Rafael Dantas, gerente de marketing do Koerich, uma das amis tradicionais varejistas do país, está nos EUA acompanhando a NRF, principal evento do varejo e tecnologia do mundo, reunindo milhares de profissionais dos principais players mundiais e de empresas para discutir o presente e o futuro do varejo.
Confira os principais insights apontados pelo profissional:
“No primeiro dia, participamos de sete palestras, todas no formato talkshow.
- Um eixo comum em todas abordagens foi a jornada e experiência de compra, a necessidade de minimizar a fricção que cria barreiras durante a compra, deixando a jornada fluir. Outro ponto a ser destacado é a posição do varejo como prestador de serviço, sobre a velocidade da entrega como serviço essencial.
- O CEO da Mecy’s compartilhou uma estratégia cautelosa para 2023, corroborado pela inflação, endividamento e a economia da China fechada, e que, segundo um estudo realizado pela sua equipe, as pessoas estão gastando mais dinheiro com experiências (viagem, jantares, cinemas, entre outros). Disse também que na pandemia perderam 70% do faturamento e ressaltou a necessidade de aumentar a velocidade da entrega com custo reduzido.
- Outro ponto relevante abordado pelo CEO foi a canalização das ações sociais da empresa para os colaboradores, desenvolvendo o que ele chamou de “grupo de talentos”, investindo em cursos, graduações, treinamentos, prêmios e ajudas aos colaboradores. Toda ação social é focada na própria empresa, desenvolvimento e retendo colaboradores. Além disso, eles criaram uma linha de crédito com capital de giro para os próprios fornecedores, fazendo com que eles melhorem as operações e, consequentemente, a qualidade do serviço da Macy’s.
- Todos os palestrantes falaram sobre autenticidade, representatividade da marca, clientes como embaixadores, relatando que o varejo não é sobre tecnologia, mas o que ela proporciona para facilitar a jornada de compras.
- Outro ponto que gerou convergência de ideias foi a jornada no PDV, com a popularização de que ela já não é linear e que o cliente percorre, em média, apenas 30% da loja, e que é preciso criar pontos de interesse e conexão com linhas no PDV.
- O mercado americano começa a dar sinais que já está olhando para a geração A (alpha), com pessoas de até 13 anos, com potencial de consumo. São nativos digitais, porém, se relacionam menos nas redes sociais.
- A provocação que o primeiro dia deixou foi: a empresa precisa “Se olhar no espelho e se enxergar. Você é o que a sua marca representa?”.
No segundo dia foram, seis palestras, e as temáticas tiveram como eixo a gestão de pessoas e tendência comportamental. O talkshow foi utilizado em cinco das seis palestras.
- O dia começou com Simone Biles, abordando o burnout e a importância do trabalho em equipe, como o acolhimento e engajamento da equipe contribuiu para a sua melhora. Destacou, ainda, insights para a busca do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
- Já o CEO da Target falou sobre a cultura da empresa, “escrever e vivenciar”. A empresa tem como prioridade o acolhimento e o bem estar da equipe: “Quando você se preocupa com a equipe, ela se preocupa com o consumidor e a região onde ele se encontra.”
- Falou, também, que a cultura da empresa não pode ser um quadro na parede, ela precisa ser vivenciada.
- Sobre os cargos de liderança, o CEO destacou que a empresa valoriza atributos e comportamentos necessários para a ocupação dessas vagas e que os critérios de contratação são transparentes para tais cargos.
- As demais palestras tiveram como foco o senso de pertencimento, contratações alinhadas com a filosofia da empresa e a retenção de colaboradores das regiões, pois são pontos de interseção e representam a comunidade. E mais: a diversidade entre os colaboradores faz com que o consumidor tenha um espelho de quem ele é ou da comunidade que ele se insere.
- O segundo dia lançou três pontos importantes: TALENTO, LIBERDADE e AUTENTICIDADE. Esse tripé faz com que o colaborador seja a melhor versão de si, o que é um diferencial competitivo para empresa.
- Sobre as tendências de comportamento, diz-se que somos a década mais infeliz em 15 anos, como consequência de 3 váriáveis: PANDEMIA, GUERRA RÚSSIA e MEIO AMBIENTE, e que teremos o auge desse sentimento em 2025.
- As redes sociais não são mais ambiente de relacionamento e sim de entretenimento e que o Netflix já considera o tiktok como concorrente, já o tiktok acredita que até 2025 passe o Netflix em consumo de conteúdo.
O último dia da NRF foi marcado por temas diversos e ao mesmo tempo convergentes, que vão desde pessoas, marcas, cenários macroeconômicos e tendências do varejo.
- No cenário macroeconômico fala-se em crise econômica nos EUA, e também, sobre a desaceleração de consumo em 28% nos mercados globais, na “desglobalização” e fragmentação do poder. Por conta dessas variáveis, aconselham a diversificação dos fornecedores “não depositar todos os ovos em um único fornecedor”. É necessário aumentar o abastecimento, porém com menores estoques.
- Nos modelos de trabalho há o consenso de que o híbrido e digital são realidades imutáveis e que a flexibilidade é a nova moeda de troca entre empresas e colaboradores. E, falando sobre mercado de trabalho, a escassez da mão de obra já é uma realidade e, por isso, está cada vez mais caro manter e reter profissionais.
- O mundo passa por um período migratório e a previsão aqui até 2025 é de que teremos 1 bilhão de nômades digitais. Pessoas estão voltando ao interior em busca de qualidade de vida.
- Muito se falou em preservar e estimular a autenticidade, incentivar os colaboradores a serem eles mesmos para desenvolverem e evoluírem em suas carreiras. É necessário conhecer e compreender as necessidades e prioridades dos seus colaboradores.
- Marcas globais estão associadas ao entretenimentos e ícones da cultura pop. Já as marcas de luxo são feitas de relações, cerca de 2% dos consumidores, giram em torno de 40% das vendas anos. O mercado de luxo está fora das tendências digitais, e as vendas no e-commerce não dão resultados ao segmento.
- Sobre o mercado digital, os EUA começam a se preocupar com a privacidade/segurança dos dados, e as campanhas digitais passam ser menos agressivas no sentido de “perseguir” o consumidor, elas agora dão apenas lembretes para pessoas que se interessam por determinados produtos. Ainda sim, fala-se que a as plataformas de relacionamento deixarem de ser locais de interação social para virar plataformas de entretenimento, o entretenimento costuma performar melhor. Por fim, não é mais necessário estar em todas as plataformas digitais, e sim, naquelas que possuem aderência ao público e reconhecimento de marca. É ali que devem ser concentrados os esforços de comunicação, pensar em si, e não em seus concorrente na hora de produzir conteúdos nas redes sociais.
Rafael Dantas aponta cinco tendências para o varejo:
- Automação autêntica: Equilíbrio entre humanos e máquinas.
- Tecnologia com toque humano: A tecnologia deve ser sentida, e não vista.
- Previsão de orçamento: Período de incertezas econômicas.
- Eco economia: Os consumidores têm diminuído o consumo para poupar o planeta.
- Rotinas revividas: Os consumidores estão saindo mais para restaurantes, viagens e cinemas.
E mais, o gestor aponta que os mileniuns e parte da geração Z estão no mercado de trabalho e são os influenciadores pelas compras, querendo se relacionar com marcas autênticas com posicionamentos sociais e políticos e vão decidir suas compras a partir deste posicionamento. Os padrões de consumo mudam, e estamos em uma era de consumidores mais cautelosos.
É preciso pensar globalmente e agir localmente. É preciso ser cada vez mais gente nossa.
Fotos: Rafael Dantas