Premiada no edital Elisabete Anderle, exposição fotográfica do cineasta Marco Martins será exibida a partir do dia 28 de novembro no Espaço Cultural do BRDE e mostra o processo de reconstrução da paisagem a partir do resíduo e da ruína
O projeto Lugar Abandono, realizado pela Vinil Filmes, surgiu a partir da descoberta, por Marco Martins, de uma saco plástico jogado na calçada, no Centro da cidade, contendo dezenas de filmes fotográficos das décadas de 1970 e 1980, todos vencidos, mas ainda virgens. Eram cinco tipos de negativos: 10 filmes Orwo Panchromatic 135-36, PB, fabricados na Alemanha; 18 filmes Kodak Verichrome pan 126-20, PB; 5 filmes Kodak Kodacolor 110, color, fabricados no México; 17 filmes 3M 126-24, color, fabricados na Itália; e 3 filmes Kodak Kodacolor 110, PB, fabricados em USA.
A partir daí, Marco iniciou uma jornada de pesquisa. Testou alguns dos filmes e, ao apreciar o resultado das revelações, viu-se mergulhado num processo de criação acidental: o que saía impresso na película não dependia exclusivamente do fotógrafo, da luz e do objeto. O tempo (e a consequente degradação do negativo) se tornara o principal agente no processo de construção pictórica.
A casualidade foi assumida, então, como elemento primordial na criação das imagens. Com o projeto premiado pelo edital Elisabete Anderle, Marco Martins e sua mulher, a também cineasta Loli Menezes (atuando como produtora), pegaram o que restou dos 53 filmes e realizaram uma viagem pelo interior de Santa Catarina (e também pelo interior da Ilha de Santa Catarina), fotografando (e também filmando) prédios em ruínas, casas vazias, fábricas esquecidas pelo tempo, cemitérios de automóveis, empreendimentos largados ao meio. O resultado da viagem pode ser conferido nas 25 fotos ampliadas que compõem a exposição Lugar Abandono, até o dia 20 de dezembro, no Espaço Cultural do BRDE.
Depoimento Marco Martins
“Lugar Abandono é a minha primeira exposição fotográfica. Não me considero um fotógrafo profissional, das imagens estáticas. Sou um cineasta. Trabalho com a imagem em movimento, faço cinema de ficção, documentário, lido com atores, equipes, entrevistados, cenários, figurinos… existe um trabalho descomunal, coletivo e complexo entre ter a ideia e ver a obra concluída. No ofício do fotógrafo, existem alguns atalhos no processo, pois as decisões que envolvem o clicar estão destinadas a uma única pessoa. Essa pessoa olha para os lados, aponta a câmera, enquadra e clica. Eis a obra. A pintura. Aqui já estou falando de Lugar Abandono. Não estou filosofando sobre fotografia de moda ou de comerciais impressos. Estou falando de arte e de registrar o tempo e o lugar em que vivo. Escombros, ruínas e esquecimento. Para sempre na memória.”
Depoimento Loli Menezes
“Quando Marco chegou em casa com uma sacola cheia de filmes fotográficos vencidos, parecia que trazia um tesouro encontrado em um baú, enterrado por piratas. Eu logo sugeri a ele que fizéssemos um projeto para fotografar e expor esses filmes. Primeiro vieram os testes, uma viagem à Santa Maria, um aniversário na Lagoa do Peri, um passeio na Av. Beira-Mar com a nossa filha e minha avó. Na revelação a surpresa: um misto de memória, degradação, um tempo passado num momento presente. A partir daí resolvemos elaborar um projeto que remetesse ao abandono e, então, Lugar Abandono nasceu, do lixo para as paredes de uma galeria.”
Exposição Lugar Abandono, do cineasta Marco Martins
– 28 de novembro, às 19h.
– Av. Hercílio Luz, 617 – Centro, Florianópolis