Publicado originariamente no dia 20 de dezembro
por Jailson de Sá*
O título desta matéria chamou sua atenção? Certamente que sim. Mas o que realmente lhe impactou?
– Ninguém escapará? Delação? Fim do Mundo? Ou tudo isso junto e misturado?
O criador das manchetes dos jornais é um mestre. Na maioria das vezes ele cria suas chamadas depois de concluída a história. E ela precisa ser original, única. Tanto que encontramos as mais distintas manchetes para o mesmo fato. Mas por que isso ocorre?
– Para se diferenciar dos outros meios? Chamar a maior atenção? Ver o circo pegar fogo? Atender certos interesses?
Quando o assunto é política, então…
Ética na imprensa
“É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência. ” Este texto é parte do excelente artigo do jornalista Carlos Alberto Di Franco, publicado no Estadão, edição de 19 de dezembro de 2016, sob o título “Jornalismo, produto essencial”.
Muito do que você leu acima acontece todo dia na maioria dos chamados editores premium. Aqueles que têm compromisso com a verdade e respeito ao bom jornalismo. Os que são éticos, plurais e que procuram levar a informação completa, apurada, proporcionando ao leitor um entendimento real sobre os fatos sem as tintas dos mal-intencionados. Como escreveu Di Franco, “O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante”. É mais ou menos isso que vemos todos os dias em boa parte dos canais de imprensa disponíveis na internet: a pressa em sair na frente, a ansiedade de compartilhar com seus amigos nas redes sociais e acompanhar a enxurrada de opiniões cheias de razões por autores que nunca estudaram aquele tema, etc. Há, inclusive, aqueles que nem se preocupam com a revisão do português e do teclado, na pressa de correr atrás da próxima “bomba”.
Todo mundo é comunicador
Em 2014, durante o Fórum de Marketing Empresarial – evento realizado há sete anos pelo Grupo Doria e pelo Caderno Propaganda e Marketing – Washington Olivetto, ao receber um prêmio como reconhecimento por tudo o que ele fez pela propaganda brasileira, dirigiu-se aos 200 empresários e profissionais de marketing presentes e disse: “Imaginem vocês ao acordarem amanhã e descobrirem que todo mundo é engenheiro. Qualquer pessoa pode construir pontes, viadutos, túneis, prédios. O que vai acontecer algum tempo depois? Prédios vão cair, pontes vão ser levadas pelas águas e outras catástrofes. Imagine que no dia seguinte você descobre que todo mundo virou médico. O que irá acontecer? Um desastre total, com gente morrendo, epidemias e todo tipo de desgraça. Agora, imaginem acordarem amanhã e descobrirem que todo mundo virou comunicador. Não precisa imaginar, isso já é realidade. Qualquer pessoa hoje pode escrever, filmar, fotografar e publicar o que bem entender em tudo quanto é canal disponível na internet. O que isso significa? Que enquanto algumas marcas usam esses comunicadores, outras preferem trabalhar com quem sabe fazer comunicação profissional. Um abraço a todos”.
Esse recado do Washington não serve apenas para a propaganda, mas também para toda a cadeia produtiva do marketing e para quem produz e consome conteúdo jornalístico.
Vazamento. Quem é o maior interessado?
No último mês as notícias vazadas com conteúdos relacionados à Operação Lava Jato e dezenas de delatores, novos suspeitos, velhos culpados e outros do gênero, fizeram a festa de muita gente Brasil afora. O que se viu em alguns canais foi a maior demonstração da falta de ética a que chegam certos “comunicadores” que não apuram, não confrontam, não estudam e não dominam o assunto, opinando com a maior autoridade como se fossem mestres. E o mais preocupante é a quantidade de seguidores desses comunicadores transformando a releitura de um determinado fato em algo que pode causar danos irreparáveis para pessoas, entidades, empresas e governantes.
Uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade. O autor dessa frase foi mentor dos discursos do líder nazista causador da maior barbárie já vista na face da Terra. O cineasta e ministro da propaganda nazi Joseph Goebbels controlava todos os meios de comunicação da Alemanha, criava campanhas publicitárias alienadoras que prometiam um “mundo melhor” para os alemães, a partir da ideia de supremacia da raça ariana como dominadora de todas as outras. Esta técnica de Goebbels, parece, está inspirando certos núcleos dos poderes estabelecidos no Brasil, quando se verifica a sensação de que ninguém escapará da “delação do fim do mundo”, como se caracterizou a colaboração premiada dos 77 executivos da Odebrecht.
Um editorial do Estadão no último dia 19 trata essa questão dos vazamentos logo no seu início quando menciona “É preciso uma boa dose de ingenuidade para não ver aí uma ação deliberada, com vista a emparedar o mundo político, intimidando aqueles que porventura questionem promotores e magistrados, seja por seus salários e benefícios, seja por sua atitude messiânica. ”
Se não tivermos acesso ao bom jornalismo feito com ética e sua capacidade de traduzir os complexos mundos dos políticos e dos magistrados, jamais teremos uma formação consistente sobre as decisões que afetarão nossas vidas.
De vazamento em vazamento
Gerou-se no País a sensação de que ninguém escapará da ‘delação do fim do mundo’; essa atmosfera de apocalipse só favorece os verdadeiros arquitetos do monumental esquema de corrupção do qual a Odebrecht era um dos pilares.
Esta é a introdução do editorial que o Estadão publicou no dia 19 de dezembro que você pode ler na íntegra aqui
Para entender melhor a assertiva do parágrafo anterior e do enunciado acima, recomendo a leitura na íntegra do referido editorial, pois ele amplia nossa compreensão a respeito das intenções por trás dos “furos”. Na mesma esteira, incita a responsabilidade, em especial por parte dos que circulam a notícia antes de constatar ou contestar a veracidade dos fatos.
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* Jailson de Sá é publisher do portal AcontecendoAqui