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Jornalistas sabem pouco do negócio do jornalismo
16 de Setembro de 2024

Jornalistas sabem pouco do negócio do jornalismo

Uma barreira entre o negócio e a área editorial é essencial para a integridade do produto


Imagem: Imagem Welcome to All ! ツ por Pixabay

 

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por Pyr Marcondes*

 

Uma parte não se importa, porque não é sua obrigação saber. Outros simplesmente não se interessam. Outros admitem não terem a qualificação necessária. Infelizmente para os próprios jornalistas, apenas muito poucos sabem e se interessam pelo assunto.

E o assunto é o negócio do jornalismo, sem o qual os jornalistas não existiriam, porque não teriam onde trabalhar.

Não se exige que um médico saiba administrar um hospital. Não se exige que um operário saiba das finanças da sua fábrica. Não se exige de um engenheiro que domine a rentabilidade ou não da obra que executa. De fato, não se exige. E de fato, não é nem necessário, nem indispensável.

É apenas uma decisão pessoal, profissional e, no fim da história, de vida mesmo. Cada um faz a sua. E se conforta ou se responsabiliza por ela.

Não saber sobre o negócio do jornalismo pode ser, na real, um bálsamo para jornalistas. Principalmente hoje, quando as empresas que os (as) empregam, enfrentam o maior desafio de sobrevivência da história do jornalismo. Melhor deixar para os gestores, enquanto eu fico aqui no meu canto tocando a minha pauta.

É uma opção. Como eu disse, pessoal e de cada um.

Mas não é uma falta de opção. Quer dizer: se quiserem e se se mobilizarem, jornalistas podem, sim, e perfeitamente, entender e conhecer mais do negócio do jornalismo.

Como depoimento estritamente pessoal, decidi entender. Se precisar, sei, sim, gerir uma empresa e um negócio jornalístico. Decidi saber.

E sempre como um depoimento pessoal, não colhi nada ruim por isso. Na verdade, essa decisão mudou minha vida. Ah … para muuuuito melhor.

Jornalistas em geral, de fato, não parecem ter nascido para gestores de negócios. Assim como muitos advogados, engenheiros e médicos.

Talvez a diferença entre essas profissões e a de jornalista esteja, hoje, no fato de que elas não estão sendo ameaçadas de extinção. A do jornalista, infelizmente, está.

Reportagem emblemática sobre o tema é esta publicada pelo site de defesa do jornalismo (e, consequentemente, do negócio do jornalismo) Nieman Lab, assinada por Sarah Scire, deputy editor do site.

Conta a história do jornal local Salt Lake Tribune, de Salt Lake City, EUA, que se tornou lucrativo depois de ter aberto suas contas publicamente e passar a receber doações como origem de receita, acabando com o paywall.

A história de virada do modelo de negócios deles eu conto outra hora. Destaco agora apenas trechos sobre meu tema aqui, jornalistas e o negócio do jornalismo.

Diz Sarah: “As organizações de notícias historicamente buscaram manter uma separação rígida entre as operações comerciais e editoriais para proteger a independência das redações, e já se disse — talvez não injustamente — que os jornalistas não sabem muito sobre o negócio das notícias. No entanto, há sinais de que isso está mudando, e os repórteres não deixaram de perceber que mais de dois terços dos empregos em jornais desapareceram desde 2005 ou que os veículos de notícias locais foram particularmente afetados”.

Já não era sem tempo, diria eu. A preocupação com o tema, quero dizer.

Andy Larsen, repórter de esportes da publicação, que um dia se manteve propositalmente à parte da saúde (ou doença) financeira da editora que paga suas contas, um dia se aproximou mais do departamento comercial do Salt Lake Tribune, e isso o fez mudar de postura. E de entendimento sobre o business.

“Isso levou a uma conversa sobre quanto ganhamos com receita de anúncios digitais no geral, em comparação com patrocínios e doações, o que, por sua vez, levou a discussões sobre todo o resto. Fiquei bastante surpreso e impressionado com a transparência deles em relação a tudo ao longo de horas de conversa, o que me levou a perguntar sobre tornar esses mesmos números públicos e se eu poderia ajudar com o projeto.”

Aí teve início a mudança do modelo de negócio da empresa toda.

Mas segue ele: “Uma barreira entre o negócio e a área editorial é essencial para a integridade do produto, na minha opinião. Por outro lado, essa barreira também pode ser limitante quando se trata de confiança entre os dois grupos — francamente, acho que alguns dos nossos próprios escritores, incluindo eu mesmo, simplesmente assumiam que nosso negócio estava em uma situação pior do que realmente estava, apenas por estarmos operando no setor de jornais em 2024. Uma maneira de compartilhar as informações com a equipe sem romper essa barreira foi abrir os financials da empresa para todos”.

A preocupação de Larsen com os negócios da sua companhia foi libertária. Para ele, para os jornalistas, para o comercial e para os donos do jornal.

Larsen talvez possa servir de inspiração para outros coleguinhas de profissão.

Da minha parte, pedi para uma das principais ameaças a este ofício, o ChatGPT (mais especificamente, a Inteligência Artificial Generativa), para me ajudar a fazer uma lista de desvantagens e vantagens do jornalista entender do negócio do qual retira (por enquanto) sua sobrevivência, o negócio do jornalismo. Ele foi solidário com a categoria escrevendo algumas, e eu, escrevendo outras.

