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Betoneira de prompts: entre a areia movediça e o concreto
01 de Maio de 2025

Betoneira de prompts: entre a areia movediça e o concreto

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por Rodrigo Haviaras Cancellier*

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Redigir prompts eficientes parece ser a habilidade do momento. Quanto mais robusto, melhor a resposta. Uma resultante em constante processo de engorda nas redes: informações e dados passam por um moedor digital e, ao final, são esterilizados para consumo — não exclusivo. Essa é a teoria da relatividade do agora. O que vale mais: um escritor criativo desenvolvendo pensamentos originais em sua rede neural ou um exímio redator com competência em engenharia de prompts, recauchutando ideias pasteurizadas?

A inteligência artificial não nasceu para responder essa pergunta. Ela vai atropelar qualquer filosofia antagônica à sua existência, sem o menor remorso. Ela simplesmente será a protagonista da lei de mercado: prompto, logo existo.

O conflito de valores e o labirinto dos desdobramentos futuros são tortuosos. Tentar encontrar uma luz no fim desse túnel parece algo sombrio e devastador. Dizem que a IA não é humana, não tem consciência nem emoções. Mas sua corrente de escalabilidade, personalização e aprendizado assusta — e deixa dúvidas.

O princípio da “inteligência artificial” nasceu em 1956, em uma conferência nos EUA, quando John McCarthy utilizou a expressão pela primeira vez e, oficialmente, começaram os estudos da IA que conhecemos. Mas antes disso, o matemático britânico Alan Turing parece ter previsto a IA antes mesmo de ela existir, ao publicar o artigo Computing Machinery and Intelligence, onde suscitou o questionamento: “As máquinas podem pensar?” Era o presságio do machine learning, que a engenharia dessa inteligência solidifica dia após dia.

As sementes foram plantadas lá no passado e surgem, hoje, como um eclipse raro e transformador das relações humanas e de trabalho tradicionais. Em 1966, o MIT desenvolveu o primeiro robô inteligente, o ELIZA, que simulava uma conversa com um psicoterapeuta. As décadas de 70 e 80 foram consideradas os “invernos da IA”, períodos de promessas exageradas e poucos resultados práticos. Já em 1997, o Deep Blue, máquina da IBM, venceu o campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, estabelecendo um marco simbólico da potência emergente da IA.

Em 2022, com a popularização do ChatGPT e o boom da IA generativa, vivenciamos um marco revolucionário — comparável à descoberta do fogo na pré-história. Aliás, futuristas afirmam ser esse o estágio atual da IA.
O momento é epidêmico. Ferramentas e agentes de IA têm comportamento viral e se proliferam de maneira desordenada e canibalizante. É uma realidade que veio para tumultuar. Virou de ponta-cabeça indústrias que estavam em inércia evolutiva ou acomodadas. Na esfera profissional, a carteira de trabalho se aposenta no museu, e nossos filhos prestarão vestibular para ofícios que nem existem ainda — ou, se são tradicionais hoje, talvez não tenham tanta sorte de existência num futuro próximo.

Essa grande teia digital, associada aos arcabouços da dark web, compõe os insumos que se misturam em uma frenética betoneira — sem o auxílio de uma torre de resfriamento à vista.

Nesse estágio pré-histórico, não nos resta outro caminho além de sobreviver à areia movediça desse novo vetor, mesmo sabendo que ele será a base de concreto do futuro.

Obs.: Este artigo demorou duas horas para ser escrito sem a utilização de inteligência artificial. Com IA, demandaria, no máximo, alguns segundos — ainda que com outra abordagem. É aí que reside o cerne da questão.

 

*Rodrigo Haviaras Cancellier é catarinense, natural de Florianópolis. Manezinho da Ilha, é formado em Administração pela ESAG – Escola Superior de Administração e Gerência, com MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas e curso de extensão em Data Science e Big Data pelo MIT. Entusiasta das áreas de comunicação e marketing, atua como vice-presidente da ADVB/SC. É sócio-fundador da 9MM Comunicação e acumula mais de 25 anos de experiência no mercado.

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