A atual edição do semanário mineiro Edição do Brasil estampa em sua manchete declaração atribuída ao jornalista, professor universitário e cientista político Leonardo Sakamoto. Na pauta, a suposta afirmação de que ele teria dito que “aposentados são ‘inúteis à sociedade’”, com direito a foto e chamada na primeira página. O conteúdo apresentado no impresso como fruto de entrevista exclusiva, entretanto, não passa de cópia de trechos de artigo publicado originalmente pelo comunicador há dois meses, em blog mantido pelo Uol.
A denúncia de que o material do impresso não é autoral foi feita pelo próprio Sakamoto. Na manhã de terça-feira, 2, o jornalista divulgou o caso e, além da questão da cópia, apontou que o jornal mudou o teor do texto “Três formas para convencer os pobres que aumentar o salário mínimo é ruim”. “Por falta de interpretação de texto (ou de amor), [o veículo] não entendeu ou quis entender e publicou a manchete abaixo. Como se as ironias – que até uma morsa com narcolepsia entenderia – fossem verdade”, postou o blogueiro em sua página no Facebook. “Não preciso nem dizer que eles não me procuraram ou pediram entrevista – que, aliás, é inventada”, ressaltou.
Ainda pela rede social, Sakamoto informou que levará o caso para ser resolvido no Poder Judiciário. E já demonstrou contar com a vitória na futura ação a ser movida contra a Edição do Brasil. “Vou doar o dinheiro que ganharei no processo (esse merece, vai…) para o Projeto Redigir, curso de redação tocado pelos alunos da USP. O mundo tá precisando”. Com as críticas contra o jornal, o profissional da imprensa recebeu apoio de internautas. Seguidores do jornalista chegaram a pedir que ele processe publicações que repercutiram a falsa entrevista.
Horas depois de o jornalista se manifestar, a equipe do impresso mineiro se posicionou. Também por meio da página que controla no Facebook, o veículo também se posicionou como vítima. De acordo com o relatado na noite de terça, as aspas imputadas a Sakamoto só foram publicadas após a redação entrar em contato pelo e-mail [email protected] e receber o material enviado de “intermédio da suposta assessora Luiza Amália”. Assim como o blogueiro do portal Uol, a publicação mineira sugere que recorrerá à Justiça para descobrir “quem tentou prejudicar a imagem do nosso jornal”.
“O assunto está gerando uma incomensurável celeuma. Após Leonardo Sakamoto afirmar que não havia concedido essa entrevista, o Edição do Brasil analisou as respostas enviadas e o artigo em questão e acredita que houve má fé por parte da pessoa que respondeu, com provável intenção de prejudicar tanto o jornal quanto Leonardo Sakamoto”, posicionou-se o semanário Edição do Brasil, que alegou, depois da denúncia de falsa entrevista, ter contato com pessoas próximas ao cientista político para esclarecer a situação e, consequentemente, expor a versão da publicação.
Ao voltar ao assunto na tarde desta quarta-feira, 3, Sakamoto alegou ter lido o posicionamento do Edição do Brasil, mas que o caso “não depende mais do jornal”. Ele afirma que segue a ser alvo de críticas e xingamento por algo que jamais disse. “As redes de ódio ignoram e continuam divulgando o conteúdo original. Como um desmentido não é lido com a mesma voracidade que uma acusação, e como as pessoas só leem título e foto na internet antes de comentar, a porrada continua. Na verdade, o conteúdo não mais importa, nem o desmentido, nem a informação. Passo a ser obrigado a provar de que não falei aquilo e não o contrário. É raiva, apenas raiva que flui”.