Ah, não quero deixar qualquer dúvida sobre a intenção deste artigo: tirar o sono, de hoje em diante, dos (das) jornalistas que ignoram o negócio do jornalismo.

Se conseguir isso, serei um jornalista mais feliz na minha preocupação. Que não deveria ser só minha. E dormirei em paz. Ao menos com minha consciência.

 

5 Desvantagens de Não Conhecer o Negócio do Jornalismo

Perda de Relevância Profissional: Sem compreender como o negócio funciona, os jornalistas correm o risco de se tornarem obsoletos ou menos valiosos para empregadores e para o mercado.

Menor Poder de Negociação: O desconhecimento do modelo de receita, custos e fluxos financeiros limita a capacidade de negociar salários, contratos e condições de trabalho mais justas.

Dependência da Tecnologia: A falta de entendimento do impacto de ferramentas como a GenAI leva à dependência passiva dessas tecnologias, em vez de usá-las estrategicamente para agregar valor.

Falta de Adaptação ao Mercado: Desconhecer as tendências do mercado, como mudanças no consumo de mídia, pode resultar em falta de adaptação e perda de oportunidades.

Risco de Redução de Empregos: O desconhecimento das ameaças e oportunidades do negócio limita a capacidade de inovar e proteger sua função dentro do setor.

 

5 Vantagens de Saber Mais Sobre o Negócio do Jornalismo

Capacidade de Inovação: Conhecer o mercado permite criar novas formas de gerar receita e alcançar audiência, fortalecendo o jornalismo como profissão.

Empoderamento Profissional: Entender o negócio aumenta a capacidade de negociação e tomada de decisões, proporcionando mais controle sobre a carreira.

Uso Estratégico da Tecnologia: Compreender o impacto de ferramentas como a GenAI ajuda a usá-las como aliadas para otimizar processos e ampliar a produção jornalística.

Maior Relevância e Empregabilidade: Profissionais bem informados são mais valorizados no mercado, pois entendem não apenas como produzir conteúdo, mas como torná-lo lucrativo e sustentável.

Contribuição para a Sustentabilidade do Setor: Saber como o jornalismo se sustenta economicamente permite contribuir para a criação de modelos mais resilientes e sustentáveis, garantindo o futuro da profissão.
Você, jornalista que me lê, pode continuar perfeitamente no seu canto, tocando a sua pauta.

Como insisti ao longo deste artigo, a opção é sua.

(*) Abaixo, lista de cursos para jornalistas aprenderem mais sobre o negócio do jornalismo.

(*) Apenas busquei na internet. Não afianço ou desacredito em nenhum deles, porque simplesmente não os conheço. Cito as fontes da busca ao lado de cada curso.

 

Insper – Jornalismo Empreendedor
– Oferece cursos e workshops para jornalistas que desejam aprender sobre empreendedorismo, modelos de negócios, inovação e sustentabilidade financeira no jornalismo.

– Site: Insper

 

Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
– Oferece diversos cursos e oficinas sobre jornalismo de dados, cobertura política, e também sobre sustentabilidade e modelos de negócio para veículos de mídia.

– Site: Abraji

 

Curso de Gestão e Empreendedorismo em Jornalismo – Escola de Comunicação da UFRJ
– Oferece disciplinas voltadas para gestão de negócios jornalísticos, inovações no setor, e uso de novas tecnologias no jornalismo.

– Site: ECO UFRJ

 

Centro Knight para o Jornalismo nas Américas – Universidade do Texas em Austin
– Oferece cursos online em português sobre temas como modelos de negócios para o jornalismo digital, jornalismo de dados, entre outros.

– Site: Centro Knight

 

Columbia Journalism School – MBA Dual Degree Program
– Programa de dupla graduação que combina MBA e Mestrado em Jornalismo para capacitar jornalistas em gestão de negócios de mídia.

– Site: Columbia Journalism School

 

Reuters Institute for the Study of Journalism – University of Oxford
– Oferece programas curtos de desenvolvimento para jornalistas focados em inovação, modelos de negócios e sustentabilidade na mídia.

– Site: Reuters Institute

 

Craig Newmark Graduate School of Journalism – City University of New York (CUNY)
– Programa de Mestrado em Empreendedorismo de Notícias que ensina sobre startups de mídia, modelos de negócios e monetização de conteúdo.

– Site: CUNY Journalism

 

Poynter Institute – Leadership Academy for Women in Media
– Oferece programas e workshops focados em liderança, gestão de redação e inovação nos negócios de mídia.

– Site: Poynter Institute

 

European Journalism Centre (EJC)
– Oferece cursos online gratuitos e pagos em parceria com plataformas como Coursera e edX, abordando sustentabilidade financeira, inovação e desenvolvimento de produtos no jornalismo.

– Site: European Journalism Centre

(*) Disclaimer: Todos os textos assinados por mim são de minha exclusiva responsabilidade e não representam necessariamente a opinião da Aurora News.

*Pyr Marcondes é jornalista, profissional de marketing, consultor de investimentos e autor de livros. Foi repórter da revista IstoÉ, do Jornal da Tarde e da revista Playboy. Trabalhou como Diretor Editorial do Grupo Meio & Mensagem nos anos 90. Foi Sócio e Diretor de Criação da agência de publicidade Grottera & Cia. (TBWA) por 10 anos. Foi também Country Manager do portal de internet StarMedia no Brasil.

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