PS: antes de ler esse texto, dê o play na música O Relógio, na voz de Walter Franco
– Tá aqui o briefing. Mas não tem pressa, a campanha é só pra daqui a um mês. Nesse tempo, toma um cafezinho. E se precisar de cafuné, é só chamar.
Quem é da área sabe que é mais fácil o Suriname ser campeão da Copa do Mundo do que isso acontecer. E se acontecesse, nós não saberíamos o que fazer, pois simplesmente não conseguimos trabalhar com tanto prazo.
Apesar de termos que estar sempre antenados com o que rola de mais moderno, acredito que uma parte dos cérebros dos publicitários ainda é meio “old-fashioned”, e opera como as velhas máquinas a vapor: quanto mais pressão, melhor. Daria para descrever o seu funcionamento com uma equação como C=P2/∆t, onde C é o cérebro, P é a pressão e ∆t é o deadline.
Imagino o desfecho da situação irreal proposta ali em cima.
– Ô, Juca. Chegou um briefing grande aí, ó.
– Eu vi, mas tem uma coisa que eu não saquei bem.
– O público-alvo?
– Não. Isso é moleza. São as senhoras de 60 anos que já se desquitaram 4 vezes e agora resolveram se dedicar aos esportes radicais.
– É a escolha da mídia?
– Também não, Pedrosa. É verdade que achei estranha a ideia daquela peça promocional, o batom que você aperta e ejeta uma corda de rapel. Mas o resto tá ok.
– Então só pode ser o slogan, que já veio pronto do cliente.
– Nada, eu até gostei. “Radical é a sua avó” é bem apropriado.
– E o que é que você não entendeu, então?
– O deadline.
– O deadline?
– Tem um número errado ali. Tá dizendo que o trabalho é pro 15 do 9, quinze de setembro.
– Isso.
– Mas estamos em julho, mês 7. Hoje é só 23 do 7.
– Isso.
– Temos quase dois meses pra fazer a campanha?
– Isso.
– Não tá certo, Pedrosa. Quem é que consegue criar assim, com todo esse prazo?
– Eu é que não.
– Não dá mesmo.
– E o que a gente faz?
– Vamos deixar o job no fundo da gaveta, pra só tirar de lá 5 dias antes do dia final.
– Genial.
– Agora dá licença que vou ali pedir explicações pro chefe.
– Sobre o trabalho?
– Não. Sobre a história desse deadline. Ele tá pensando que a gente é o quê?
– Absurdo!