Os verões brasileiros têm sido tumultuados nos últimos anos: a incidência de eventos climáticos extremos provoca tempestades, inundações, deslizamentos de terra, falta de água e energia, quando não resultam em morte, doença, perda total de moradias e tudo o que elas representam.
Os dados das pesquisas sobre o clima indicam que o Brasil está entre os dez países que serão mais afetados pelas mudanças no clima, que já dizimou nos últimos vinte anos mais de 500 mil pessoas ao redor do mundo, de acordo com o Relatório de Risco Climático 2013[1]. A essa perspectiva se somam a pobreza, a improvisação reativa e quase sempre inócua diante de tais catástrofes, a falta de informação e a ausência de infraestrutura das cidades brasileiras, prognosticando resultados ainda mais devastadores.
Curioso é que o Brasil é um dos países que têm uma das mais avançadas legislações ambientais e está sempre entre os adeptos das Convenções Internacionais para a proteção dos Direitos Humanos! E o que dizem essas normas? Que é preciso usar dos princípios da prevenção e da precaução, de modo a evitar os danos às pessoas e ao meio ambiente e mitigar os prejuízos inevitáveis, e que a tecnologia e o conhecimento devem estar a serviço da humanidade para impedir que ocorram tantas perdas e não apenas para contabilizá-las.
A respeito de custos, é desanimador perceber que os recursos que deveriam ser destinados a projetos de proteção nas áreas de risco, de tão mal gerenciados, esvaem-se com a lama das enxurradas. Apesar disso trata-se de um país que pretende assumir posição de destaque e liderança no cenário mundial!
Reverter essa postura reativa de vítima requer atitudes sustentáveis, seja por parte do poder público, seja das empresas e dos cidadãos em geral. Atitudes que se traduzam em cuidado. Cuidado que pode tanto se concretizar em projetos de remanejamento de populações de áreas de risco evidente, como em medidas de saneamento, capacitação de equipes de emergência, ou em atividades educacionais de longo prazo, incutindo uma nova cultura nas novas gerações e estimulando comportamentos mais ecológicos.
A percepção da necessidade de mudança de atitudes e hábitos para um convívio harmônico com a natureza, de modo a preservar o ambiente com qualidade de vida, precisa fazer parte da nossa compreensão de mundo e, portanto, de uma nova ética, a ética do cuidado e da responsabilidade.
Aos profissionais que trabalham com as ideias, que são formadores de opinião, cabe o desafio de fomentar e abrir caminhos para essa via da sustentabilidade. Neste caso, o cuidado, que é antes de tudo uma atitude de cidadania para a sustentabilidade, reside na disponibilização e disseminação de informação verdadeira e transparente, no respeito ao interlocutor, na preocupação em colaborar para o desenvolvimento humano, estimulando a inteligência, o senso crítico e a solidariedade.
O Brasil não precisa resignar-se a computar seus mortos e desaparecidos, à medida que as intempéries se tornam mais frequentes e intensas. E mudar essa realidade depende de muitos braços e mentes capazes, dispostos a agir com cuidado pela sustentabilidade e pela vida.
[1] Relatório do Germanwatch, citado pela Exame em nov.2013: http://exame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/noticias/brasil-e-6o-pais-afetado-por-eventos-climaticos-extremos