Crédito da imagem: Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
Paris é uma cidade verdadeiramente icônica. Sendo uma das capitais da moda, uma referência na gastronomia mundial e abrigando alguns dos principais centros culturais do planeta, a Cidade Luz é um dos principais destinos turísticos do mundo. Por isso, o principal evento do esporte mundial, que teve como palco a capital francesa, tinha que ser superlativo em todos os sentidos. E de fato foi.
O público presente nas ruas parisienses e quem ficou de olho na transmissão da abertura pela televisão e plataformas digitais, testemunhou momentos jamais vivenciados na história desportiva. O desfile de abertura saiu dos tradicionais centros esportivos e foi para a rua, ou melhor, para o rio. Pela primeira vez na história olímpica os atletas desfilaram a bordo de embarcações. Com representações de todas as delegações participantes dos jogos, os barcos atravessaram o rio Sena tendo como destino uma brilhante Torre Eiffel.
Não seria exagero afirmar que o sucesso da cerimônia de abertura e do evento como um todo teve início em 2017, quando a capital da França foi escolhida oficialmente como a sede dos Jogos Olímpicos de 2024. De lá para cá, além das obras para adaptar a cidade para maior disputa esportiva do mundo, teve início também a elaboração de um evento de abertura que se estendeu por quatro horas unindo esporte, cultura e emoção em doses similares.
Tendo como diretor artístico o francês Thomas Jolly, personalidade conhecida no país por sua ligação com o teatro, muito mais do que contar uma história, o evento teve como objetivo proporcionar ao público que estava nas arquibancadas parisienses e em todo o mundo uma experiência verdadeiramente imersiva.
Para confirmar o clima lúdico da apresentação que deu início oficial às competições, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, afirmou que “alguns podem dizer que nós, no mundo Olímpico, somos sonhadores. Mas não somos os únicos. E nosso sonho está se tornando realidade nesta noite: uma realidade para todos verem. Atletas Olímpicos de todo o mundo, nos mostrando a grandeza que nós humanos somos capazes. Então eu convido a todos: sonhem conosco. Como os atletas Olímpicos, inspirem-se na alegria que apenas o esporte pode nos dar. Vamos celebrar este espírito Olímpico de viver a vida em paz, como uma única humanidade, unida em toda a nossa diversidade”.
Evento gratuito
Um dos principais desafios do evento de abertura foi justamente a necessidade de fazer uma cerimônia aberta. Para atender essa demanda, foi estabelecido que a entrada seria gratuita para a maioria dos espectadores, tornando-se este um diferencial importante do evento. Para atender o público presente nas arquibancadas e ao longo das ruas da cidade, foram posicionados de forma estratégica aproximadamente 71 telões e mais de mil alto-falantes que transmitiram a atmosfera mágica do espetáculo.
Dois mil artistas
Se, com um total de 10,5 mil atletas provenientes de 204 países que disputaram as medalhas de ouro, prata e bronze em um total de 58 modalidades, os números relativos aos jogos impressionam, o mesmo se aplica à cerimônia de abertura. Confira algumas marcas do evento.
6km – Tamanho do trajeto percorrido no rio Sena até a chegada na Torre Eiffel
85 barcos – Total de embarcações que levaram os atletas durante a cerimônia
6,8 mil atletas – Total de atletas das 205 delegações que participaram do evento
50 brasileiros – Total de atletas que representaram o Brasil na abertura
320 mil espectadores – Público presente nas arquibancadas ao redor do rio Sena
200 dias – Tempo estimado de ensaio para o espetáculo
2 mil artistas – Total de artistas que fizeram parte do show de abertura
20 mil pessoas – Total de profissionais envolvidas em todas as fases do espetáculo
1800 figurinos – Total de trajes utilizados pelos artistas durante o evento
Um último número impressionante: cerca 45 mil voluntários de 190 países participam no apoio às atividades dos Jogos Olímpicos.
Uma experiência sensorial pela história francesa
A primeira vez que Paris sediou os Jogos Olímpicos foi em 1924 e as mudanças sociais, culturais e esportivas que marcaram esse centenário foram abordadas durante a festa de abertura.
