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Pai é quem cria
09 de Maio de 2013

Pai é quem cria

Por Ligia Fascioni 09 de Maio de 2013 | Atualizado 03 de Dezembro de 2021
Fotografia: Studio Furia Fotografia: Studio Furia

Já é a terceira vez essa semana que leio comentários de diferentes pessoas nas redes sociais reclamando que alguém roubou sua ideia e ficou rico. “Fulano pegou a minha ideia e agora está ganhando um monte de dinheiro” brada um revoltado; “dei uma ideia na sala de aula, um colega pegou e montou um negócio; nem se lembrou de me pagar” reclama outro; “já estou de saco cheio de ter neguinho ganhando dinheiro nas minhas costas, às custas das minhas ideias”, finaliza uma terceira.

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Mas, gente, ter ideias é a parte mais fácil e prazerosa. É como fazer sexo, sabe? Algumas pessoas têm um talento natural para a coisa; outras preocupam-se em desenvolver técnicas, empenham-se, praticam bastante e conseguem excelentes resultados. Há aqueles que dão até uma ajudinha para a natureza e outros que levam a coisa tão a sério que viram amantes profissionais. Mas é isso. Não dá para achar que o mundo lhe deve algo por causa desse “esforço”.

Uma ideia, sem sua materialização, não é nada. Na verdade é: prazer, brincadeira, exercício, interação. Mas a materialização é que cria o fato e talvez (apenas talvez) gere riqueza.

Ter ideias e não levá-las adiante é como ter filhos e largá-los pelo mundo. A parte chata, de empreender, é justamente aquela que ninguém quer: arranjar dinheiro para alimentar o neném e fazê-lo crescer; passar as noites em claro quando as coisas não vão bem; colocá-lo na escola e levá-lo ao médico; reunir um time de profissionais que vão da professora de inglês até o pediatra e bancar os gastos; aguentar as crises da adolescência; cuidar 24 horas por dia, com todo cuidado, carinho e amor durante anos. Isso tudo sem ter a mínima garantia que vai dar em alguma coisa. Pode surgir daí um Paul McCartney ou um Barak Obama. Ou uma Apple. Mas também pode ser uma Amy Winehouse. Ou o fulaninho que voltou do intercâmbio sem aprender nada. Não há como saber.

Os investidores (pais e mães) não podem adotar todas as crianças do mundo abandonadas por pais prolíficos em ideias, mesmo que sejam muito ricos. Precisam escolher onde vão apostar toda sua dedicação, pois sabem que o risco é altíssimo e parte importante do resultado vai depender do quanto vão se empenhar de verdade na tarefa.

Aí vêm os pais biológicos, que só participaram na hora da festa, e querem ser chamados de pais da criança quando a coisa dá certo?

“Ah, mas se não fosse a minha ideia o negócio não teria nem nascido”. Não pensam que sem o investidor que adotou o rebento, o pobre teria morrido de inanição ainda no berço. Não querem dividir os prejuízos quando o negócio não dá certo, não querem trocar fraldas quando precisa. Não querem correr o risco de investir seu precioso tempo na tal ideia esplendorosa. Não têm paciência para cuidar de crianças, mas querem colher os frutos do sucesso alheio.

Ah, vá. Ficam fazendo filhos, abandonam por aí para os outros criarem e ainda querem ter direitos.

Não têm não, viu? No máximo, uma bolsa família.

E olhe lá.

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