Calminha.
Para alívio de quem me tolera e tristeza de quem gostaria de me ver pelas costas (poucos, espero), ainda não estou indo embora, não.
É que estou passando uns tempos em Palmas, no Tocantins e a vida aqui me fez lembrar de um filme (procura no Canal Brasil que de vez em quando passa) de 1980.
Dei uma de Lorde Cigano e trouxe minha Salomé para inventar uma Caravana Rolidei aqui no meião do Brasil.
Os desafios profissionais são muito provocantes.
E aqui eu não sou ninguém.
Posso ter 200 anos de relevantes serviços prestados na esfera aonde venho militando, mas aqui, não sou ninguém.
E a pior coisa que poderia acontecer, seria ter vindo pra cá como alguém que se põe em um degrau acima, por mais experiências, conquistas e reconhecimentos que possa ter tido de onde veio.
Seria como levar um saquinho de confete dentro do bolso e quando se sentisse por baixo, jogar confete prá cima para cair na própria cabeça. Lindo, mas falso. E burro.
Burro, porque aí você fecha as portas para aprender alguma coisa.
Principalmente, aprender que é a diversidade que constrói o todo.
Em Palmas existe uma convivência de culturas tão diversas como a maranhense, que é quase caribenha, do Piauí, agreste e aguda, do Pará, doce e temperada, sertaneja e caipira, vinda do interior de Goiás, além da turma do sul, nordestinos de diferentes sotaques (tem gente que pensa que o jeito de falar do nordestino é sempre aquele sotaque de novela. “É não…”) e a mistura disso cozinhada em um calor saariano cria um sabor novo e fascinante.
Assim, trabalhar aqui, para workaholics com um pé na paranóia e na autoindulgência se revela um santo remédio, desde que tomado direitinho, porque receber essa medicação e junto colocar alguns ml de vaidade pode dar um efeito colateral sinistro. Sem falar que aqui encontrei profissionais de primeira linha e fronteiras que estão apenas se abrindo.
Os tempos aqui são diferentes e a medida do que vale a pena fazer por grana e poder também.
Confesso que estou procurando aprender muito e fazer minha parte, para quem sabe, também ser alguém por aqui e quando voltar para junto de vocês, poder me tornar alguém um pouco melhor.
Viajar para lugares charmosos é bom demais. Agora, sinceramente defendo que de vez em quando é fundamental fazer uma viagem que te desconstrua, um trabalho que te reinvente, um reboot mental e emocional que fuja do óbvio e te obrigue a recomeçar, a pensar diferente.
Toda vez que vou a algum lugar que tem água, dou um jeito me jogar nela, pegar, sentir. Não foi diferente no rio Tocantins, apesar dos avisos de piranhas na água.
Acho que a vida é um pouco assim. Experimentar, sair do óbvio, do mesmo, do conforto.
Trago aqui as palavras do Amyr Klink, um dos grandes viajantes dos nossos tempos, que diz:
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”
Mas, fiquem tranqüilos. Logo, logo a Caravana Rolidei do seu amigo aqui volta prá casa, “trazendo na mala bastante saudade” (obrigado, Dominguinhos e Nando Cordel).
Mas já pensando em algum outro lugar onde não sou ninguém.
Talvez esse seja um jeito bom de um dia ser alguém de verdade.