Celebrando a temática da liberdade, igualdade e fraternidade, que se consolidaram como os ideais da revolução francesa e se espalharam pelo mundo, a apresentação de abertura foi dividida em 12 etapas artísticas diferentes e, destacando locais icônicos da capital francesa, também proporcionou aos expectadores uma experiência sensorial pela história do país.
A arte, é claro, foi uma das protagonistas do evento. Foi possível ver personagens conhecidos de alguns dos mais importantes quadros já pintados ganharem vida e caminharem por entre as salas de um museu. Uma cena do musical “Os miseráveis” foi reproduzida e aprofundou ainda mais a imersão no mundo das artes. Até mesmo o incrível roubo da Mona Lisa, considerada uma das obras mais famosas do planeta, ganhou destaque no show.
Diversidade e polêmica
Os Jogos Olímpicos de Paris ficarão marcado para sempre como os primeiros em que a paridade de gêneros foi uma realidade. Um bom exemplo dessa nova realidade pôde ser visto na própria delegação brasileira, que contava com mais mulheres do que homens.
Porém, a abordagem da diversidade durante a cerimônia se tornou motivo de polêmica. Ao retratar a santa ceia com um grupo de dançarinos e atores fantasiados, muitas pessoas ligadas às instituições religiosas se sentiram afetadas com a ousadia proposta. Para quem organiza um evento fica a lição: inovar é preciso, assim como entender os limites que podem ser cruzados.
Melhores momentos
Com cerca de quatro horas de duração, muitas passagens da cerimônia de abertura ficarão na memória das pessoas por muito tempo. Do portador da tocha anônimo que cruzou a cidade em direção à pira olímpica até o desfile dos barcos com a delegação de refugiados, comprovando que para o esporte não há fronteiras, muitos momentos já se tornaram eternos. Confira três destes momentos icônicos.
O show da Lady Gaga
Lady Gaga confirmou porque é um dos nomes mais prestigiados do cenário musical mundial. Dona de uma autenticidade própria e de um carisma espetacular, a autora dos hits “Poker Face” e “Bad Romance” trouxe vitalidade para a cerimônia com uma pegada pop e contemporânea.
A chama olímpica na mão de lendas do esporte
Quando a tocha se aproximava do seu destino final, a pira olímpica, ícones dos esportes como Rafael Nadal, Serena Williams e Zinedine Zidane foram alguns dos atletas que a transportaram, destacando a pluralidade e diversidade do esporte em todo o mundo.
O encerramento com a canção de Celine Dion
A apresentação de Celine Dion foi um dos pontos mais emocionantes do evento. Afastada a dois anos dos palcos devido a problemas de saúde, a cantora deu um exemplo de superação e resiliência ao interpretar um verdadeiro clássico da cultura francesa.
O legado dos Jogos Olímpicos de Paris
Muito mais do que revelar novas estrelas, confirmar o talento de veteranos e quebrar recordes, os Jogos Olímpicos de Paris deixam um legado extremamente valioso para toda a sociedade.
Para a comunidade esportiva, fica comprovado que os limites existem para serem quebrados. Superação e resiliência são características dos atletas de todas as modalidades esportivas e, mais uma vez, fizeram a diferença na conquista das medalhas.
Para a sociedade, fica ainda mais clara a certeza de que diversidade se consolidou definitivamente como um valor importante em toda e qualquer ação coletiva. Entender as várias formas de pensar e de agir não é mais um diferencial, é uma obrigação. Em um momento histórico marcado por guerras e intolerância, as vitórias e conquistas dos atletas refugiados mostram que um mundo melhor é possível, basta acreditarmos.
Para o setor de eventos fica a certeza de que o investimento assertivo e planejado de recursos humanos e materiais é essencial para o sucesso de uma ação. O evento olímpico foi planejado à exaustão e o resultado pode ser percebido de maneira clara. Ainda que eventuais dificuldades surjam no processo, os organizadores souberam contornar e apresentaram uma experiência que ficará para sempre na memória dos amantes dos esportes.
Vale reforçar: o esporte é e sempre será uma poderosa ferramenta de transformação social. Ao percebermos que dedicação, comprometimento e amor sempre serão maiores que estigmas, preconceitos e intolerâncias, estaremos edificando uma sociedade melhor. O evento olímpico parisiense deixou claro que vale a pena acreditar nisso. Que os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028, não demorem a chegar.
