por Wander Levy*
Tem umas coisas que sempre existiram, mas nunca tiveram uma classificação e nem chamavam a atenção das pessoas.
Um belo dia, em um passado recente, você se deparou ao ver o cardápio do restaurante com um texto mais ou menos assim: “Os produtos utilizados nos nossos pratos não contém glúten em respeito aos cilíacos.”
Que diabos é glúten e quem são estes cilíacos?
Pois é. Você vai atrás e descobre que glúten é uma coisa que existe nas farinhas e cilíaco é um indivíduo sensível a este tipo de substância.
Mas, como assim, eles não existiam antes? E se existiam, como sabiam o que tinha glúten e o que o não tinha?
Sim, responde o Dr. House, eles existiam e os cilíacos sofriam sem saber porque sofriam.
Ah, ok. Então agora o mundo ficou melhor para os cilíacos porque eles sabem que não podem comer produtos com glúten e as empresas criaram produtos específicos para eles.
Muito bem, boa medida para tornar a vida deste pessoal melhor.
Agora, quando surgiu um outro palavrão e virou tema da mídia e assunto das discussões das famosas reuniões de pais e mestres, o caldo entornou.
Eis que de um ano para outro, sem mais nem menos, surge o bullying.
O mundo se revolta, as mães se descabelam, as escolas prometem medidas cautelares, o youtube se enche de filminhos de gordinhos, baixinhos e cdfs sendo vítimas do bullying.
Nem parece que todo este povo um dia foi criança e frequentou escolas nas quais alguém da classe sempre era eleito para ser o Judas da turma e passava o ano sofrendo as piores perserguições.
Eu mesmo, ali pelos 10/12 anos, vivia me escondendo de um cara que bastava me ver para correr atrás de mim e me dar uma surra.
Corri para os professores pedindo proteção? Chorei no colo da mamãe? Procurei o jornal local para denunciar esta violência que atentava contra o estatuto da criança e do adolescente? Claro que não, inclusive porque não existia este estatuto e ninguém, pelo menos na minha época, era dedo-duro.
Gente, toda criança é má. Todo ser humano nasce com a violência embutida em sua alma. Tentar coibir que um garoto passe a mão na bunda do gordinho na fila da lanchonete no recreio é a mesma coisa que tentar acabar com as baratas. Só vamos criar baratas mais resistentes e gordinhos mais frouxos.
Aliás, um famoso gordinho da minha escola acabou governador de Goiás, o tal do bullying deve ter feito muito bem para ele.
Não aguento mais a politicagem correta, os doutores em suas salas com ar condicionado discorrendo sobre o que é e o que não é correto dizer ou fazer em sociedade.
E o pior: sabe quem é o grande responsável pelo mundo estar ficando cada vez mais imbecil?
A mídia e seus arautos mal pagos e submissos. Sim, são os jornalistas que dão voz a estes doutores com suas teses esdrúxulas. São eles que propagam que se não protegermos nossas crianças dos seus coleguinhas, estaremos formando adultos complexados e dependentes psicológicos.
Assim foi com as mulheres que não podem mais ser cantadas no trabalho, com os gays que não podem mais ser chamados de bichas, com os deficientes que não podem mais ser nominados por suas deficiências, aliás nem são mais deficientes, são portadores de necessidades especiais.
Será que só eu acho que tudo isto está deixando o mundo mais chato e insuportavelmente correto?
Será que queremos transformar o criolo em afro-brasileiro e o turquinho em descendente árabe?
Claro que piada de português e de papagaio nem pensar. As penosas são protegidas por lei e dá cana sem direito a responder em liberdade.
Lembro de uma campanha da W/Brasil para uma rede que vendia pneus em São Paulo chamada Zacharias, ali pelos anos 80, na qual um gaguinho tentava vender o peixe e todo mundo tirava sarro dele. Imagine isso hoje? O Washington estaria preso sem direito a fiança.
Por mim, tudo bem, vivi em uma época que toda piada era bem-vinda e toda sacanagem era bem-vista. Agora, as novas gerações vão se divertir com o quê? Com os jogos na internet onde a violência rola solta e ninguém dá bola porque é uma atividade solitária e não machuca ninguém?
Vamos acabar com a cretinice e com os idiotas de plantão como já os designava o grande porta-voz da incorreção, o finado e genial Nelson Rodrigues ou deixamos como está e vamos dar risada dos móveis e dos minerais até que alguém ache isso ofensivo também.
Wander Levy é redator publicitário e empresário em Santa Catarina