco, porque antes de a gente projetar para fora, precisa olhar para dentro, então ela traz a importância do autocuidado, de se reinventar, de se reconhecer enquanto mulher, por tudo que passamos…
A ideia do projeto é, também, empoderar mais as mulheres?
Eu acredito que a partir do momento que a gente escolhe estar no coletivo de mulheres, e também de abranger o que nós estamos reconhecendo como corpos de mulheres, não apenas a mulher branca cis, não tem como não estarmos nos fortalecendo, né? Não estamos assumindo uma discussão de gênero, mas sim fortalecendo um lugar de escuta, de criação em conjunto.
Nosso desafio é proporcionar um espaço aberto à visitação o tempo inteiro. Durante quatro horas por dia, a galeria estará aberta para qualquer pessoa. Então é um coletivo de mulheres, mas homens podem entrar, LGBTQIA+ podem entrar, qualquer pessoa pode estar lá, de alguma forma, participando. Estamos nos colocando nesse risco também, de não ignorar as pessoas que vão visitar aquele espaço, elas também estarão nos atravessando de alguma forma.
O coletivo de mulheres é a base da construção, da criação artística, do espaço performático. Eu acho que a gente fortalece demais esse lugar feminista, mas também estamos abertas a discussões para além disso.
Mas vai ter algum programação para o público acompanhar?
A Elke está construindo possibilidades, exercícios, práticas que vão estimular esse espaço criativo, mas o que é mais forte desse proposta é a escuta entre a gente. As participantes selecionadas são protagonistas dessa criação, bem como quem chegar por lá.
Como a expectativa é ter a participação dos visitantes, não temos como fechar uma programação, a escolha de fazer essa residência em uma galeria de arte, também já sugere esse movimento, será como uma galeria de artes vivas.
Todos os cinco dias teremos algo para as pessoas que forem visitar, mas não sabemos exatamente o que! O público poderá “beber” um pouquinho daquilo, trocar, conversar, estar ali e construir junto.
Tá! E se eu for visitar vocês em algum momento, vou precisar me expor e fazer uma atividade com vocês? (risos)
(risos) Não! Só se você quiser…
Entendi! (risos) Karina, e vocês vão pagar R300 para as artistas selecionadas. Como vocês perceberam essa necessidade de fazer esse reconhecimento financeiro?
Massa essa pergunta! Leticia, acho que a gente começa pensando na gente mesmo, enquanto artista e o quanto é difícil você se disponibilizar por um tempo como esse. A gente pede essa dedicação e sabemos a realidade dos artistas e estudantes de artes em geral, porque a residência não é só para estudantes de dança ou artistas de dança.
A vontade era poder pagar muito mais, mas já é melhor do que nada, para pelo menos oferecer uma reposição do investimento que o artista fez de ir.
E vem dessa consciência mesmo, de compreender todas essas ações enquanto trabalho. A gente também precisa desmistificar esse lugar do e da artista enquanto algo sonhador e belo. Não! É um espaço extremamente de resistência, de muita dificuldade e de muito trabalho.
O nosso corpo é a nossa fronteira, como é que a gente consegue mostrar para o outro essa fronteira?
Nossa, Lê, aí é que tá! Essa é a nossa grande descoberta, esse fazer diário de entender que fronteira é essa que a gente estabelece e que fronteira a gente também quer atravessar e quer ser atravessada… então é uma pergunta que também não temos uma resposta fechada, porque ela é uma construção diária.
Principalmente para nós, mulheres, que viemos de tanta limitação social, o que estamos dispostas a atravessar, entendendo esse corpo como um espaço político, também, como um corpomemória, que carrega consigo um tanto de cicatrizes, um tanto de conquistas…
Quando a gente fala desse corpo fronteira, é compreender, também, como a gente atravessa fronteiras que estão sendo estabelecidas socialmente durante muitos e muitos séculos, como estamos querendo construir novas fronteiras, atravessá-las e deixar ser atravessada por essas fronteiras…
Conteúdo para pensarmos! E e sobre o mini documentário? Como ele será exibido?
Então, a artista Carolina Jannings vai documentar essa residência e vamos exibir nas ruas através da Van Expan Cine. A gente vai escolher dois pontos estratégicos da cidade, que vão dialogar com um público diferente daquele que nos visitar na galeria, justamente para tentar aproximar pessoas que de repente estão em outro momento da vida, que não estão olhando para determinadas questões, mas podem ter essa possibilidade do novo.
Depois, ainda, vamos fazer um bate-papo entre o coletivo “ensaio para algo que não sabemos”, a Carol e, se conseguirmos, com a Elke Siedler. Assim, sentimos que cada pessoa que passa pela nossa pesquisa contribui para que ela fique cada vez mais robusta com uma troca mais enriquecedora.
De 6 a 10 de março, a Residência Artística (re) existência: fracasso é potência, do coletivo “ensaio para algo que não sabemos – por uma perspectiva dos encontros”, estará na Galeria de Arte do Mercado Público de Florianópolis, das 13h às 17h com mediação da artista, pesquisadora e coreógrafa Elke Siedler. Para participar, basta chegar no local.
FICHA TÉCNICA da pesquisa “(re) existência: fracasso é potência”
Karina Collaço – coordenação geral; colaboração artística na residência
Loren Fischer e Monica Siedler – curadoria da residência artística (seleção das participantes); colaboração artística na residência
Nathalie Soler – produção geral: execução/elaboração e prestação de contas do projeto
Elke Siedler – artista convidada ministrante da residência artística
Luciana de Moraes – assessoria de imprensa / veiculação nos meios digitais
Fernanda Hinning – arte gráfica
Carolina Janning – produção, gravação e edição de vídeo documentário; registro Fotográfico
Thais Alemany – exibição do vídeo documentário / Van Expancine
Esta residência faz parte do projeto “ensaio para algo que não sabemos – por uma perspectiva dos encontros”, financiado com recurso público oriundo do edital de apoio às culturas 2021, com a participação institucional da Prefeitura Municipal de Florianópolis, da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, da FCFFC e do Fundo Municipal de Cultura.
Crédito para foto em destaque: Claudio Etges
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