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Estamos no caminho, com Maiakóvski
05 de Maio de 2014

Estamos no caminho, com Maiakóvski

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“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”. Esse é um trecho do poema de Eduardo Alves da Costa, denominado No caminho, com Maiakóvski, e que reflete bem o momento pelo qual passa a propaganda brasileira e cujo sentimento se estende a vários outros setores da vida no Brasil.

Não dissemos nada nos primeiros furtos e hoje calamos diante da corrupção institucionalizada e da violência em nossas portas. Nada dissemos quando aumentaram a carga tributária sem uma contrapartida em serviços públicos, e silenciamos entre os maiores pagadores de impostos do planeta. Não dissemos nada quando impuseram a forma politicamente correta de pensar e emudecemos diante da patrulha ideológica. Se nos calarmos na tentativa da Secretaria dos Direitos Humanos (SDH) de extinguir a publicidade infantil, não teremos voz para impedir as restrições do uso dos editores de imagens em propaganda como quer o Projeto de Lei 6853/10, em trâmite no Congresso Nacional.

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Não precisamos acabar com a publicidade infantil para combater o consumismo, como alega a SDH sob o argumento de que as crianças são incapazes de frear seus impulsos e se tornam alvos fáceis para a força persuasiva da propaganda. Basta que os pais assumam sua responsabilidade como pais, não depositem seus filhos na frente da tevê e eduquem seus filhos de outras formas, inclusive impondo limites. Não precisamos da mão forte, protetora e divina do Estado impedindo a publicidade infantil se os pais continuarem a delegar a responsabilidade pela educação de seus filhos a terceiros.

Mas o que dizer então do consumidor adulto, formado, dotado de faculdades mentais? É seguindo essa mesma lógica, de incapacidade individual, que o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) propôs o Projeto de Lei 6853/2010 para obrigar que toda imagem publicitária manipulada exiba uma advertência de “imagem digitalmente retocada” para acabar com a idealização do corpo humano pela publicidade. É admitir que todo sujeito é incapaz de discernir entre a realidade e a criatividade e ficção, e que somente o Estado forte e agigantado sabe dizer o que é bom ou ruim para os indivíduos.

Mas o que me preocupa nisso tudo não são essas ações individuais, mas o conjunto de exceções que aos poucos vão se estabelecendo e acabando com as liberdades individuais e silenciando as coletividades. Sob argumentos de incapacidades e proteções, da vitimização, nos silenciam aos poucos. E mesmo que se justificassem tais argumentos, não seria melhor atacar a causa, melhorando a educação e dotando as pessoas de senso crítico e emancipação de pensamento, do que censurar as consequências da tal incapacidade dos sujeitos? Quando já não tivermos mais voz na garganta, daí mesmo é que não poderemos dizer mais nada. Estamos no caminho, com Maiakóvski…

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