(*) Por André Bernert
“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha junto é o começo da realidade”. A célebre frase de Miguel Cervantes expressa uma verdade que, constantemente, tem sido observada na história da humanidade. Quando líderes habilidosos conseguem comunicar seus sonhos a outros e contagiá-los, dão início a um processo que pode culminar em grandes mudanças.
Isso também é verdade no mundo dos negócios, tanto no relacionamento com as equipes quanto com os clientes. As empresas precisam entender quais clientes farão delas um sucesso. Apenas interessados em seus produtos podem garantir receita, mas não garantem o cumprimento de objetivos. Cada empresa precisa saber, na medida correta, até onde a necessidade de faturamento sobrepõe seus objetivos estratégicos e organizacionais.
No âmbito das relações trabalhistas, uma empresa que compartilha e envolve seus colaboradores em um objetivo comum conta com profissionais engajados e comprometidos, ao passo que empresas que simplesmente recrutam pessoas para uma relação de troca (trabalho x dinheiro) acabam com profissionais sem paixão, interessados apenas no pagamento.
A importância dos sonhos
No mundo moderno, orientado ao “maior lucro para o acionista”, falar em sonhos pode parecer fora de contexto. Quando olhamos a prática, entretanto, percebemos que as maiores empresas e as maiores mudanças foram provocadas por sonhos.
Conquistas como as dos Irmãos Wright, que realizaram o primeiro voo de avião da história, e como a de Martin Luther King, que catalisou grandes mudanças no Movimento Americano pelos Direitos Civis, giram em torno de sonhos. A maior empresa de tecnologia do mundo moderno, a Apple, conquistou sua posição através de seguidores fiéis, que não somente estavam interessados em produtos que solucionassem um problema, mas que os aproximasse de um grande sonho idealizado por seu fundador, Steve Jobs.
Voando para o sucesso
A bordo de sua primitiva aeronave, batizada de Flyer, os irmãos Orville e Wilbur Wright realizaram o primeiro voo com uma máquina mais pesada que o ar, em 1903.
Em 1896, Samuel PierpontLangley já havia construído um avião a vapor não tripulado, considerado impróprio para voo. Anos mais tarde, fez outra invenção sem sucesso e, com a experiência assertiva dos irmãos Wright, Langley abandonou seu projeto.
A grande diferença das conquistas dos irmãos Wright e de Langley – que tinha elevada instrução acadêmica e recursos financeiros para suportar os altos investimentos – consistia na dedicação dos irmãos, que eram mecânicos de bicicleta e custearam seus projetos com dinheiro próprio. O grande combustível de seus esforços: o sonho de mudar o mundo com uma máquina fantástica.
“Eu tenho um sonho”
Com o célebre discurso “Eu tenho um sonho”, o pastor e ativista americano Martin Luther King representou um marco na luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos e no mundo. De forma apaixonada, o pastor defendeu seu sonho de igualdade, tornando-se posteriormente a pessoa mais nova a receber o Prêmio Nobel da Paz.
King não afirmou “eu tenho um plano” ou “eu tenho uma proposta”. Ao invocar uma realidade utópica e apresentá-la como factível e palpável, proferiu um dos mais motivadores discursos da história, eleito o melhor do século XX em seu país.
Colhendo os frutos
O caso mais emblemático da história empresarial recente, em que tanto clientes como funcionários são envolvidos por uma visão de futuro contagiante e poderosa é o caso de Steve Jobs e sua empresa Apple. Jobs conseguiu se tornar um dos maiores comunicadores da história recente, com discursos bem orquestrados e com grande carga emocional, construindo verdadeiros dramas a partir de sua visão da tecnologia, criando um mundo melhor.
Ao envolver o público em seus sonhos, Jobs criava com maestria verdadeiras apresentações teatrais, completas com momentos de suspense (a apresentação de novos produtos) e antagonistas (seus concorrentes). O resultado? A maior empresa de tecnologia do mundo, cultuada por um séquito de consumidores leais e funcionários realizados, que têm a sensação de trabalhar na melhor empresa do mundo. Seus produtos, individualmente, não são os mais baratos, nem os mais vendidos. Muitas vezes, sequer são conceitos inéditos. Mesmo assim, seus resultados, de forma conjunta, são os melhores do mundo.
Negócios ou sonhos?
Qualquer empresa pode realizar negócios. Mas as empresas que aprendem a vender seus sonhos, envolvendo seus clientes e colaboradores de uma forma apaixonante, obtém resultados impressionantes em prazos mais impressionantes ainda. Saber o quê e como vender, e para quem, torna-se mais importante do que simplesmente vender.
E qual o perfil de sua empresa? Ela está simplesmente fazendo negócios ou está realizando sonhos?
(*) André Bernert é vice-presidente da ABRADi-SC (Associação Brasileira de Agentes Digitais Santa Catarina) e sócio-proprietário da Clint.Digital.