Por Daniel Argolo*
Logo nos primeiros dias de janeiro tive o privilégio de ter publicado aqui, onde tudo acontece, um artigo abordando dois temas que “assombravam” o ano de 2012: especulações sobre o final dos tempos; e as corridas eleitorais (centrando o foco no desafio que o democrata Barack Obama tinha pela frente). Como Obama foi reeleito, revisitei o texto para avaliar minhas previsões. Como o título do referido artigo foi “Política e final dos tempos?” e ano não acabou, ainda temos o calendário Maia pela frente. Enfim, quem quiser voltar a refletir sobre os temas, segue o artigo na íntegra.
Política e final dos tempos?
Finalmente (espero que não literalmente) 2012 chegou. Um ano emblemático sobre vários aspectos mas, em especial, marcado por especulações sobre o final dos tempos e pelas corridas eleitorais.
Nos Estados Unidos a bola já está em jogo, colocando o atual presidente Barack Obama com o duro desafio de manter-se no posto. Eleito com um mote de campanha que ganhou proporções de “grito de liberdade” diante de uma juventude sedenta por novidade, somados ao crescente processo de igualdade racial, o famoso slogan “YES WE CAN” embalou a campanha e permeou todas as ações que o então candidato colocou nas ruas. Com uma massa crítica extremamente atualizada, calcada em uma estratégia de multimeios, com forte interação na web, a história de superação de um povo que sempre lutou por direitos iguais virou questão de honra. E aí, my friend, honra é honra. Afinal, quando há identificação e transferência de frustrações apontando para uma possível “volta por cima”, niguém segura. Assim, Barack Obama fez por merecer sua vitória, que entrou para a história dos Estados Unidos da América.
Até hoje não sei avaliar se Barack Obama tinha ideia do tamanho do abacaxi que ele teria que descascar, antes mesmo de tomar posse. De qualquer forma, mesmo sem solucionar a crise financeira que ainda assola o país, Obama colocou as mãos em Osama. E, como a percepção de proteção dos americanos está diretamente associada ao poder bélico que, diga-se de passagem, reelegeu Bush, as chances do democrata adotar uma postura mais dura, mantendo pulso firme em relação ao Irã e, também, buscar capitalizar a imagem de caçador de terroristas, pode ser uma estratégia paralela bem sucedida.
A diferença entre as eleições de lá está no grau de importância que o povo dá ao exercício da democracia. Na américa eles estão aguardando qual será o republicano escolhido para concorrer com Obama. Formadores de opinião se reúnem no estado de Iowa em torno do assunto e pesquisam a fundo as vidas dos candidatos. Até crença, pressuposto básico do livre arbítrio, é levado em consideração. Que o diga Mitt Romney, mórmom declarado, que apesar de estar bem cotado terá que lidar com essa barreira. Afinal, uma pesquisa da Universidade Quinnipiac indicou que os eleitores se sentem menos confortáveis com a ideia de um presidente mórmon do que um líder de qualquer outra religião, sem ser a muçulmana, ou ateu. Quem não lembra do Bill Clinton pedindo perdão diante de toda a comunidade presbiteriana que frequentava, por conta dos escândalos com a estagiária mais famosa do mundo? Opiniões sobre “moralismo” são discutíveis, perdoadas ou não. Mas uma má conduta não passa em branco, muito menos vira em pizza.
É claro que quando o asssunto chega no país do futebol, as coisas mudam de figura. Muito embora o Brasil venha amadurecendo politicamente, ainda carecemos de uma massa crítica que possa pesquisar, discutir, classificar e deter o poder de definir quais são as chances dos pré-candidatos. Muito distante disso, assim como nossos índios trocavam ouro por espelhos, ainda somos levados por uma cultura política pobre em valores. Espaço que encoraja oportunistas e qualquer tipo de pessoa tecnicamente incapaz de assumir cargos estratégicos e administrativos a lançar-se em uma candidatura e participar da “corrida maluca” disputada nas urnas. Aqui entram os palhaços, ex-atletas, artistas decadentes e uma infinidade de políticos de carreira duvidosa. Fichas limpas e sujas que se misturam a casos e escândalos que nos colocam entre um dos países mais corruptos do mundo. Isso, claro, sem falar da impunidade.
Faço aqui uma reflexão e convido os que chegaram comigo até este parágrafo, a pensar em atitudes que possam transformar nossa cena política em algo mais aceitável. Não dá mais para tratar as decisões que interferem no futuro de nossas vidas como mais um feriado. Não dá mais para aceitar que a grande maioria da juventude viva alienada meio aos games e a cultura descartável. Não dá mais para termos profissionais de marketing definindo quem vai ganhar a disputa, com estratégias mirabolantes e argumentos vazios. YES WE CAN, serve para pensarmos que existe sim uma realidade política que precisa ser direcionada. YES WE CAN, nos dá um norte de que profissionais de comunicação tem sim um importante papel na disputa de um candidato que, de fato, tenha capacitação para assumir cargos públicos. YES WE CAN, nos dá um alerta de que as escolhas precisam ser baseadas em ideais. YES WE CAN, nos refresca a memória de que o voto vale, no mínimo, 4 anos. Um gesto breve, com vida longa. E, por fim, se o mundo realmente não acabar em 2012, teremos que engolir os eleitos até o final dos tempos.