- Nhá Zefa, casada com Mané, estava de olho no compadre Joaquim.
Que, muito amigo de Mané, não lhe dava a menor bola.
Mas nhá Zefa não desanimava.
“Um dia eu pego ele.”
E o dia chegou.
Tinham contado pra ela: quando a gente côa café com uma calcinha e ele bebe, não resiste. Fica caidinho pela gente.
Naquele dia compadre Joaquim foi fazer uma visita pra eles. Só que Mané não estava. Tinha ido pra longe, vender uns porcos.
Nhá Zefa não titubeou.
“Toma um cafezinho?”
Compadre Joaquim aceitou.
Nhá Zefa correu pro quintal, pegou uma calcinha que estava secando no varal e com ele coou o café.
Pegou a melhor xícara, adoçou o café com cuidado, serviu.
Compadre Mané saboreou.
Nhá Zefa ficou espiando, esperando pelo grande momento.
“É hoje!”
Aí, aconteceu: Mané começou a chorar.
Entre surpresa e atônita, Nhá Zefa perguntou:
“Que foi, compadre, o café tava muito quente, queimou a boca?”
“Não, comadre, é que não agüento mais de saudade do Joaquim.” (Contado por Rolando Boldrin, no Senhor Brasil da TV Cultura e recontado aqui do meu jeito) Eu era garoto ainda quando meu pai, funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, me levou para conhecer a primeira máquina diesel que tinha chegado na cidade.
2. Cachoeira Paulista, onde nasci, era uma cidade onde a maioria da população adulta era ferroviária. Antes das diesel, as máquinas eram a vapor. E eu as conhecia bem, porque meu pai me levava sempre para dar um passeio nela.
Naquele dia, lembro-me bem, meu pai afirmou:
“Esta é moderna, uma maravilha, mas a mais moderna ainda vai chegar logo, com o trem bala. Aí, vamos poder fazer trezentos quilômetros por hora. Que nem no Japão.
3. Dezenas de anos depois, continua-se falando do trem bala… que ainda não saiu.
De lá para cá veio Juscelino, que deu preferência à indústria automobilística. Depois, os governos militares, que sucatearam de vez as ferrovias. Em algumas cidades as estações ferroviárias foram abandonadas. Na minha, considerada a mais bonita no trecho São Paulo-Rio, tudo foi destruído. Fecharam, também lá, a Escola Profissional Luís Carlos. E criaram a engenharia ferroviária da incompetência, que conseguiu dividir várias cidades ao meio, pra permitir a passagem do que restou em matéria de trem.
4. Enquanto isso, ruas, avenidas e estradas vão se enchendo de caminhões e automóveis. Engarrafando tudo. Provocando acidentes. Incentivando as pessoas a fazerem loucuras.
E ninguém diz nada. Ou melhor: diz.
Diz que é preciso cuidar das rodovias, das ruas, das avenidas.
Como o compadre Joaquim, de costas para as ferrovias.