1. A lava-louças de Wanda parou de funcionar e ela chamou um técnico. Como tinha que trabalhar fora de casa no dia em que o técnico viria, ela recomendou:
“Deixarei a chave de casa sob o capacho. Conserte a lavadora, deixe a conta sobre o balcão da pia e lhe mandarei o pagamento pelo correio.” (Isso é muito comum nos Estados Unidos)
“Oh, a propósito: não se preocupe com Spike, o cachorro. Ele não o incomodará.Mas, seja lá o que venha a fazer ou o que ouvir, NÃO fale com o papagaio. Repito: NÃO fale com o papagaio.”
Quando o técnico chegou à casa de Wanda, viu o maior cachorro que tinha visto, com enorme cara de mau. Porém, exatamente como Wanda havia dito, o cachorro ficou deitado no carpete, sossegado, apenas observando-o fazer seu serviço.
O papagaio, porém, deixou-o quase louco, gritando, xingando, falando palavrões o tempo todo. Aí, ele não agüentou mais. E gritou:
“Cala a boca, papagaio.”
Que, então, determinou:
“!Pega ele, Spike!” (Son Salvador, no jornalaQui)
2. Semana passada a Folha de S. Paulo publicou matéria assinada por Elisângela Roxo e Lúcia Valentim Rodrigues sob o título:
TV vira dublada e esquece som original. Pressionados pelos assinantes vindos da classe C, canais pagos investem em dublagem, mas descuidaram do SAP. “Legendas somem das opções de controle remoto e problemas se multiplicam durante eventos ao vivo.”
3. Será mesmo?
Será que as pessoas da classe C são tão analfabetas que não conseguem ler as legendas? Ou, perguntando de outra forma: Será que por causa disso os alfabetizados terão de pagar pelos pecadores?
Ou se trata de puro preconceito segundo o qual nego mais pobre não sabe ler. Necessariamente.
Voto no preconceito.
4. Houve um tempo, há quarenta anos ou mais, em que se pensava assim. Quando a mensagem era para a classe C, uma mensagem publicitáriaqualquer servia. Bastava botar um qualquer gritando e lascar um table top. Bem vagabundo.
“Pra esse povo qualquer coisa serve, disseram-me certa vez, quando exigi qualidade na produção de uma peça publicitária que criei. O consumidor não vai entender.”
Felizmente esse tempo parece ter passado. Até as Casas Bahia entenderam isso.
5. Pela notícia da Folha, dá pra ver que só o pessoal da TV por assinatura não entendeu, porque ele age como o Spike. Vê a evolução da classe C, mas não acredita nela. Então, aguarda apenas a ordem do papagaio pra morder nós os alfabetizados que não temos nada com a ignorância dele.